Confira o Evangelho do 27º Domingo do Tempo Comum (6 de outubro) e a homilia preparada pelo pároco da Paróquia Santíssimo Sacramento (Itaparica), assistente eclesiástico e coordenador da Pastoral da Comunicação (Pascom), padre Rosalvo Marcelino Humildes Júnior:
Evangelho (Mc 10,2-16)
— Aleluia, Aleluia, Aleluia.
— Se amarmos uns aos outros, Deus em nós há de estar; e o seu amor em nós se aperfeiçoará.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Marcos
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 2 Alguns fariseus se aproximaram de Jesus. Para pô-lo à prova, perguntaram se era permitido ao homem divorciar-se de sua mulher. 3 Jesus perguntou: “O que Moisés vos ordenou?” 4 Os fariseus responderam: “Moisés permitiu escrever uma certidão de divórcio e despedi-la”. 5 Jesus então disse: “Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento. 6 No entanto, desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. 7 Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. 8 Assim, já não são dois, mas uma só carne. 9 Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!” 10 Em casa, os discípulos fizeram, novamente, perguntas sobre o mesmo assunto. 11 Jesus respondeu: “Quem se divorciar de sua mulher e casar com outra, cometerá adultério contra a primeira. 12 E se a mulher se divorciar de seu marido e casar com outro, cometerá adultério”. 13 Depois disso, traziam crianças para que Jesus as tocasse. Mas os discípulos as repreendiam. 14 Vendo isso, Jesus se aborreceu e disse: “Deixai vir a mim as crianças. Não as proibais, porque o Reino de Deus é dos que são como elas. 15 Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele”. 16 Ele abraçava as crianças e as abençoava, impondo-lhes as mãos.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
Reflexão

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo. Meus queridos amigos (as) internautas, a Liturgia deste domingo, o 27º do Tempo Comum, nos apresenta os seguintes trechos bíblicos para nossa reflexão: Gn 2,18-24; Hb 2,9-11 e Mc 10,2-16. Através desta leitura, em comunhão com os trechos bíblicos, espero que você faça uma proveitosa Lectio divina (Leitura orante), fazendo com que você esteja mais próximo do Senhor.
A primeira leitura, retirada do livro do Gênesis, capítulo segundo, versículos do dezoito ao vinte e quatro (Gn 2,18-24), nos apresenta a continuidade do episódio da criação. Neste trecho, o Senhor Deus observou que o homem, após a criação dos animais, não tinha alguém semelhante a ele. Isso mostra que o ser humano não é bicho nem fera. Pelo contrário, no versículo 19, o Senhor conduz os animais selvagens e todas as aves do céu para Adão, a fim de que ele pudesse dar nome aos seres criados. Logo, o ser humano participa da obra criadora de Deus, e o Pai respeita as decisões do homem (neste caso, a escolha dos nomes). Dar nome aos animais é sinônimo de poder sobre eles.
No entanto, mesmo com este poder adquirido sobre as coisas criadas, aprovado pelo Pai, o homem não estava completo. Após um sono profundo, o Senhor Deus retirou a costela de Adão e criou a mulher: “Desta vez, sim, é osso dos meus ossos e carne de minha carne!” (v. 23). O homem e a mulher foram criados não com o objetivo de dominar as coisas criadas, mas para formar a comunhão mais íntima que possa existir. Alguns estudiosos afirmam que, o Senhor Deus fez Eva da costela de Adão, e não do osso do pé, pois os dois devem caminhar juntos, sendo a mulher uma grande companheira e não para andar debaixo do homem. Caminhando juntos, homem e mulher poderão dar um belo testemunho de união, mostrando a todos que a desunião é sinal de uma obra incompleta.
A segunda leitura deste domingo, extraída da carta aos Hebreus, capítulo segundo, versículos do nono ao onze (Hb 2,9-11), nos apresenta o projeto que o Senhor tem para todos os seus filhos: nos conduzir para o Reino que Ele preparou. Este projeto foi concretizado através de Nosso Senhor Jesus Cristo. A sua paixão, morte e ressurreição foi a forma que Deus encontrou para ser solidário conosco, abrindo as portas da Jerusalém Celeste a todos que acolheram este convite. “Por isso, morrendo na cruz, Jesus se tornou plenamente solidário, a ponto de não se envergonhar em chamar de ‘irmãos’ aqueles que remiu” (Roteiros Homiléticos).
A Carta aos Hebreus possui importantes reflexões para o amadurecimento de nossa fé. Até o final do Tempo Comum, iremos refletir importantes pontos desta carta, favorecendo a uma melhor compreensão de que Jesus é o único sacrifício agradável a Deus. Além de nós, cristãos do século XXI, esta mensagem foi propagada ao longo dos séculos, mas os seus primeiros destinatários (provavelmente judeus convertidos da comunidade cristã de Roma) foram cristãos que estavam vivendo uma crise de fé. Esta crise compreendia na dificuldade de aceitar a forma não gloriosa da aparição terrestre de Jesus, a desilusão de não verem realizada a promessa da salvação final e a dificuldade, dos próprios cristãos, de suportarem os sofrimentos por causa da escolha que eles fizeram, de serem cristãos. A Carta aos Hebreus serviu, também, como uma mensagem de esperança diante destes corações angustiados.
Já o Evangelho de hoje, escrito por São Marcos, capítulo dez, versículos do segundo ao dezesseis (Mc 10,2-16), nos apresenta uma importante reflexão sobre o matrimônio e a opção preferencial pelos pobres. Não podemos esquecer que, a partir do oitavo capítulo, Jesus trabalha a seguinte catequese com seus discípulos: ele apresenta as duras exigências que acontece após abraçarmos o discipulado.
Reflexão sobre o matrimônio: no diálogo entre Jesus e os fariseus, o Messias aproveitou a oportunidade para uma direta explanação do tema. Fazendo memória do livro do Gênesis, meditado acima, a união entre o homem e a mulher é algo sagrado. “Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne.” (Gn 2,24). Os fariseus e os doutores da Lei, no diálogo com Cristo, queriam ditar as suas regras, indo contra a essência do documento do divórcio:
“O documento do divórcio visava proteger a mulher, proibindo o arbítrio machista. Para assinar o documento eram necessárias testemunhas e razões válidas. Isso impedia que a mulher fosse mandada embora sem maiores motivos, até por capricho ou mau humor do marido. Recebendo o documento de divórcio, estaria livre para casar com outro homem, sem ser acusada de adultério. Essa perspectiva, porém, aos poucos foi sendo esquecida, e o divórcio passou mais uma demonstração do arbítrio e do machismo.”
Para legitimar suas teorias, os fariseus falaram que seguem aquilo o que Moisés permitiu. No entanto, Jesus responde que Moisés escreveu este mandamento, por causa da dureza do coração deles (dureza de coração significa em desobedecer ao projeto de Deus). Logo, Jesus, mais uma vez, mostra que não veio abolir a Lei, mas dar um novo sentido a ela, nos convidando à obediência ao plano do Senhor.
Opção preferencial pelos pobres: o Evangelho também deixa claro que, para sermos acolhidos no Reino dos Céus, devemos acolher os pobres. Alcançamos a Jerusalém Celeste se buscarmos ela sem nenhum tipo de ambição, riqueza ou status. No texto, os pobres são caracterizados pelas crianças. Por que as crianças? São pessoas indefesas, sem voz e sem nenhum poder de decisão, características dos pobres em nossa sociedade. Em um determinado momento, os discípulos afastam as crianças de perto de Cristo (os pobres não devem ficar perto do Mestre), mas Jesus, mais uma vez, nos ensina o oposto: “Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele.” (v. 15).
Inspirados pela Palavra de Deus, peçamos ao Senhor entendimento para acolher os teus ensinamentos, acolhendo, com dignidade, o amor pela família, a opção pelos pobres e a alegria de sermos cristãos, independente das tribulações que o mundo nos apresenta. Deus te abençoe.



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