Um novo baiano

Dom Murilo S.R. Krieger, scj

Arcebispo de São Salvador da Bahia – Primaz do Brasil

 

No início deste mês, numa Sessão da Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, nasceu um novo baiano – que sou eu. Esse título foi proposto pelo ex-Deputado Yulo Oiticica, e aprovado, na legislatura passada; a sessão em que o título me foi concedido foi uma proposição do Deputado Marcelino Galo.

“Cidadão Baiano”. A outorga desse título fez nascer em mim uma pergunta: Quem é baiano? Para a maioria das pessoas, não há nenhuma dificuldade em responder a essa pergunta: Baiano é quem nasceu em um dos 417 municípios da Bahia. É, portanto, baiano tanto quem nasceu em Salvador, que tem quase três milhões de habitantes, como quem nasceu em Catolândia, com seus 3.695 habitantes. Desse ponto de vista, há, hoje, pouco mais de 15 milhões de baianos. Mas ninguém escolheu nascer na Bahia. Falei “nascer na Bahia”, mas respeito aqueles que dizem que o baiano não nasce: ele estreia…

Quem é baiano? Há também os que adotaram esta terra como sua e passaram a se considerar baianos por própria conta. Foi o que aconteceu comigo. Sinto-me baiano desde o dia 25 de março de 2011, quando assumi a Sede Primacial do Brasil. Tenho um princípio de vida: “Meu coração deve estar onde estão os meus pés”. Assim, senti-me em casa desde que aqui cheguei. Não me foi difícil amar este povo – pelo contrário, sinto-me à vontade nesta terra. Não precisei de muito tempo para descobrir a capacidade de acolhida dos baianos e o carinho com que tratam seus visitantes. Livre e conscientemente adotei esta terra como minha. É verdade que não me defini entre ser do “Bahia” ou do “Vitória”: diplomaticamente, torço pelos dois; não como acarajé todas as semanas; não vou atrás de trio elétrico no carnaval e nem sei falar do jeito baiano… Mas já descobri que há muitas maneiras de ser baiano – e essa diversidade é que enriquece a Bahia.

Quem é baiano? Enfim, há os que são baianos por adoção: é o caso de quem recebe, oficialmente, o Título de Cidadão Baiano. Agora sou cidadão baiano por adoção, como já o era por livre escolha. Este Estado me adotou. Mas, ao me adotar, sei que a Bahia passa a esperar mais de mim. Agora, mais do que nunca, não posso ficar indiferente diante das alegrias e tristezas deste povo; diante dos desafios que enfrenta e dos problemas que o afligem; não posso ficar indiferente diante da insegurança em que muitos vivem ou das preocupações que cada qual tem pelo dia de amanhã. O que posso fazer diante de tudo isso? Posso fazer pouco, muito pouco. Mas não devo me preocupar: a meu lado estão mais de 15 milhões de baianos, com as mesmas preocupações e também com o desejo de ver uma Bahia melhor, um Brasil mais justo e um mundo mais fraterno.

Vamos em frente, caros conterrâneos!