800 anos do presépio

Cardeal Dom Sergio da Rocha

Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil

No Natal de 1223, São Francisco de Assis fez o primeiro presépio, numa gruta localizada em Greccio, no interior da Itália. Portanto, comemora-se neste Natal os 800 anos do presépio, que foi se difundindo pelo mundo, expressando com comovente beleza o nascimento de Jesus, de acordo com a riqueza cultural dos diferentes povos. O presépio de São Francisco de Assis foi realizado com a simplicidade da manjedoura de Belém e com grande realismo, contando inclusive com um boi e um burrinho, para ajudar as pessoas não somente a recordarem o acontecimento que motiva o Natal, mas a contemplarem o cenário do nascimento de Jesus, dele participando e vivendo o seu rico significado.

Neste Natal, nós temos a oportunidade de contemplar com admiração os presépios tradicionais ou modernos, confeccionados com tanta arte e beleza. O presépio tem muito a nos ensinar. O olhar para os personagens artisticamente representados, tendo ao centro o menino Jesus nos faz recordar o verdadeiro sentido do Natal, uma das festas mais difundidas e esperadas no mundo. A compreensão e a vivência do Natal têm sofrido mudanças que podem ofuscar seu sentido maior, a celebração do nascimento de Jesus. O termo “natal”, de origem latina, refere-se justamente a “nascimento”. Não se faz festa de aniversário sem o aniversariante. É preciso resgatar o sentido genuíno do Natal, voltando o nosso olhar para o Menino Jesus, que está no centro do presépio, e para as pessoas que conosco convivem e com as quais queremos viver um Natal feliz.

O recém-nascido deitado na manjedoura não está sozinho. Junto dele, ocupam lugar especial, Maria e José, mas estão retratados também os humildes pastores das redondezas e os reis magos que vieram de longe para adorar e oferecer presentes. O nascimento de Jesus ocorre no chão da história humana, marcando-a para sempre, mas a presença dos anjos nos recordam que se trata de um acontecimento divino. Os animais representados, que no presépio de Greccio, eram animais vivos, não são meras peças decorativas ou simples recordação do ambiente onde nasceu o menino, um estábulo. Revelam que o amor de Deus manifestado em Belém abarca a toda a criação.

Os 800 anos nos leva a valorizar, ainda mais, os presépios, a apreciar sua beleza e a refletir sobre o seu significado. É preciso, ao mesmo tempo, recordar-se dos presépios vivos de nosso tempo, escondidos nas periferias sofridas das grandes cidades e nas zonas pobres do interior. Na manjedoura de Belém, Deus revela o seu amor a todos, aos que estavam próximos e aos que vieram de longe. Ele nos ensina a reconhecer em cada pessoa um irmão a ser amado, sem excluir ninguém de nosso amor fraterno. O presépio nos leve a viver o Natal na alegria do nascimento de Jesus e do encontro com familiares e amigos, bem como, na solidariedade com os que sofrem, a fim de que todos encontrem a paz que o menino Jesus nos traz.

 *Artigo publicado no jornal Correio, em 25 de dezembro de 2023.