Confira entrevista com Dom Murilo sobre a Campanha da Fraternidade 2017

Dom MuriloPara melhor compreender a proposta da Campanha da Fraternidade 2017, que este ano tem como tema “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida”, a Pastoral da Comunicação (Pascom) preparou uma entrevista especial com o Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger.

Pastoral da Comunicação (Pascom) – Mais uma vez a Campanha da Fraternidade traz à tona a questão do cuidado com a natureza. Porque ampliar a questão?

Dom Murilo Krieger – Uma das características da Campanha da Fraternidade é introduzir, não só no interior da Igreja, mas na sociedade brasileira, a discussão de um tema que esteja sendo um desafio para a vida humana, quando não um problema. Lemos no Livro do Gênesis que é preciso “cultivar e guardar a criação” (cf. Gn 2,15). Ora, não temos tido o devido cuidado com os biomas brasileiros. Como “bioma” não é uma palavra do dia a dia, explico-a: Bioma quer dizer a vida que se manifesta em um conjunto semelhante de vegetação, água, superfície e animais. Trata-se de uma “paisagem” que mostra uma unidade entre os diversos elementos da natureza. Um bioma é formado por todos os seres vivos de uma determinada região, cuja vegetação é similar e contínua, cujo clima é mais ou menos uniforme, e cuja formação tem uma história comum. Temos, em nosso país, seis biomas: a Mata Atlântica, a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal, a Caatinga e o Pampa.

Pastoral da Comunicação (Pascom) – O texto base também apresenta uma reflexão dos Papas a respeito da questão ecológica. A reflexão da Igreja sobre o cuidado com o meio ambiente vem de muito tempo. O que a Doutrina da Igreja diz sobre essa questão?

Cartaz da Campanha da Fraternidad e2017 [Clique na imagem para ampliar]
Cartaz da Campanha da Fraternidad e2017 [Clique na imagem para ampliar]
Dom Murilo Krieger – Na Carta Encíclica “Laudato Si”, o Papa Francisco insiste na seguinte tese: Deus deu o mundo ao ser humano para que esse se beneficie dele, não para destruí-lo. Cada criatura tem sua mensagem, que precisa ser respeitada e entendida. Há muito tempo a Igreja Católica tem sido uma voz profética a respeito da questão ecológica. Ela se preocupa com o mundo que deixaremos para as próximas gerações. Não podemos entregar um mundo em que o ar e as águas estejam poluídos, em que muitas espécies de animais e plantas não existam mais, em que nossa “casa comum” deixe de ser um ambiente adequado para a vida humana. Alguém poderia perguntar: Mas cabe à Igreja preocupar-se com isso? Sim, cabe, pois a Igreja é formada por seres humanos, não por anjos. Anjos não precisam se preocupar com a ecologia.

Pastoral da Comunicação (Pascom) – Qual a melhor forma de trabalhar a Campanha da Fraternidade deste ano? 

Dom Murilo Krieger – Em primeiro lugar, é preciso se interessar por esse tema. O texto-base da Campanha da Fraternidade, à venda nas livrarias católicas, tem reflexões belíssimas e oportunas sobre os biomas, além de uma série de sugestões. Precisamos tomar consciência da beleza dos biomas e a necessidade de cuidado; exigir das autoridades públicas leis e verbas para o cuidado da criação; defender o desmatamento zero para todos os biomas; fortalecer as redes e articulações em todos os níveis, como melhores formas de suscitar uma nova consciência ecológica; motivar as pessoas de boa vontade a defender a natureza; aprofundar os estudos, promover debates, seminários e celebrações sobre o tema; etc.

Pastoral da Comunicação (Pascom) – A partir do texto-base, o que o senhor pode destacar como ponto chave para a campanha?

Dom Murilo Krieger – Precisamos nos convencer disso: cada um de nós é responsável pela criação. Por isso, cada qual deve se perguntar: O que posso fazer, dentro e a partir do mundo em que vivo? Nossa casa comum, ensina-nos o Papa Francisco, é uma irmã, com quem partilhamos a existência. Essa irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. A Igreja deve se sentir responsável pela criação, chamada a louvá-Lo; deve defender a terra, a água e o mar como dons da criação que pertencem a todos. Enfim, “Deve proteger o homem contra a destruição de si mesmo” (Papa Francisco).