Em coletiva de imprensa, Dom Murilo falou sobre a canonização de Irmã Dulce

Coletiva aconteceu na sede das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), em Salvador.

Irmã Dulce será proclamada Santa! Este anúncio, divulgado oficialmente na manhã desta terça-feira (14), foi apresentado aos jornalistas durante coletiva de imprensa realizada nas Obras Sociais Irmã Dulce (OSID). Estiveram presentes o Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, a superintendente da OSID, Maria Rita Lopes Pontes, que também é sobrinha de Irmã Dulce, o médico perito do Hospital Santo Antônio, Sandro Barral, e as Irmãs da Congregação da Imaculada Conceição da Mãe de Deus.

Antes da coletiva, Dom Murilo convidou os presentes a rezaram o Magnificat (canto entoado por Nossa Senhora ao encontrar sua prima Isabel, para contar-lhe que estava grávida). “Todos nós fomos tomados pela alegre surpresa. Sabíamos que tudo isso estava bem adiantado, mas não sabíamos que em ‘tal dia’ o milagre seria reconhecido”, disse Dom Murilo.

O Arcebispo recordou, ainda, os passos até a canonização. “Depois da beatificação, quem é declarado bem-aventurado, pode ser venerado no lugar onde nasceu, onde viveu, onde morreu, ou onde estão as suas religiosas, ou seja, onde houver religiosas, a sua congregação nas diversas casas pode honrá-la. Então, é um culto limitado. Todos estávamos esperando um segundo milagre. O primeiro foi para a beatificação e agora o segundo foi para a canonização, por que quanto ao estudo das virtudes, que ela tinha virtudes de grau heroico, isso tudo já estava bem claro e definido”, disse.

“Haviam vários testemunhos de milagres, pessoas que escreviam, que vinham aqui, que mandavam às vezes vídeo ou áudio, e isso tudo era estudado para ter a consistência, por que o milagre para ser reconhecido tem algumas características. A primeira coisa: tem que ser instantâneo, algo que as ciências não explicam. Por isso, o milagre não é estudado antes de cinco anos, para ver se realmente tem consistência aquele fato”, esclareceu Dom Murilo.

Dentre os milagres estudados, um foi a causa da canonização de Irmã Dulce. “O milagre é algo ligado a um problema de visão. Foram colhidos testemunhos de médicos, de pessoas que conheciam esta pessoa que recebeu o milagre. Enfim, foi feito um processo muito bem elaborado, e esse processo foi encaminhado para Roma. Em Roma, um fato como este passa por uma primeira comissão, que é a comissão de médicos especialistas naquele campo da saúde em que houve algo extraordinário. Não importa se o médico é católico, de outra igreja ou ateu, o que importa é que ele seja especialista na matéria e que possa testificar que, realmente, não há uma explicação científica para aquele acontecimento. A maioria dos fatos não é aprovada por esta comissão”, afirmou o Arcebispo.

A segunda etapa desse processo acontece quando o fato é direcionado a uma comissão de teólogos, que é mais severa do que a comissão de médicos, já que alguns precisam tentar provar de que não houve nada de extraordinário, não houve milagre. Após passar por esta comissão, o caso é levado para uma comissão formada por cardeais, que estuda o parecer dos médicos e dos teólogos e apresenta um parecer para o Papa. “E isso é o que foi feito ontem. Então, o Papa aceitou e permitiu que esta notícia fosse publicada, mas haverá agora em julho o chamado Consistório, quando o Papa convoca, oficialmente, os cardeais para anunciar de quem foram reconhecidos os milagres e então é marcada a data da canonização”, disse Dom Murilo.

“Quando a Igreja declara alguém como santo, é para ser testemunho para nós de que é possível seguir Jesus”, afirmou Dom Murilo.

Segundo o Arcebispo, “a canonização, formalmente, acontece em Roma e é presidida pelo Papa. Excepcionalmente é fora de Roma, mas, mesmo assim, sempre presidida pelo Papa. Somente a partir da Missa de Canonização, o Papa proclama e entra no catálogo dos santos é que se pode chamar Santa Dulce dos Pobres, e que se poderá celebrar Missa em qualquer lugar do mundo. Já não será mais um culto restrito, mas em qualquer parte”, afirmou Dom Murilo.

É importante ressaltar que, a canonização, em Roma, é sempre no domingo. No dia seguinte, em uma Igreja, também em Roma, será celebrada a primeira Missa em honra da santa e esta Missa será presidida pelo bispo diocesano, neste caso Dom Murilo. Já no domingo seguinte à canonização, será celebrada, em Salvador, a primeira Missa oficial da santa.

O milagre

Para falar sobre o milagre que levará Irmã Dulce aos altares estava presente o perito médico Sandro Barral, que foi quem primeiro avaliou o miraculado. “O milagre da Irmã Dulce está aqui todos os dias, nesta obra maravilhosa que ela deixou de legado. Sobre o caso do miraculado, é uma coisa emocionante e inexplicável, que foi avaliado por peritos médicos e é realmente extraordinário. Quando todos puderem ter acesso ao caso, vocês irão entender do que eu estou falando”, disse.

“É um paciente que tinha a visão normal, ficou cego e permaneceu assim por 14 anos. Em um momento de muita dificuldade, com a doença aguda, ele pediu a ajuda de Irmã Dulce para aliviar o sofrimento e, no dia seguinte, ele acordou enxergando. E permanece enxergando!”, contou o médico. De acordo com ele, os exames são de um paciente cego, mesmo ele já enxergando. “Os exames mostram uma visão extremamente comprometida. Ele era uma pessoa que andava com cão-guia e agora enxerga normal. A doença dele começou no ano de 1998 e ele foi, progressivamente, perdendo a visão”, contou o médico.

Para Maria Rita, sobrinha de Irmã Dulce, a notícia é uma verdadeira graça. “Nós já esperávamos, mesmo sabendo que foi tudo muito rápido. Esse caso, quando puder ser divulgado, ele vai ser um caso de superação. Não só por ter preenchido os três requisitos de um milagre: instantâneo, duradouro e que a ciência não explica, mas um caso de superação da pessoa, que tem muita  fé, muita força, muita resiliência. E eu acho que a gente deve se espelhar, também, na vida dessa pessoa, para que quando a gente estiver em um momento de dificuldade possamos confiar em Deus. Ele é uma pessoa muito católica, que participa ativamente da vida da Igreja”, afirmou.

Quem também estava feliz com a notícia foi a Irmã Leonilda Cipriano, da Congregação das Irmãs da Imaculada Conceição da Mãe de Deus. “Para nós, este momento está sendo de grande alegria para toda a congregação, tanto aqui no Brasil quanto nas casas que estão localizadas em outros países. É uma honra muito grande termos em nossa congregação uma Irmã que se fez grande missionária e que se fez santa do povo brasileiro e do mundo inteiro”, disse.

Texto e fotos: Sara Gomes / Arquidiocese de Salvador