Dízimo: experiência que enriquece a vida

“Cada um dê como dispôs em seu coração, sem pena nem constrangimento, pois Deus ama a quem dá com alegria” (2Cor 9, 7)

 

Dom Gilson Andrade da Silva

Bispo auxiliar da Arquidiocese de Salvador

 

O mês de julho nas Dioceses do Brasil é dedicado a motivar nossas comunidades acerca do dever de ofertar o dízimo. Trata-se não apenas de uma contribuição material que o fiel consciente presta à Igreja, mas de uma autêntica experiência de fé, comunhão com Deus e com os irmãos e caminho de santidade.

Já no Antigo Testamento se destaca o seu sentido de comunhão com Deus. Ele é expressão da atitude de fé e de gratidão de quem reconhece que tudo vem de Deus (cf. 1Cr 29,11.14; 1Sm 2,29; Ml 1,6-14). No Evangelho não encontramos um ensinamento explícito de Jesus sobre o dízimo, mas vemos Jesus elogiando gestos de generosidade sem medida como o da viúva que de sua pobreza dá tudo o que tem (Lc 21, 1-4). Ele mesmo é servido por um grupo de mulheres que colocam seus bens à sua disposição (Lc 8, 2-3) e pede ao jovem rico que dê todos os seus bens aos pobres (Mt 19, 16-22). No Novo Testamento, mais do que falar de medidas de doação, fala-se de generosidade. O próprio Deus entregou seu Filho por todos nós (Rm 8,32) e este Filho, por amor, sendo rico se fez pobre para nos enriquecer (2Cor 9,9). São Paulo define bem qual é o espírito com que um discípulo de Jesus deve viver a oferta que caracteriza o dízimo, dizendo que cada um deve dar “conforme decidiu em seu coração”, pois “Deus ama a quem dá com alegria” (2Cor 9,7). Assim, o cristão oferece o seu dízimo com a consciência que tem de ser servo de Cristo (1Cor 7,22).

O dízimo faz parte inseparável da coerência da fé. Por isso, os primeiros cristãos, junto com a adesão a Cristo, dispunham livremente do que possuíam como expressão natural do amor a Ele e aos irmãos (At 2, 45; 4, 34-35). Em definitiva, alguém se torna dizimista porque tem fé em Deus, confia nas suas promessas e se sabe irmão dentro de uma comunidade de irmãos (Rm 4,18-25 e 2Cor 1,19-20). As linhas de força da espiritualidade do dízimo estão relacionadas com a fé e a caridade.

Esta fundamentação espiritual do dízimo contribui para que a oferta seja feita a partir do coração e não se incorra na hipocrisia, tantas vezes denunciada por Jesus como o grande perigo na prática religiosa. Por se tratar de um elemento importante no relacionamento do cristão com Deus e com seus irmãos, o dízimo favorece a vivência daquelas virtudes que devem ornar a existência de quem compreende o seguimento de Cristo na Igreja como caminho de santidade: fé, esperança, caridade, perdão, justiça, misericórdia, fidelidade, confiança, perseverança, paciência, coragem, entre outras virtudes. A oferta feita com generosidade, portanto, enriquece a pessoa toda. Ajuda-a a entrar na lógica do dom que é, em definitiva, a grande realização da vida, a santidade. Tudo na Igreja tem o seu sentido na santidade, ela é o “horizonte para o qual deve tender todo o caminho pastoral” (São João Paulo II).

Desse modo, o dízimo se vê perfeitamente integrado no seguimento de Jesus e no compromisso com o Reino de Deus do qual somos discípulos missionários e é um sinal para o mundo de que a solidariedade e a partilha podem contribuir para a superação do egoísmo que dilacera as relações entre os seres humanos.