Confira o Evangelho da Solenidade da Assunção da Bem-aventurada Virgem Maria (domingo, 18 de agosto) e a homilia preparada pelo reitor da Basílica Santuário Nossa Senhora da Conceição da Praia e doutor e Mariologia, padre Adilton Pinto Lopes:
Evangelho (Lc 11,27-28)
— Aleluia, Aleluia, Aleluia.
— Felizes aqueles que ouvem a palavra de Deus e a guardam!
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 27 Enquanto Jesus falava ao povo uma mulher levantou a voz no meio da multidão e lhe disse: “Feliz o ventre que te trouxe e os seios que te amamentaram”. 28 Jesus respondeu: “Muito mais felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática”.
Palavra da Salvação.
ou
Evangelho (Lc 1,39-56)
— Aleluia, Aleluia, Aleluia.
— Maria é elevada ao céu, alegram-se os coros dos anjos.
— Glória a vós, Senhor.
Naqueles dias, 39 Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia. 40 Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. 41 Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 42 Com um grande grito, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!” 43 Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? 44 Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. 45 Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido, o que o Senhor lhe prometeu”. 46 Então Maria disse: “A minha alma engrandece o Senhor, 47 e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, 48 porque olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada, 49 porque o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. O seu nome é santo, 50 e sua misericórdia se estende, de geração em geração, a todos os que o respeitam. 51 Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. 52 Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. 53 Encheu de bens os famintos, e despediu os ricos de mãos vazias. 54 Socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, 55 conforme prometera aos nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre”. 56 Maria ficou três meses com Isabel; depois voltou para casa.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.

Solenidade da Assunção de Bem-aventurada Virgem Maria
Hoje a Igreja celebra uma das realidades mais belas da nossa fé cristã católica, a Assunção da Virgem Maria ao céu, que tem seu fundamento na ressurreição e ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo e que tem uma ligação direta com a caminhada histórica da Virgem de Nazaré, mas ao mesmo tempo possui uma índole profundamente escatológica, e que diz respeito a todos os seres humanos, a toda humanidade. Hoje podemos cantar alegres, exultar no Espírito porque o que a Trindade Santa realizou na Virgem, glorificando-a de corpo e alma, e levando-a para o céu, irá realizar em todos nós. O destino do ser humano é a glória, a bem-aventurança eterna e a plena comunhão com o Deus Uno e Trino.
A Igreja, depois de uma longa caminhada e reflexão a partir da Palavra de Deus e da Tradição, proclamou em 1.11.1950, Solenidade de Todos os Santos, como verdade de fé, pelo Papa Pio XII, na Bula Munificentissimus Deus: “Pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que a Imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial”. Esta graça, por hora concedida só a Imaculada Conceição constitui pura graça da Trindade, já que durante toda a vida de Maria de Nazaré, ela foi em tudo obediente ao Pai, inteiramente disponível ao Filho e se deixou plasmar pelo Espírito.
São Paulo afirmou na I Carta aos Coríntios no capítulo 15, que “Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram. Com efeito, por um homem veio a morte e é também por um homem que vem a ressurreição dos mortos. Como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão. Em primeiro lugar, Cristo, como primícias; depois os que pertencem a Cristo por ocasião de sua vinda”. A nossa fé cristã afirma como toda certeza e centralidade a Ressurreição de Jesus, pois se ele não tivesse ressuscitado vã seria a nossa fé e a nossa pregação.Desta certeza jorra a fé da Igreja que proclama no fim dos tempos a ressurreição da carne, “os que tiverem feito o bem para a ressurreição de vida e os que tiverem praticado o mal para a ressurreição do juízo” (Jo 5, 29). Pelos méritos de Cristo, Maria de Nazaré foi preservada do pecado original, Nela nunca existiu mancha de pecado algum, ela jamais esteve submetida ao demônio e o mesmo Cristo que por seus méritos a preservou do pecado e a preservou também da corrupção do sepulcro. O corpo humano e virginal da gloriosa virgem Maria, imune do pecado foi por pura graça imune da deterioração, do apodrecimento. Ela foi elevada aos céus em corpo e alma. A Virgem Maria toda consagrada a Cristo nesta terra, foi a primeira criatura humana a experimentar a ressurreição, ela de modo absoluto pertence a Cristo. Afirmou São João Damasceno: “Convinha que aquela que no parto manteve ilibada virgindade conservasse o corpo incorrupto mesmo depois da morte”. E também São Germano de Constantinopla: “Vosso corpo virginal é totalmente santo, totalmente casto, totalmente domicílio de Deus,de forma que até por este motivo foi isento de desfazer-se em pó, foi sim, transformado, enquanto era humano, para viver a vida altíssima da incorruptibilidade; mas agora está vivo, gloriosíssimo, incólume e participante da vida perfeita”.
O Apocalipse descreve esta Mulher que não foi vencida nem pela morte, nem pelo dragão, símbolo do demônio. Esta mulher que é a Igreja, Esposa do Cordeiro, vestida com veste esplendente de ouro de Ofir, mas desde os primórdios a Mulher do Apocalipse 12 se refere a Imaculada Conceição e a Assunção de Maria aos céus, vestida e perpassada do próprio sol que simboliza Deus, tem a coroa de vitória na cabeça de 12 estrelas (12 foram as Tribos de Jacó, 12 os Profetas, 12 os Apóstolos) simbolizando a totalidade do Povo de Deus: Antigo e Novo Testamento. Esta Mulher tem a lua debaixo dos pés. O calendário judaico era lunar, esta Mulher gloriosa não abandona o Povo de Deus ainda em caminho. A Lumen Gentium afirma que a Virgem Maria “cuida, com amor materno dos irmãos do seu Filho que, entre perigos e angústias, caminham ainda na terra, até chegarem à Pátria bem-aventurada (LG 62)”. “Entretanto, a Mãe de Jesus, assim como, glorificada já em corpo e alma, é imagem e início da Igreja que há de consumar no século futuro, assim também na terra, brilho como sinal de esperança segura e de consolação, para o povo de Deus ainda peregrino, até que chegue o dia do Senhor (Cf, 2 Pe 3, 10)”. A assunção de Maria é antecipação e sinal da Igreja plenamente realizada, aquilo que um dia seremos e teremos a condição de estarmos no céu em corpo e alma na mais perfeita união com a Trindade Santa, a Virgem Maria glorificada com seu corpo pneumático espiritual, já experimenta em totalidade a vitória do amor, da vida e da justiça.
O Evangelho de Lucas nos revela o que existe na Virgem de Nazaré de mais essencial que a fez ser glorificada no fim da sua caminhada terrestre e como Jesus passando através da morte. São as palavras proferidas por S. Isabel: “Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido, o que o Senhor lhe prometeu”. A Virgem Maria se torna intrinsecamente unida a Cristo e à Igreja porque Ela acreditou, por ser uma Mulher de fé, que como Abraão, ela esperou contra toda esperança e crendo ela profetiza: “Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada”. Santo Agostinho vai afirmar que a grandeza maior de Maria não é a de ser a mãe biológica de Jesus, o Filho de Deus, mas pela fé se tornar sua primeira e a mais perfeita discipula. Antes da Virgem Maria conceber em seu útero, ela concebeu em seu seio pela fé. Por isso Isabel elogia Maria por acreditar absolutamente em Deus e em suas promessas. Elogia a grandeza da sua Fé.
A Solenidade da Assunção que é eco da Solenidade da Ascensão de Jesus aos céus, é o cumprimento das revolução de Deus, onde o Reino de Deus será instaurado definitivamente e neste novo Reino não existe lugar para opressores, excludentes, orgulhosos ou violentos. A Assunta já na terra proclamou esta Revolução de Deus: “Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. Encheu de bens os famintos e despediu os ricos de mãos vazias” (Lc 1, 51-54). No novo Reino, a Virgem Maria assunta aos céus nos indica o caminho a seguir, que passa pela fé, pela esperança e pela caridade, onde orgulho e prepotência não tem mais vez, nem voz, a morte será plenamente vencida e onde se dá a plena vitória do amor. Na Assunção de Maria é a dignidade do ser humano que é elevada e divinizada, é conduzida ao coração da Trindade. Em Maria Assunta, a mulher na sua feminilidade é exaltada. Maria glorificada mostra que o verdadeiro “empoderamento feminino” se dá no fazer em tudo a vontade de Deus, no viver sua Palavra e no acolher sempre a vida, da concepção até ao seu fim natural, amar a vida em todas as suas fases. Que alegria, hoje, a Virgem Maria foi elevada aos céus, hoje os anjos fazem festa, mas também a humanidade, cada ser humano, pois nossa vida terrestre não se destina ao caos, ao apodrecimento, ao ocaso. O ser humano é vocacionado a viver eternamente no céu em corpo e alma e com Maria cantaremos adorando a Santíssima Trindade: “A minha alma engrandece o Senhor, e o meu Espírito se alegra em Deus meu Salvador… o Todo Poderoso fez grandes coisas em meu favor. O seu nome é santo e sua misericórdia se entende de geração em geração” (Lc 1, 46-47, 49-50).



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