Temores e esperança

Dom Murilo S. R. Krieger, scj

Arcebispo de São Salvador da Bahia – Primaz do Brasil

 

Convidado a presidir a celebração religiosa de um grupo de formandos, pedi-lhes que escrevessem em uma folha de papel, sem assinar, a lista de suas esperanças e temores. Afinal, ao deixar a universidade passariam a viver novos desafios.

Valorizei as respostas que recebi. Em primeiro lugar, porque elas foram apresentadas por jovens que eram livres para escrever o que quisessem. Depois, porque eram uma amostra do que pensam inúmeros outros jovens que estão na mesma situação.

Os depoimentos recebidos podem ser divididos em dois blocos. No primeiro, destacam-se o medo, a insegurança e a incerteza diante do futuro: Quero conseguir um emprego. Desejo realizar-me profissionalmente. Tenho medo de não saber articular teoria e prática. Estou com mil preocupações na cabeça. Tenho muitas dúvidas. Sinto-me inseguro, medroso. Angustia-me trabalhar na área em que deverei trabalhar, diante da situação do país. Será que não me deixarei levar pela mediocridade?…

No segundo bloco, sobressai a esperança: Espero viver em um mundo mais humano, com mais paz. Desejo descobrir quais são as minhas capacidades. Quero enxergar o mundo com o coração. Acredito no amor humano, na fraternidade entre todos, na perspectiva de um mundo melhor e mais justo. Pretendo atuar dentro da minha profissão compreendendo as limitações humanas e lutando contra as injustiças sociais, sem perder a coragem. Se depender de mim, o mundo vai ser diferente. Temos mais é que nos unir em torno do amor ao próximo.

A partir do material recebido, fiz três observações aos jovens formandos:

Para o cristão, a esperança tem um nome: Jesus Cristo. Só será capaz de compreender sua mensagem quem fizer uma experiência pessoal de seu amor. Tal experiência nos dá a capacidade de manter a serenidade e o idealismo, a alegria e o otimismo, mesmo em situações conflitivas e difíceis.

Lembrei-lhes, em seguida, a resposta que Deus ouviu de Salomão, quando lhe perguntou o que mais ele desejava obter: “Digna-te, Senhor, conceder-me sabedoria e inteligência para que possa conduzir este povo” (2Cr 1,10). Agradou ao Senhor que Salomão não lhe tivesse pedido riquezas, tesouros ou glória. Dessa sabedoria, isto é, da capacidade de ver o mundo, os outros e os acontecimentos com o olhar de Deus, nossa época tem grande necessidade. Faltam-nos sábios. Precisamos de pessoas capazes de viver e proclamar valores como bondade, justiça, fraternidade, respeito etc.

Enfim, pedi que cada um olhasse para as próprias mãos: elas estão cheias de dons. Ora, tais dons lhes foram dados para serem colocados a serviço dos outros, para servi-los mais e amá-los melhor. Usando suas capacidades, que se tornassem profetas da justiça e construtores da paz.