Diário de Bordo: Ir. Dulce aclamada na Polônia

Por Dom Gilson Andrade da Silva

Bispo auxiliar da Arquidiocese de Salvador

Cracóvia, 28 de julho de 2016

IMG_3760As manhãs de quarta a sexta são reservadas às catequeses na JMJ. Hoje também não foi diferente. Dessa vez fui com D. João Justino, de Belo Horizonte, a um lugar chamado Frydrychowice, a 60 km de Cracóvia. Ficamos felizmente surpresos quando vimos que a pequena aldeia estava depois de Wadowice, cidade natal de S. João Paulo II. E já começamos a planejar “dar um pulinho” na volta.

Chegando à localidade fomos calorosamente acolhidos pelo pároco e seu vigário. Aliás, estamos todos tocados pela acolhida gentil dos poloneses. Ofereceram um bom café, feito ao estilo local, água quente sobre o pó de café, na própria xícara, além das famosas salsichas.

Na Paróquia dos Santos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael, D. Justino fez a catequese e eu presidi a Eucaristia com a participação alegre e fervorosa dos nossos jovens. O tema do dia era a reconciliação a partir do Evangelho do Filho Pródigo. Ao término da missa fomos convidados pelo pároco para almoçar com os jovens na “casa da cultura” do lugar. A comida é quase sempre acompanhada de sopa. Dessa vez tinha arroz para acompanhar a sopa, em homenagem aos brasileiros.

Terminado o almoço, às 13h, voltamos a Cracóvia não sem antes passar em Wadovice, a cidade que viu nascer o grande João Paulo II. Sua casa atualmente foi transformada num interessante museu, com recursos interativos e inumeráveis fotos que contam sua vida, além dos objetos e vestes que descrevem a trajetória fecunda de toda a sua vida. Uma fila enorme diante da porta e nós com pouquíssimo tempo, pois tínhamos que estar antes das 15h em casa para ir com os demais bispos para o lugar da acolhida do Santo Padre. Os seminaristas que nos acompanhavam explicaram que se tratava de dois bispos sem tempo e gentilmente nos deixaram passar.

Certamente é uma graça pisar nesta terra que ofereceu grandes personagens para a Igreja. A imagem da casa me fez pensar na importância de uma família com profundas convicções cristãs. Na Polônia se respira um clima de prática da fé bem difundida e isso se sente na vida das famílias.

De Wadovice não tivemos tempo de ver nada além da casa natal do santo. Porém ficou o desejo de retornar para saborear um pouco mais do que vimos com pressa. Ao passar pelos cômodos da casa rezava a São João Paulo II pelos jovens e pelas famílias, suas duas grandes paixões.

De volta a Cracóvia, às 15h, os bispos foram se reunindo para o transporte que nos levaria até o lugar da acolhida do Papa pela juventude. Nesses eventos com o Papa sempre se chega com certa antecedência para garantir a organização. O interessante desses momentos é que se oferece a oportunidade de conhecer realidades muito diferentes de situações variadas da Igreja no mundo. No ônibus que nos conduziu ao lugar do evento fui sentado com um bispo da Igreja grego-católica da Romênia que me falou sobre a situação da Igreja no país e contou história dos bispos mortos no cárcere durante o regime comunista no país e do belo testemunho dos católicos naquele país.

Uma chuva suave caía, mas insistente. Todos os bispos e cardeais passaram pelo rigoroso sistema de revista devido à segurança do lugar. Com capas e guarda-chuvas seguimos em direção do lugar que nos fora reservado e ali ficamos esperando pela chegada do Santo Padre. O tempo passou rápido, pois a animação dos jovens contagiava o coração. Acompanhamos a chegada do Papa pelo telão. Ele saiu da residência do Cardeal e entrou num bonde elétrico acompanhado de jovens portadores de deficiência e assim se dirigiu até o lugar do encontro. A animação estava grande no ambiente com música de estilo jovem. Ouvi o comentário de um bispo estrangeiro sentado ao meu lado: “sou de outra época e acho muito barulhenta essa música”. Rimos sobre o assunto e a música continuava com toda a força.

Foi ao som de um tango cantado em polonês que o Papa apareceu no palco do lugar. A partir dali se desenvolveu a cerimônia de abertura que todos puderam acompanhar pelos meios de comunicação. Ouvimos muitos comentários sobre a beleza do momento. Houve um destaque para o tema da santidade: os santos da misericórdia e os santos jovens, pois os santos são os bem-aventurados do Evangelho.

Confesso que fiquei emocionado quando ouvi gritar nos autofalantes: “Ir. Dulce” e vi entrar a sua figura desenhada no estilo dos desenhos dos santos da JMJ em Cracóvia. Imediatamente um bispo espanhol que estava perto de mim me perguntou: quem é esta? E comecei a falar de Ir. Dulce para ele e depois para outro.

O Santo Padre na sua fala usou da boa didática do diálogo com a plateia e fez com que os jovens respondessem a algumas perguntas e afirmassem coisas que ele considerava importante. O texto pode ser encontrado em tantos sites, mas o diálogo vivemos os que ali estávamos. Uma palavra do Papa me tocou e com essa palavra voltei para casa: “Jesus Cristo é aquele que dá paixão à vida”. E esta palavra foi confirmada com o canto famosos das Jornadas “Jesus Christ, you are my life” que ficou ressoando no lugar durante muito tempo enquanto bandeiras de todos os países eram agitadas e os jovens voltavam para seus alojamentos e casas.

Até amanhã!

Confira as fotos!