Diário de Bordo: encontrando os jovens pelas ruas, início da JMJ 2016

Por Dom Gilson Andrade da Silva

Bispo auxiliar da Arquidiocese de Salvador

Cracóvia, 26 de julho de 2016

JMJEste dia marca o início oficial da JMJ Cracóvia 2016. Na famosa Praça do Mercado, em Cracóvia, foi colocado sobre a entrada principal da Basílica de Santa Maria um relógio digital com a contagem regressiva até o início do evento. Hoje, pela manhã, quando passei pelo relógio, indicava 06:23:34. Estávamos a apenas algumas horas do início do maior evento de juventude que alguém conseguiu reunir nos últimos tempos.

A parte da manhã me dediquei a conhecer o centro histórico de Cracóvia, junto com o bispo auxiliar de Belo Horizonte, D. João Justino, e a experimentar a Jornada Mundial da Juventude que acontece pelas ruas.

Descobrir monumentos é visitar a história. Fomos ao coração da história polonesa, visitando o Wawel, um dos complexos arquitetônicos mais valiosos do mundo, onde os nomes gloriosos da história do país deixaram sua marca. E pensava no que aquilo poderia significar para a vida daqueles jovens, de culturas tão diferentes, mas cuja expressão do rosto transparecia o assombro diante da maravilha que a arte humana pode fazer para traduzir sua fé e sua história. A Jornada permite isso, um mergulho de coração aberto na história do outro para se deixar enriquecer por ela.

Pelas ruas da cidade tudo ganhava vida pela presença numerosa e barulhenta dos jovens, agora já munidos dos respectivos gritos de guerra de cada país. Ouvi muito o grito dos italianos: Italiani batti le mani (italianos, batam as mãos). Nem preciso dizer que eram palmas pra todos os lados porque numa JMJ todos se sentem como se fosse membro do outro país que se manifesta. Ao passar os jovens me perguntavam: Are you from?? Você vem de onde? E assim a comunhão se intensificava entre todos preparando as grandes reuniões que começaram no início dessa noite de 26 de julho.

Em dois momentos me aconteceu algo interessante. Cumprimentei brasileiros, facilmente identificados com a bandeira nacional, e para minha surpresa eram pessoas que eu conhecia e que ao dizerem meu nome fixei o olhar e as reconheci. Um inclusive da minha cidade do interior do Estado do Rio.

No percurso feito não encontrei ninguém de Salvador. Certamente estavam por lá, mas a multidão os escondia e apresentava outros rostos, oferecendo assim ocasião para conhecer jovens de outros lugares.

No final da tarde os bispos foram conduzidos por vários ônibus até Blonia, um parque onde se montou a estrutura para alguns eventos da JMJ. Hoje foi o dia da abertura oficial realizada durante a Missa, em honra de São João Paulo II, presidida pelo seu antigo e fiel secretário, o Cardeal Estanislau Dziwisz. Chovia inicialmente, mas nada detinha os jovens. Ondas enormes de jovens passavam com suas capas coloridas rumo ao lugar da Santa Missa.

A celebração foi marcada pela mensagem da misericórdia. Enquanto os bispos entravam se cantava o hino da Jornada. O Cardeal deu as boas vindas a todos e antes de iniciar a missa foram introduzidas as relíquias de São João Paulo II e de Santa Faustina e a chama acesa por São João Paulo II no Santuário da Misericórdia e que se conserva lá até hoje. Um bispo ao meu lado me disse que ao final da Jornada, jovens representantes do mundo inteiro vão levar essa chama da misericórdia para o mundo todo.

Uma celebração marcada pela simplicidade e pela beleza. Um bispo me confidenciou que apesar de não ter entendido uma palavra aquela missa o ajudou a rezar. A experiência de sempre da misericórdia é precisamente a do amor que supera os obstáculos.

Assim vivi eu o dia da abertura da Jornada Mundial da Juventude. Confesso que a cada momento pensava nos nossos jovens e desejei muito que estivesse aqui para partilhar com outros jovens da beleza de sua fé.