Mundo em Guerra

Cardeal Dom Sergio da Rocha

Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil

 

As notícias frequentes sobre a violência que acontece ao nosso redor, trazendo sofrimento e morte para tanta gente, podem levar a não dar a devida atenção aos conflitos e guerras que se multiplicam no mundo de hoje, em regiões distantes. O mundo em que vivemos é a nossa casa comum e a humanidade, com seus inúmeros rostos e culturas, é a nossa família. Por isso, a violência, perto ou longe de nós, atinge de algum modo a todos, embora com diferentes consequências e intensidade. O que não deve ocorrer é a indiferença ou a acomodação, como se a violência e as guerras fossem algo normal ou inevitável, a serem resolvidas unicamente pela força das armas. Temos assistido através dos meios de comunicação, com perplexidade e indignação, a permanência de conflitos armados e o surgimento de novas guerras.

Embora distantes geograficamente do Brasil, guerras como acontecem na Ucrânia e no Oriente Médio, dentre outras, necessitam receber a devida atenção, reflexão e iniciativas em favor da paz. O Papa Francisco tem se referido, frequentemente, a estas guerras e a outras que são esquecidas por acontecerem em regiões consideradas de menor importância geopolítica no cenário internacional. A guerra é sempre uma derrota para os países em luta e para a humanidade, atingindo cruelmente a população sedenta de paz, especialmente os mais vulneráveis, como as crianças e as pessoas idosas. Muitas cidades nas zonas de conflito têm se tornado verdadeiros campos de batalha, com a destruição de famílias e a morte de inocentes. Têm sido extremamente importantes os apelos incansáveis de Francisco pela paz mundial e os seus inúmeros esforços dirigidos aos governantes e aos líderes mundiais, ressaltando sempre o caminho do diálogo e do respeito. Um mundo em guerra não é a casa comum que queremos habitar.

As guerras acontecem com investimentos vultosos em armamentos que pretendem ser sempre mais modernos e letais. Ao invés dos gastos necessários para acabar com a fome e a miséria no mundo, gasta-se sempre mais com armamentos, empobrecendo ainda mais a população dos países em guerra. A eficiência destrutiva das armas, potencializada pelas modernas tecnologias, jamais poderá ser critério para a paz.

É preciso dizer não à violência e às guerras, jamais desistindo do caminho da paz através do diálogo, da fraternidade e do respeito. Num mundo em guerra, necessitamos ainda mais de gente que acredita na paz e contribui para que ela aconteça perto ou longe. Além do que deve ser feito pelos governantes pela paz mundial, cada um pode também contribuir para que a paz aconteça onde vivemos, na família, no bairro, no ambiente de trabalho, nas redes sociais, dentre outros espaços. “Felizes”, “bem aventurados”, são aqueles que “promovem a paz”, diz Jesus na célebre passagem bíblica das bem-aventuranças, pois “serão chamados filhos de Deus”.

Artigo publicado no jornal Correio, em 30 de outubro de 2023.