Confira a homilia proferida por Dom Murilo na Festa de Senhora Sant’Ana

Igreja do Santíssimo Sacramento e Sant´Ana

26.07.19 – Leituras: Ecl 44,1.10-15; Mt 13,16-17

Dom Murilo S.R. Krieger, scj

Arcebispo de São Salvador da Bahia – Primaz do Brasil

  1. Há dois caminhos para falarmos da Senhora Sant´Ana, cuja festa está intimamente ligada à de São Joaquim, pais de Maria Santíssima, avós de Jesus:

– o caminho histórico, como está sendo feito com Irmã Dulce dos Pobres:

Em vista do processo de beatificação e de canonização desta futura santa soteropolitana, recolheu-se todo o material possível sobre ela: documentos, escritos, fotos, testemunhos etc. Interessante: à medida que essa coleta progredia, foi crescendo a convicção: Foi uma santa – isto é, uma discípula de Jesus.

O que recolher de Ana e Joaquim, pois só temos seus nomes, de textos não bíblicos? (Joaquim: do hebraico, “homem confirmado por Deus”; Ana: “graça” – Maria: “senhora”, se o seu nome for de origem hebraica; ou, se for de origem egípcia: “amada por Deus”). O que se pode aplicar a Joaquim e a Ana é a afirmação de Jesus: “Toda árvore boa produz frutos bons, e toa árvore má produz frutos maus” (MT 7,17).

– o segundo caminho que pode ser escolhido para falar de Sant´Ana e S. Joaquim é o litúrgico, que é o que escolherei. Quando a Igreja celebra um santo, escolhe leituras da Palavra de Deus que levam os ouvintes a dizer: Ele/ela viveu assim; ele/ela colocou isso em prática!

  1. Da Palavra de Deus, proclamada neste dia, colho três observações:

1ª – (Eclesiástico): Nossos antepassados, permanecem com seus descentes; “seus próprios netos são a sua melhor herança”.

Será que os pais de Maria sabiam quem estavam educando? Será que sabiam que sua filha seria a Mãe do Salvador? Que o seu neto seria o Salvador do mundo? Poderiam imaginar que estavam vivendo um momento central da História da Salvação? Que, naquele período da História, estava para ser cumprida a promessa de Deus feita no Gênesis, a Abraão e a tantos escolhidos Seus? Certamente, não! Deus não antecipa o caminho de Seus escolhidos. Ele os vai revelando aos poucos – melhor, à medida em que o escolhido for respondendo positivamente à sua vontade, Ele vai lhe fazendo nova proposta.

O mesmo vale para nós, ou para seus filhos e filhas; para seus netos e bisnetos. Aquele sacerdote que batizou a pequena Rita, que se tornaria Irmã Dulce, não estava sabendo que batizava uma santa.

Cabe-nos, pois, fazer a nossa parte – e fazê-la bem. Quantos não puderam cumprir sua missão no mundo pois aqueles que deveriam lhes dar condições para isso se omitiram ou se deixaram levar pela mediocridade! (São Paulo vai dizer: “Ai de mim se eu não evangelizar!” Isto é: se eu não evangelizar, quantos deixarão de conhecer Jesus Cristo e se perderão – e eu serei o responsável por isso!)

2ª – “Os povos proclamarão a sua sabedoria, e a assembleia vai celebrar o seu louvor”.

Sem talvez nos darmos conta, estamos nesta noite contribuindo para a confirmação da Palavra de Deus. Estamos aqui celebrando os louvores da Senhora Sant´Ana, lembrando a sabedoria com que educou sua filha. (Quando Maria recebeu a visita do Anjo, com uma proposta inesperada e inimaginável, não teve tempo para dizer: Vou pensar! Volto daqui a três dias que lhe darei resposta! Vou consultar um sacerdote do Templo! Não! A resposta deveria ser dada ali, naquela hora. E sua resposta foi uma consequência do que havia em seu coração. Em seu coração havia Deus. Sua resposta só poderia ser, pois: “Faça-se em mim…”)

3ª – (Mateus – palavras de Jesus que podemos aplicar a Sant´Ana e S. Joaquim): “Muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não viram, desejaram ouvir o que ouvis, e não ouviram”.

Com a difusão da notícia sobre a aprovação do milagre de Irmã Dulce e da data de sua canonização, muitos fizeram uma releitura de algum ou de vários momentos de sua vida, nos quais tiveram um encontro com Irmã Dulce. Lembram, então, uma palavra que ouviram, um abraço que dela receberam, a imposição de suas mãos sobre a cabeça… E agora dizem: Como foi importante aquele momento! Que privilégio eu tive!

Não sei o que pensavam Sant´Ana e S. Joaquim enquanto tinham em casa a presença de Maria. Viam-na rezar (rezavam juntos os Salmos, em casa ou na Sinagoga); viam-na comer; conversavam com ela; liam juntos os Profetas: nem eles nem Maria podiam imaginar que aquele homem das dores do qual falava o profeta Isaías seria o Messias, o Salvador, e esse Salvador seria filho de Maria, neto deles dois. Não tinham condições de saber que o coração de Maria seria transpassado por uma espada de dor.

Lição que aprendemos: precisamos fazer sempre o melhor; o perfeito; o certo. Não sabemos quem está perto de nós; quem nos envolve; não conhecemos os mistérios que cercam a nossa vida. Cabe-nos fazer a nossa parte, sendo um bispo dedicado, um sacerdote correto, um pai ou mãe de família coerente, um jovem de Cristo… Se nos deixarmos levar pelo tsunami formado pelas propostas desse mundo; se nos adaptarmos a esse mundo sem procurar enfrentá-lo com os valores do Evangelho, só aumentaremos o número de medíocres no mundo…

  1. Hoje, Sant´Ana e S. Joaquim louvam e agradecem a Deus pela escolha que Ele fez: tiveram o privilégio de gerar a Imaculada – ela que, por sua vez, gerou o Filho de Deus. Vamos nos unir a seus louvores e à sua ação de graças! Vamos nos unir ao louvor que Sant´Ana eleva ao Senhor! Vamos, com Maria, agradecer a Mãe que teve, pois foi com ele, com Sant´Ana, que Maria aprendeu a ser Mãe!
  2. Deus é maravilhoso! Deus é sempre surpreendente!