Dom Murilo S.R. Krieger, scj
Arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil
No início da criação, os seres humanos receberam de Deus a ordem de dominar a terra (Gn 1,28) – ordem de dominar, não de destruir o que estavam recebendo. Pouco a pouco, porém, a humanidade se esqueceu disso e passou a pensar que era proprietária dos bens recebidos, autorizada, pois, a saqueá-los e destruí-los. Com o tempo, os efeitos da destruição da natureza começaram a se sentir.
Em resposta a isso, há vários anos a Igreja no Brasil, por meio da Campanha da Fraternidade, procura estimular os brasileiros a refletirem sobre questões ecológicas. Ela o faz convicta de que é necessário dar uma resposta adequada aos desastres ambientais. A Campanha da Fraternidade de 2017 segue essa linha: “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida”, e como lema: “Cultivar e guardar a criação” (Gn 2,15).
A palavra “bioma” vem do grego: “bio” (vida) e “oma” (massa, grupo ou estrutura de vida). Um bioma é formado por todos os seres vivos de uma determinada região, cuja vegetação é similar e contínua, cujo clima é mais ou menos uniforme, e cuja formação tem uma história comum. No Brasil temos seis biomas: a Mata Atlântica, a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal, a Caatinga e o Pampa. Poucos países do mundo contam com uma riqueza natural dessa grandeza. É hora, contudo, de nos perguntarmos: qual o destino que estamos dando a tantas riquezas, e que Brasil queremos deixar para as futuras gerações?
Como objetivo geral, a Campanha da Fraternidade quer despertar em todos a preocupação de cuidar da criação, especialmente dos biomas brasileiros. Os objetivos específicos são vários: aprofundar o conhecimento de cada bioma, de suas belezas, de seus significados e de sua importância para a vida no planeta; conhecer melhor as populações que nelas vivem e reconhecer seus direitos; compreender o impacto das grandes concentrações populacionais inseridas nos biomas brasileiros; comprometer as autoridades públicas com esse tema, motivando-as a assumirem a responsabilidade que lhes cabe, na preservação do meio ambiente; compreender o desafio da necessária conversão ecológica etc.
É preciso superar a tensão entre economia e ecologia. Nem tudo o que é economicamente lucrativo é ecologicamente correto e adequado. O futuro da humanidade, e de todos os seres vivos que habitam a Terra, depende da união de toda a família humana na busca de um nível de desenvolvimento sustentável e integral. “Precisamos de nova solidariedade universal”. Deus nos dará força e luz para conseguirmos isso. “Ele não nos abandona, não nos deixa sozinhos, porque Se uniu definitivamente à nossa terra e o seu amor sempre nos leva a encontrar novos caminhos. Que Ele seja louvado!” (Papa Francisco, LS, 14 e 245).



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