Descansai um pouco!

Dom Murilo S.R. Krieger, scj

Arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil

 

Os líderes vivem, normalmente, uma vida estressante. Sentem cansaço permanente diante das atividades, desafios e exigências que se multiplicam cada dia. Como dar conta de tudo? Como se atualizar? Como não se cansar? Se um líder não descansa, fica doente; se não se atualiza, fica repetitivo; quando se trata de um líder religioso, se não reza, torna-se uma pessoa sem entusiasmo e alegria.

O problema não é novo e o Evangelho se refere a ele. Jesus quis que os apóstolos saíssem e fossem por toda a parte, para ensinar o que haviam aprendido. Eles partiram e, quando voltaram, contaram o que tinham feito e ensinado. Nesse meio tempo, foi chegando gente de todas as partes à procura de Jesus e dos apóstolos. Vendo, contudo, que os apóstolos estavam cansados e famintos, o Mestre lhes fez uma proposta: “Vinde, a sós, para um lugar deserto, e descansai um pouco!”.  Então, entraram todos num barco e foram para um lugar deserto (Mc 6,30-32).

É necessário que, periodicamente, façamos o mesmo. E, em nosso “deserto”, procuremos responder a algumas perguntas:

1ª – O que estou fazendo, que não precisaria ser feito? Para iluminar nossa reflexão, lembremo-nos da advertência de Jesus, em Betânia: “Marta, Marta, tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas…” (Lc 10,41).

2ª – O que estou fazendo, que poderia ser feito por outra pessoa? Facilmente nos julgamos tão importantes que acabamos menosprezado quem trabalha conosco. Pensamos: Ele não saberá fazer este trabalho tão bem como eu! Também aqui Jesus nos ensina: tendo uma multidão faminta diante de si, ordenou aos apóstolos: “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Lc 9,13). Eles não conseguiram solucionar o problema. Apresentaram-lhe, contudo, cinco pães e dois peixes que, abençoados pelo Mestre, multiplicaram-se, alimentando a multidão. Que alegria para aqueles pobres pescadores, por terem colaborado, mesmo que de forma simples, para a realização do milagre!

3ª – O que estou fazendo, que só eu posso fazer? Após a ressurreição de Cristo, quando perceberam que não poderiam dar conta de todos os trabalhos, os apóstolos escolheram homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, e lhes confiaram a tarefa da distribuição dos alimentos. E completaram: “Deste modo, nós poderemos dedicar-nos inteiramente à oração e ao serviço da Palavra” (At 6,4).

4ª – O que eu deveria fazer, que não estou fazendo? Voltemos a Betânia, e demos a palavra a Jesus: Marta, Marta, “uma só coisa é necessária…” (Lc 10,42).

Somente com uma séria revisão de nossas atividades, e de nossa maneira de enfrentá-las, poderemos dar um passo de qualidade em nossa vida. Se não, seremos submergidos pela rotina, pelos compromissos e pelo cansaço.