Missa pelos 100 anos de nascimento de monsenhor Gaspar Sadoc

Salvador, 20.03.16 – Domingo de Ramos

Centenário de Mons. Gaspar SADOC da Natividade

Dom Murilo S.R. Krieger, scj

Arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil

 

 

  1. Não há, na Liturgia da Igreja (Liturgia no sentido do conjunto de celebrações da Igreja ao longo do ano, acompanhando a História da Salvação) não há nenhum domingo, nenhum dia como o Domingo de Ramos. É um domingo de contrastes: começa com a entrada solene, festiva, de Jesus em Jerusalém. É festa. Jesus é aclamado, louvado e recebido com roupas no chão, por onde deveria passar, e ramos nas mãos, para saudá-lo: Bendito o que vem em nome do Senhor, canta o povo à sua passagem. Depois, a celebração vai para outro extremo: é lida a descrição da Paixão, na voz do evangelista Lucas.. Ali é apresentado aquele Jesus sobre quem o profeta Elias fez uma profecia, 700 anos antes dos acontecimentos da Paixão e Morte: nele bateram, arrancaram sua barba, sofreu bofetões e cusparadas. E qual a reação de Jesus? Teve palavras de conforto às pessoas abatidas. Teve palavras de perdão.
  2. Por causa de sua obediência ao Pai e morte de Cruz, o Nome de Jesus foi elevado acima de todo nome. Hoje, somos nós que o proclamamos: “Jesus é o Senhor!”
  3. Este dia 20 de março de 2016 é também um dia de contrastes. Celebramos o centenário de um filho desta Arquidiocese – um filho que aos 13 anos deixou sua casa com um desejo: o de proclamar a todos, com sua vida, com seus trabalhos e com sua oratória vibrante: “Jesus é o Senhor!”
  4. Não vou descrever a sua vida, porque isso fugiria da finalidade da homilia. Aliás, para que descrevê-la se temos aqui inúmeras testemunhas do que Mons. Gaspar Sadoc da Natividade viveu e fez? Além disso, seria ingênuo e temerário querer descrever 100 anos de uma vida como a de Mons. Sadoc – uma vida que enfrentou muitas, inúmeras lutas.
  5. Se, mesmo sabendo do quanto seria ousada a tentativa de resumir 100 anos em poucas palavras, quisesse descrever a vida de Mons. Sadoc, iria, antes de tudo, entrevistá-lo. Mas já sei qual seria a sua resposta: seria a mesma que me deu quando lhe perguntei como gostaria de celebrar seu centenário. Ele me respondeu: “Não é preciso fazer muita coisa. Minha vida é muito simples!”
  6. Dos textos que li a seu respeito ou de palavras que ele próprio falou, colho apenas um testemunho que ele deu tempos atrás. Sabiamente, ele buscou passagens da própria Palavra de Deus para dizer como se sentia diante de tudo o que havia recebido em sua vida: “Graças a Deus, neste dia de Ação de Graças, agradecemos a Deus. E com o Salmo 100: Aclamai o SENHOR, terra inteira, servi ao SENHOR com alegria. Ide a Ele, com gritos jubilosos. Sabei que o SENHOR é Deus. Ele nos fez e a Ele pertencemos, somos o Seu povo, o rebanho do seu pasto. Entrai por Suas portas dando graças, com cânticos e louvor pelos Seus átrios, celebrai, bendizei o Seu nome, sim, porque o SENHOR é bom. O seu amor é para sempre, e sua verdade de geração em geração. E, continuando, peço-Vos, Senhor, com a prece que Vos fez Salomão: Não Vos peço honras, não Vos peço glórias, riquezas não Vos peço também. Dai-me a sabedoria para bem servir Vosso povo neste culto da amizade, louvando-Vos por agora, por hoje, por todos, por tudo, para sempre. Amém!”
  7. Neste dia, o sentimento mais forte que nasce no coração da Igreja que está na Arquidiocese de São Salvador da Bahia é o da gratidão. Gratidão a Deus, porque nos deu este seu filho, sacerdote no sacerdócio de Jesus Cristo. Gratidão aos pais de Mons. Sadoc, porque geraram e prepararam um filho para Deus e para a Igreja. Gratidão a Nossa Senhora da Purificação que envolveu este seu filho no seu manto de amor, o protegeu e trabalhou para formar seu coração segundo o coração de Jesus sacerdote. Gratidão à cidade de Santo Amaro, de rica história e de um filho tão ilustre como este.
  8. Certa vez, Mons. Sadoc assim se expressou: “Não sei quem foi que disse ser a memória a faculdade de esquecer. Pois bem, se ela é a faculdade de esquecer, o coração é a faculdade de lembrar”. Nosso coração em festa, Mons. Sadoc, neste Domingo de Ramos, dia de contrastes, se lembra das palavras de Paulo aos Filipenses: Jesus se fez “obediente até a morte, e morte de cruz”. O senhor, Mons. Sadoc, abraçou a obediência quando saiu pelas ruas e praças a anunciar que “Jesus Cristo é o Senhor!”; abraçou a obediência quando trabalhou no Seminário Arquidiocesano; abraçou a obediência quando assumiu paróquias, a última das quais foi esta, a de Nossa Senhora da Vitória; e abraçou a obediência quando o Jesus lhe pediu para fazer de sua cama o seu novo altar – altar onde, diariamente, eleva suas preces e oferece seus sacrifícios pela Igreja, pelos sacerdotes e pelo mundo. Com isso, Jesus Sacerdote quis lhe dizer que há muitas maneiras de servi-lo. Mas qualquer que seja a maneira por ele escolhida para ser servido, o que nunca pode faltar é o amor. Penso que essa é uma das lições mais importantes que, com o seu testemunho, o senhor nos dá, Mons. Sadoc. Muito obrigado! Realmente, conhecendo-o, concluímos: “Deus é amor!”