O luto na pandemia

Cardeal Dom Sergio da Rocha

Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil

Neste tempo de pandemia, as perdas têm trazido muito sofrimento, fazendo emergir a fragilidade e a grandeza de cada pessoa humana. Muita gente está sofrendo com as perdas causadas pela pandemia no campo econômico, principalmente com o crescimento do desemprego e da pobreza. Inúmeras pessoas e famílias inteiras têm sofrido ainda mais com a perda irreparável de vidas humanas, de familiares e amigos, vítimas da COVID-19. Por trás dos números trágicos de mortes, noticiados cotidianamente, estão pessoas que nos deixaram e famílias que estão sofrendo sem ter conseguido despedir-se dos que faleceram, como ocorreria normalmente. A angústia pela perda de pessoas amigas e familiares tem feito parte do cotidiano de muita gente. O processo do luto é compreensível e faz parte da vida, expressando a capacidade de sentir, de amar e de chorar. As reações diante das perdas, especialmente de pessoas queridas, variam bastante, mas na pandemia as perdas têm agravado e prolongado o processo do luto.  Como viver o luto? Como ajudar a superar o luto?

Apesar da solidão buscada por muitos, que deve ser respeitada, é difícil enfrentar sozinho as perdas, especialmente de vidas. A presença amiga, a oração, a compreensão e a solidariedade podem ajudar muito a superar perdas e a seguir em frente. Há casos de desgaste emocional maior em que a ajuda especializada de profissionais da saúde pode ser necessária no processo do luto. Em qualquer situação, é sempre muito importante expressar os sentimentos. Emocionar-se e chorar é próprio do ser humano.

O olhar da fé permite seguir em frente com esperança e forças para caminhar. Perante as enfermidades e a morte, a fé ilumina e anima. Pesquisas têm sido realizadas demonstrando a importância da espiritualidade em processos de cura ou em situações de sofrimento. Contudo, não se trata de uma técnica que se adquire por um treinamento intensivo, embora os exercícios espirituais exijam esforço e regularidade. É preciso percorrer o itinerário da fé, passo a passo, no dia a dia, para estar espiritualmente forte nos momentos de provação, principalmente no luto. A atitude de fé é dom e tarefa, fruto do amor de Deus, cultivada num processo longo de crescimento, purificação e amadurecimento.

A fé não se restringe à esfera pessoal ou à vida privada. É na comunidade que as pessoas encontram apoio fraterno e forças para caminhar, principalmente quando vivem o luto. Por isso, neste tempo de pandemia, a comunidade religiosa tem uma contribuição fundamental para oferecer a quem está passando pelo luto: a luz da fé, a força do amor de Deus e do amor fraterno, a esperança, a consolação e a paz. Sofrer com quem sofre, trazendo no coração a esperança enraizada na fé em Jesus Ressuscitado, não somente por iniciativas pessoais, mas também pelo serviço pastoral assumido em comunidade, como a Pastoral da Esperança, importante trabalho de apoio às famílias enlutadas.

*Artigo publicado no jornal A Tarde, em 18 de julho de 2021.