Por Nair Francisca de Jesus
Professora de Iniciação a Antropologia Cognitiva – Seminário Propedêutico Santa Teresinha do Menino Jesus
“Tudo o que é complexo tem a marca da incerteza” (E. Morin). E a educação tem essa complexidade. Ela é contínua e deve ser um processo da vida toda.
Há fases na vida do ser humano que se mantêm em todo o seu viver, a infância e a juventude. São essas primeiras experiências que o ser humano passa em seu desenvolvimento ontogênico, que são decisivas para a formação de conduta e forma de ver e ler o mundo. É aí que a educação é determinante! As pessoas aprendem a viver de uma forma, com o conviver cultural que está inserido. E as aprendizagens se tornam significativas na troca das experiências do cotidiano. Como vivemos, será como educaremos. E se, hoje, as incertezas fazem parte de um universo, não só misterioso, temeroso e irreal, é porque não fomos educados na família, na escola, na catequese (igreja), na formação profissional, na vida em geral, para conceber a realidade, bem como a necessidade de perceber e de conviver com as incertezas. Como se as incertezas não fossem importantes para nos revelar o que denominamos certezas. As certezas, só podem chegar até nós após a experiência com as incertezas.
Educar para as incertezas é promover o desenvolvimento de um ser colaborativo, nas relações que o indivíduo construirá. O viver condicionado às certezas, sem levar em conta a realidade da incerteza, que é real, complexa e temporal, coloca o ser humano em um mundo fictício, que favorece às desordens nas relações, no emocional e no processo de escolhas
A insatisfação generalizada pela busca do que ‘não se sabe o quê?’, que gera desânimo, apatia, insegurança, medo, é o reflexo da falta de uma educação já na primeira infância, e que deve perdurar por toda a vida, para ajudar no desenvolvimento do ser humano, da realidade da incerteza como algo necessário para a maturidade humana. E, ao falar em maturidade humana, refiro-me à capacidade de o ser humano se relacionar com as adversidades da vida, sem traumas.
Educar para as incertezas não é driblar o futuro com mecanismos de prevenção contra a pobreza, solidão, desemprego e outros; é desnudar no tempo presente as certezas, para que possam ser ou não possibilidades a serem alcançadas, porque aí estão as incertezas, que precisam ser reconhecidas, identificadas, acolhidas e trabalhadas. É estar apto para enfrentar os ‘NÃOS’, as perdas, as dificuldades que não fizeram parte e não foram visualizados no planejamento do cotidiano e da vida, e que surpreendem e se tornam como CERTOS.
No mundo das CERTEZAS, as incertezas são como sementes de um novo saber, de idealizar um mundo onde o presente e o futuro dialogam, revelando as surpresas das incertezas que se tornam certas para cada um de nós.
O mundo que vivemos nos pede a entrada neste processo, de nos educar para as realidades da incerteza. Um caminho que pode nos ajudar é o da fé, por ser uma vivência que apela para a recepção do emocional com o cognitivo e com o experiencial, gerando clareza e nos conduzindo à esperança.