Cardeal Dom Sergio da Rocha
Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil
O domingo que antecede a Páscoa, denominado Domingo de Ramos, embora identificado como uma tradição católica marcada pela benção e procissão de Ramos, tem um significado e alcance que ultrapassam o interior das comunidades católicas. A sua razão de ser encontra-se narrada nos quatro Evangelhos, tendo, portanto, uma clara fundamentação bíblica. Recorda a entrada de Jesus na cidade de Jerusalém, onde sofreu a sua paixão e morte na cruz. Por isso, no calendário litúrgico, é denominado Domingo de Ramos da Paixão do Senhor, expressando que não se trata de uma simples acolhida festiva de Jesus em Jerusalém, mas da entrada na cidade onde ele será condenado a morrer na cruz, como o novo cordeiro pascal. A própria celebração litúrgica deste Domingo expressa bem este duplo significado em seus dois grandes momentos. O primeiro, com a benção dos ramos e a procissão, é marcado pela alegre manifestação dos fiéis que repetem o gesto do povo que acolheu Jesus em Jerusalém, com ramos e cânticos. O segundo momento é marcado pela leitura da Paixão de Cristo, a cada ano, conforme um dos quatro Evangelhos. Com o Domingo de Ramos tem início a Semana Santa ou Semana Maior, rumo à Páscoa da Ressurreição de Jesus. A leitura da Paixão será feita novamente na sexta-feira santa, na celebração da Paixão e Morte de Cristo, porém sempre do Evangelho segundo João.
Conforme os relatos evangélicos, Jesus entrou em Jerusalém montado num jumentinho, como “príncipe da paz”, na simplicidade, segundo as profecias messiânicas, diferente dos reis ou chefes militares que entravam nas cidades montados em cavalos, demonstrando o seu poder. Os gestos do povo de estender seus mantos e aclamar com hinos e com ramos expressavam o reconhecimento festivo de Jesus como o Messias esperado. Jesus não correspondia à imagem de um rei poderoso e glorioso segundo os reinos deste mundo, como muitos esperavam, mas se apresentava desde a sua entrada em Jerusalém como o Messias-servo, que doa a vida pelo seu povo. É na cruz que se revela plenamente que tipo de Messias é Jesus. Os ramos utilizados neste Domingo, seja de oliveiras, de palmeiras ou de outras árvores, simbolizam a fé em Cristo e o reconhecimento de que ele é o Messias, o Salvador. O tradicional costume de conservar os ramos nas casas durante o ano é sinal e recordação da fé testemunhada publicamente no Domingo de Ramos.
Num mundo em mudança, o significado de Ramos permanece, convidando a caminhar fraternalmente, com fé e esperança. Num mundo marcado por tanta violência, Ramos é um convite a caminhar na paz. Ao invés de armas, precisamos de ramos nas mãos! A Semana Maior, que se inicia, seja uma ocasião privilegiada para elevar as mãos em oração e para estender as mãos em sinal de reconciliação e de paz.
*Artigo publicado no jornal A Tarde, em 13 de abril de 2025.