Dom Murilo agora é cidadão laurofreitense

O Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, recebeu ontem (21) o Título de Cidadão Laurofreitense. O evento aconteceu no Teatro Municipal de Lauro de Freitas – Região Metropolitana de Salvador e, na ocasião, os padres Rogério Marcos da Silva (Paróquia Santo Antônio, em Portão) e José Maria Casaes Martins, O. Praem (Paróquia Santo Agostinho, em Areia Branca).

Confira, abaixo, as palavras pronunciadas por Dom Murilo durante o evento:

Câmara Municipal de Lauro de Freitas

Concessão do Título de Cidadão Honorário

Dom Murilo S.R. Krieger, scj

Arcebispo de São Salvador da Bahia – Primaz do Brasil

 

  1. Ao receber o convite para participar desta Sessão da Câmara Municipal, em que me seria concedido o título de Cidadão Honorário de Lauro de Freitas, perguntei-me: a que comparar este gesto dos representantes do povo desta cidade? A melhor resposta que encontrei para minha pergunta foi a palavra “aliança”.
  2. “Aliança”, segundo o Dicionário Aurélio, é o ato ou efeito de aliar-se; é um ajuste, um acordo, um pacto. Pode-se dizer, pois, que uma aliança é um pacto entre duas pessoas ou entre duas instituições; ou entre uma pessoa e uma instituição. Hoje, nesta Câmara Municipal, sela-se uma aliança entre um Município – o de Lauro de Freitas – e eu, um catarinense que há oito anos tem andado por estas terras baianas.
  3. Numa aliança, há compromissos que cada uma das partes assume. Que compromissos o Município de Lauro de Freitas assume comigo? E que compromissos eu assumo com o Município de Lauro de Freitas?
  4. Espero interpretar bem o pensamento dos Senhores Vereadores desta Casa ao dizer que a cidade de Lauro de Freitas está querendo me assegurar: “Dom Murilo, esta cidade passa a ser sua. Nossas portas e corações estarão sempre abertos para acolhê-lo. Queremos que se sinta em casa, sempre que vier aqui.” Por outro lado, os filhos desta terra estão esperando que eu me comprometa sempre mais com as alegrias e as esperanças, as tristezas e angústias do povo que aqui vive. Por sinal, esse povo tem uma longa e bela História, que quase se confunde com a de Salvador. Já em 1552 os índios tupinambás acolheram os primeiros portugueses, tendo à frente Garcia D´Ávila, que havia acompanhado a expedição de Tomé de Souza e aqui se estabeleceu como fazendeiro. A Freguesia de Santo Amaro de Ipitanga passou a ter uma História marcada pelo trabalho, pela descoberta das belezas naturais da região e por um povo que vinha de diferentes lugares para aqui se estabelecer. Em 1962 foi criado o Município de Lauro de Freitas, cujo nome, segundo fui informado, é uma homenagem a um engenheiro ferroviário falecido em 1950 num desastre aéreo. A partir daí, passou-se a escrever uma História que as senhoras e os senhores conhecem melhor do que eu, pois fazem parte dela – afinal, aqui vivem e trabalham, lutam, se alegram e sofrem
  5. Cabe-me, começando a cumprir a minha parte na aliança que estabeleço com Lauro de Freitas, apresentar-lhes alguns valores que deverão ser cultivados para tornar esta cidade um lar de todos, um lugar onde todo mundo se sinta bem.
  6. Em primeiro lugar, cultivem o espírito de acolhida; mais: criem uma “cultura da acolhida”. Não é difícil entender a razão: uma grande parte da população que aqui mora veio de fora ou é filho ou filha de alguém que aqui veio morar. Outros ainda virão, atraídos pelas oportunidades de trabalho, pela beleza de suas praias ou pelo carinho deste povo. Como, pois, não estender as mãos em direção do desconhecido que chega? Sim, façam de Lauro de Freitas um modelo de cidade onde se multipliquem laços de amizade, se aceite o diferente e se conviva em harmonia com pessoas de outras religiões, raças ou situação social. Santo Amaro, que era um beneditino, aprendeu do Fundador de sua Ordem, São Bento, a regra: “Quando chega uma pessoa, é preciso acolhê-la bem pois, nela, é Jesus que chega!”
  7. Outro valor a ser cultivado sempre mais é o da criatividade. São muitos os desafios de Lauro de Freitas; maiores, pois, devem ser as iniciativas para superá-los. Sei que são muitos os que, nos mais variados campos, buscam resposta para as necessidades da cidade. Se pensarmos, por exemplo, nas questões sociais, vamos nos lembrar de inúmeras entidades direcionadas para aqueles que, sozinhos, não conseguiriam sair da difícil situação em que se encontram. Se nos debruçarmos sobre o campo religioso, como não recordar pessoas que, quais velas permanentemente acesas, desgastam-se para iluminar outras vidas? É o caso de sacerdotes, de religiosas ou leigos que, admiráveis em sua dedicação, se multiplicam para conseguir fazer o que lhes é possível. Grupos de outras religiões poderiam nos falar, de pessoas que vivem a sua fé e que procuram fazer sempre o melhor para esta cidade. O desafio que continua: vivendo numa sociedade em que novos problemas e necessidades surgem a cada dia, é preciso ser muito criativo para que Lauro de Freitas seja um renovado espaço de vida, e vida digna para todos.
  8. Um terceiro valor que é necessário cultivar nesta cidade é a alegria. Desde meu primeiro encontro com as pessoas desta cidade vi que aqui mora um povo alegre. É uma virtude saber enfrentar as dificuldades sem se deixar abalar. É uma graça manter a capacidade de humor mesmo em momentos de tensão, de dor ou de decepção. O desafio que continua: fazer com que se concretize o desejo de Jesus: “Que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa” (Jo 15,11). Ninguém pode ser excluído da alegria de conhecer e acolher a Boa Nova. Todos os filhos e as filhas de Deus têm o direito de fazer uma experiência do amor e da misericórdia de Jesus.
  9. Poderiam falar também de outros valores que podem e devem ser cultivados por vocês. Fico nesses três, com um lembrete: valores não são peças de museu, que se guardam cuidadosamente. Só temos os valores que continuamente cultivarmos. Portanto, a cidade e Lauro de Freitas não tem o direito de se deitar sobre as conquistas já obtidas.
  10. É hora de agradecer. O agradecimento é uma virtude nobre. Mas o ato de agradecer encerra um risco: o de fazermos uma longa lista de pessoas que merecem uma menção especial, e nos esquecermos justamente de alguém que mereceria até um destaque particular.
  11. Um obrigado, um muito obrigado, a esta Câmara Municipal, que quis me distinguir oficialmente com um título que o povo, com sua maneira de me tratar, já havia me dado: o de filho desta cidade. Muito obrigado, Senhora Presidente, Vereadora Naide Brito; muito obrigado, Senhores Vereadores, pelo título que me concederam.
  12. Obrigado a todos os que aqui vieram, que representam os muitos amigos que tenho em Lauro de Freitas. Estejam certos de que, se fosse possível, retribuiria esse gesto com uma visita à casa de cada um de vocês.
  13. Meu agradecimento final é dirigido ao Pai eterno. E, para fazê-lo, utilizo-me das palavras que o apóstolo Paulo usou na carta que escreveu aos Romanos: “Glória seja dada àquele que tem o poder de vos confirmar na fidelidade ao meu evangelho e à pregação de Jesus Cristo, de acordo com a revelação do mistério mantido em sigilo desde sempre. Agora este mistério foi manifestado e, mediante as Escrituras proféticas, conforme determinação do Deus eterno, foi levado ao conhecimento de todas as nações, para trazê-las à obediência da fé. A Deus, o único sábio, por meio de Jesus Cristo, a glória, pelos séculos dos séculos. Amém!” (Rm 16,25-27).

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