Nasceu para nós um menino

Dom Murilo S.R. Krieger, scj

Arcebispo de São Salvador da Bahia

 

“Nasceu para nós um menino” (Is 9,5), anunciou o profeta Isaías. “A graça de Deus se manifestou” (Tt 2,11), proclamou o apóstolo Paulo a Tito. “Eu vos anuncio uma grande alegria… nasceu para vós um salvador” (Lc 2,10-11), disse o anjo, aos pastores de Belém. Eis três maneiras diferentes de falar da noite de Natal.

O evangelista Lucas refere-se à viagem feita por Maria e José a Belém, por causa do recenseamento ordenado pelas autoridades e lembra palavras de incentivo do anjo aos pastores: eles não deveriam ter medo; ao contrário, eram convidados a experimentar alegria, por serem lembrados e amados por Deus.

Não nos sentimos satisfeitos, contudo. Celebrando o Natal deste ano de 2016, queremos mais. Desejamos penetrar na essência dessa festa. Em vista disso, procuramos experimentar o que sentiram Maria e os pastores, naquela noite memorável.

      Quando tomou o Menino Jesus em seus braços, Maria fez uma experiência única: sabia que aquela criança era sua; mas sabia, também, que o recém-nascido era sobretudo do Pai. Ela, que costumava guardar tudo em seu coração, jamais se esqueceu da noite em que, numa gruta de Belém, podia adaptar para si a expressão profética de Isaías: “Nasceu para mim um menino”.

      Os Pastores, por sua vez, fizeram a experiência da glória do Senhor, que os envolveu em luz; viram e ouviram um anjo, anunciando-lhes uma alegre notícia. Sabiam não ter nenhuma importância na sociedade; tanto, que nunca alguém olhou para eles. Por que Deus, então, olharia? Só havia uma maneira esclarecerem essa dúvida e saber se estavam sonhando ou não: ir ao local indicado, para verificarem se naquela noite realmente havia nascido o Salvador, o Cristo Senhor. Foram, viram e passaram a cantar as maravilhas de Deus.

Neste Natal de 2016, nós é que estamos diante de Jesus. Sua presença silenciosa no presépio é um grito que deve penetrar em nossos corações: somos amados, somos muito amados pelo Pai do céu – tanto, que Ele nos deu seu Filho único.

No Natal, Jesus não destaca sua grandeza ou seu poder divino; ele se mostra como aquele que é capaz de se humilhar para entrar em comunhão conosco. Depois disso, como não amar cada pessoa que é amada por ele e que, como nós, é um seu irmão ou uma sua irmã?

No Natal, o Filho de Deus se faz pequeno e pobre. Uma vez que estamos cercados de pobres e pequenos, de pessoas carentes – carentes de pão, de carinho, de atenção e de amor – podemos ir ao encontro do Senhor e acolhê-lo em nosso coração. Assim, a graça do Natal se perpetuará em cada dia de nossa vida.

Neste Natal, como Maria, somos convidados a buscar a vontade de Deus; como os pastores, a maravilhar-nos com sua misericórdia. Afinal, “nasceu para nós um menino!”