TE DEUM pelo 2 de Julho

Igreja de S. Pedro dos Clérigos

Salvador, 01.07.15

Dom Murilo S.R. Krieger, scj

Arcebispo de São Salvador da Bahia

 

 

  1. A passagem do Evangelho de S. Lucas que acabou de ser proclamada (Lc 2,41-51) coloca diante de nós o comportamento da Mãe de Jesus diante de uma experiência que ela estava vivendo e que ultrapassava a sua capacidade de compreensão imediata: Ela conservava no coração todas estas coisas.
  2. Queremos fazer o mesmo – aliás, aqui estamos, porque guardamos em nosso coração momentos importantes, momentos decisivos na História de nossa Pátria. E tais momentos decisivos aconteceram aqui, neste chão, nesta terra que pisamos.
  3. São lembranças, é verdade, de um passado distante. Mas são lembranças envolvidas por vidas sacrificadas, por sofrimentos, por incertezas vividas por irmãos e irmãs nossos que, de repente, viram sua vida e seus ideais de liberdade ameaçados. Deixaram de lado, então, a rotina do trabalho e empunharam as armas para garantir a paz.
  4. Os que sobreviveram aos difíceis dias das lutas que culminaram naquele 2 de julho experimentaram a alegria da vitória. Podiam, então, dizer: Eu contribuí para manter a unidade do meu país! Estes bravos são lembrados quando cantamos: Nasce o sol a 2 de julho / brilha mais que no primeiro…/ Nossa pátria hoje livre/ dos tiramos não será.
  5. É motivo de orgulho para todos nós tomar consciência da participação da Bahia na luta pela emancipação política do Brasil. Sabemos que este nosso Estado foi o principal palco das guerras da independência; foi o local onde o conflito durou mais tempo (cerca de um ano e meio); aqui se mobilizou pela causa da independência o maior contingente de pessoas.
  6. Sabemos que o risco da divisão do território brasileiro era real. Poderíamos ter, hoje, dois países. Afinal, com a resolução do príncipe regente de permanecer no Brasil, desobedecendo as determinações das cortes de Lisboa, e a tentativa frustrada dos militares portugueses de levá-lo a Portugal, a metrópole portuguesa concentrou em Salvador todos os seus esforços militares. Era projeto de Portugal dividir o Brasil em duas regiões: o sul e o sudeste permaneceriam sob a direção de Dom Pedro I; e o norte e o nordeste, sob o domínio português.
  7. Foi graças às lutas dos baianos que a divisão do Brasil não ocorreu. No dia 2 de julho de 1823 – finalmente! – as tropas portuguesas foram expulsas daqui.
  8. Esses fatos nem sempre são contados nos livros da História do Brasil que são usadaos nas escolas. Cabe à Bahia e aos baianos recordar ao Brasil o feito daqueles que, aqui, nesta terra que pisamos, deram sua vida para que a unidade do país fosse mantida.
  9. Nossos antecipados de quase 200 anos atrás fizeram a sua parte. Mas não podemos nos fixar somente na História construída por eles. Há muito trabalho pela frente; há muitos desafios que precisam ser superados; há inúmeras iniciativas que devem ser tomadas para mantermos e consolidarmos a independência de nosso povo. Afinal, um povo só é livre quando tem seus direitos fundamentais assegurados; só é livre quando vive em segurança; quando tem saúde, educação de qualidade, emprego etc. Não podemos esperar tais dons como um presente caído dos céus ou das decisões daqueles que nos governam. Parafraseando o Presidente norte-americano Kennedy: Não devemos nos perguntar o que a cidade, o estado e o país podem fazer por nós, mas o que nós podemos fazer por eles.
  10. A construção de um Brasil digno de seus filhos e filhas ou será obra de todos – e não importante a idade, os títulos ou o cargo que cada um ocupa -, ou não haverá tal construção.
  1. Na manhã de hoje cantamos o Te Deum num agradecimento a Deus por sua presença em nossa vida e como um compromisso com os que nos antecederam. Conscientes de nossa fragilidade, nos voltamos para o SENHOR e lhe pedimos: A Vós, portanto, rogamos que socorrais os vossos servos/ a quem remistes com o vosso preciosíssimo sangue. Fazei que sejamos contados na eterna glória/ entre o número dos vossos santos. Amém.