Com mais de 40 acolhimentos por ano, ACOPAMEC segue firme na luta contra o abuso e a exploração sexual infantil

Para recordar, proteger e garantir os direitos das crianças e dos adolescentes, a sociedade civil é conclamada, no dia 18 de maio, a celebrar o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual. Com os olhares e o coração voltados para defender a dignidade da pessoa humana, a Igreja Católica não mede esforços no desenvolvimento de ações de enfrentamento aos casos alarmantes de vítimas deste tipo de violência e, na Arquidiocese de Salvador, conta com o trabalho da Associação das Comunidades Paroquiais de Mata Escura e Calabetão (ACOPAMEC), que há mais de 30 anos acolhe crianças e adolescentes vítimas de abusos e de exploração sexual na Bahia e fora do estado.

Uma destas vítimas é Paula* (nome fictício para preservar a fonte), de 16 anos. A adolescente, que sempre morou com a mãe, irmãos e padrasto, viajou para passar um tempo com o pai, em São Paulo, a pedido da própria mãe. Ao chegar à capital paulista, o pai a conduziu de carro e durante o caminho abusou de Paula. “Eu não me permiti entrar em choque naquele momento. Na minha cabeça é como não estivesse acontecendo todos aqueles toques e mãos nas minhas partes íntimas. Aproveitei a parada na estrada para beber água, comer e esticar as pernas, daí fui até o banheiro e liguei para minha mãe. Contei o que aconteceu, mas ela não acreditou. Em seguida, liguei para meu namorado e pedi ajuda. Ele, sim, acreditou e fez a denúncia. Quando voltei para o carro meu pai pediu desculpas, disse que eu não precisava ficar assustada e que não aconteceria mais, por isso eu poderia seguir com ele tranquila para sua casa”, disse a menor.

Dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) revelam alarmantes números, somente no ano de 2020, em que o Brasil registrou 95 mil casos de violência contra crianças e adolescentes, sendo quase 10 mil atendimentos e mil denúncias de violações de direitos humanos por dia, considerando os serviços Disque 100 e Ligue 180. Uma triste realidade já levantada é que em 70% dos casos de violência contra crianças e adolescentes o agressor é o pai, o padrasto ou a mãe.

Paula* é apenas uma das mais de 40 vítimas atendidas, por ano, pela ACOPAMEC, e que passam a morar em uma das cinco casas-lares existentes no local. Nas casas-lares as crianças e os adolescentes passam a viver juntos, frequentam a escola, participam de cursos profissionalizantes e permanecem no local até completarem 18 anos. Com esta idade, eles podem deixar a Acopamec, desde que a autoestima esteja recuperada. Para isso, eles contam com uma equipe técnica qualificada composta por assistentes sociais, psicólogos, pedagoga, mães sociais e coordenação.

De acordo com a coordenadora das casas-lares, Estefanie Valadão, as atividades desenvolvidas têm como objetivo e importância garantir que as crianças e os adolescentes tenham seus direitos garantidos, sobretudo quando suas famílias ou responsáveis encontram-se temporariamente impossibilitados de cumprir a função de cuidado e proteção. “Nós acolhemos diversos casos, desde violência, abandono, incapacidade de cuidado e sempre com o encaminhamento do Juizado ou Conselho Tutelar através da Central Reguladora de Vagas (SEMPRE), assim como foi o caso da Paula*. A nossa sensibilidade é enorme em todos os casos e, por isso, temos como prática realizar uma escuta, buscar identificar familiares próximos, com vinculação e entender todo o processo da criança e do adolescente”, afirma.

“No momento em que eu cheguei à Acopamec minha primeira reação foi de muito medo, mas quando eu passei a ver minha vida sendo diferente, com meus conhecimentos sendo aprimorados, estudando e com muita ajuda, eu me fortaleci para enfrentar a vida mesmo com essa dor dentro de mim. Hoje, tenho como sonho ser advogada e abrir meu escritório. Quero seguir a vida com perspectivas novas e diferentes. Eu digo sempre que temos que ser fortes”, afirma Paula*.

Segundo a psicóloga da instituição, Sara Mascarenhas, as vítimas chegam às casas-lares, de fato, precisando de ajuda. “Quando elas e eles chegam até nós, trabalhamos principalmente a escuta, um acolhimento saudável e o empoderamento, sempre com o objetivo  de possibilitar qualidade de vida e autonomia para uma vida adulta melhor, nunca perdendo de vista que eles não podem deixar de sonhar”, afirma a psicóloga.

Mas, por que 18 de maio?

A data foi escolhida como dia de mobilização contra a violência sexual porque em 18 de maio de 1973, na cidade de Vitória (ES), um crime bárbaro chocou todo o país e ficou conhecido como o “Caso Araceli”. Esse era o nome de uma menina de apenas oito anos de idade, que teve todos os seus direitos humanos violados, foi raptada, estuprada e morta por jovens de classe média alta daquela cidade. A proposta do “18 DE MAIO” é destacar a data para mobilizar, sensibilizar, informar e convocar toda a sociedade a participar da luta em defesa dos direitos sexuais de crianças e adolescentes. É preciso garantir a toda criança e adolescente o direito ao desenvolvimento de sua sexualidade de forma segura e protegida, livres do abuso e da exploração sexual.