Dom Gilson Andrade da Silva
O Ano da Misericórdia e a celebração da Páscoa se entrelaçam na experiência do perdão. O primeiro dom do Ressuscitado é a sua paz que vem acompanhada do perdão (cf. Jo 20, 19-23).
O perdão é certamente o gesto indispensável daquela “revolução da ternura” proposta pelo Papa Francisco. Um gesto que permite passar (páscoa) para uma situação nova diante de Deus e diante das pessoas. Uma decisão que envolve nos envolve totalmente: alma, razão, vontade, afetos, coração.
Quando alguém toma a decisão de perdoar, renuncia os sentimentos de rancor e de vingança para dar lugar a uma força nova capaz de dilatar a própria existência. O rancor e a ira são realidades que paralisam a vida, impedem ao ser humano autotranscender. O perdão, ao contrário, liberta o coração aprisionado no ódio. Quando se é capaz de perdoar a vida toda se transforma.
Deus, na sua bondade, ofereceu à Igreja um sacramento para a reconciliação do coração machucado pela ferida maior, o pecado. Quanta paz, equilíbrio e segurança muitos voltam a experimentar depois de uma breve e sincera confissão. O perdão é um remédio que cura a alma nas suas profundezas. Através do sacramento da reconciliação encontram-se forças novas e aprende-se a agir de modo divino, abrindo o coração ao perdão. A ocasião da celebração da Páscoa é um apelo a uma profunda reconciliação profunda com Deus, com nós mesmos e com os outros.
A experiência indica alguns atos que podem ajudar a dar os passos rumo ao perdão.
Primeiramente, é preciso reconhecer o que no coração, a capacidade de escutar o próprio coração e abrir-se à verdade guardada dentro de nós e ali tocar rancores arraigados. É necessário ter a valentia de começar a empreender um caminho para a libertação do ressentimento. Para isso é bom recordar que o perdão é uma decisão de ver além, de reconhecer que, apesar de qualquer coisa, estou sempre diante de alguém cuja dignidade é singular.
O perdão é uma atitude que supõe estar disposto a encontrar a força que cada um traz dentro de si para amar; é um processo, às vezes lento e demorado, que nos leva a estar mais perto de Deus e dos outros; é um exercício a ser feito praticamente todos os dias, pois quanto mais se exercita essa capacidade mais se é livre para realizá-la.
O perdão é, sobretudo, dom de um Deus que bate à porta do nosso mundo ferido e nos convida a abrir-nos à experiência da misericórdia. Não se pode ter medo da dor, só desse modo o trauma sairá, por isso o reencontro com a pessoa que nos feriu, agindo com ela com amor, oferece a possibilidade da cicatrização mais rápida da ferida do coração, pois estaremos aprendendo a ter reações diferentes: empatia, compaixão e amor.
No caminho do perdão devemos ser muito positivos: não dar importância a um ato de injustiça que fizeram contra nós, não nos importarmos com os comentários negativos a nosso respeito, mas sermos, sobretudo, instrumentos de paz e de perdão. Finalmente, ajudar-nos-á imensamente, ademais da experiência de pedir perdão a Deus, pedir perdão frequentemente a tantas pessoas que todos os dias ofendemos.
Através do perdão tenhamos a coragem de penetrar ainda mais na estrada deserta que nos foi aberta durante o tempo quaresmal. Certamente chegaremos à Páscoa com o coração mais liberto para poder experimentar em nós as maravilhas da ação de Deus em nossa vida. O perdão nos abrirá os olhos e enxergaremos o mundo novo instaurado pela vitória de Cristo na sua cruz e ressurreição e nos dará condição para sermos misericordiosos como o Pai.



por