“A missão é a própria identidade da Igreja chamada a manifestar ao mundo a misericórdia de Deus na alegria do Evangelho”. A afirmação faz parte das conclusões do 1º Simpósio Internacional de Missiologia realizado em Porto Rico, com o objetivo de aprofundar a reflexão missionária e o compromisso das Igrejas locais com a missão permanente.
O evento reuniu, nos dias 28 de setembro a 01 de outubro, na casa de retiro Manresa em Aibonito, cerca de 100 representantes das Pontifícias Obras Missionárias (POM), organismos e conferências episcopais de 21 países do Continente americano. Eram leigos e leigas, religiosos e religiosas, padres, bispos, diáconos, teólogos, biblistas e animadores missionários empenhados na preparação do 5º Congresso Missionário Americano (CAM 5), a realizar-se em julho de 2018 em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia. Do Brasil participam o diretor das POM, padre Camilo Pauletti e o secretário da União Missionária, padre Jaime C. Patias.
O Simpósio aconteceu em um contexto eclesial significativo: no ano da Vida Consagrada, no calor das recentes visitas do papa Francisco a pelo menos cinco países do Continente, nas celebrações dos 50 anos do Decreto conciliar Ad Gentes e às vésperas da abertura do Ano da Misericórdia (8 de dezembro de 2015 a 30 de novembro 2016).
Ao apresentar a síntese dos trabalhos, o secretário da Conferência Episcopal da Bolívia e membro da Comissão organizadora do CAM 5, dom Eugênio Scarpellini, destacou a ampla participação das instâncias eclesiais no processo. “É importante que as reflexões das conferências e fóruns realizados no Simpósio sejam enriquecidas e aprofundadas em todas as Igrejas locais do Continente”, afirmou o bispo.
Os debates tinham como pano de fundo o tema geral do próximo CAM: “A Alegria do Evangelho, coração da missão profética, fonte de reconciliação e comunhão”. O estudo teve por objetivo refletir sobre as fontes bíblicas e teológicas da Missão para animar o testemunho e o compromisso da Igreja missionária.
A programação incluiu cinco conferências que, a partir de diferentes enfoques, lançaram luzes sobre a reflexão missiológica atual. Os temas eram, na sequência, aprofundadas em seis grupos de trabalhos e fóruns temáticos. “O anúncio da Boa Nova, alegria e esperança que salva de toda a situação de pecado pessoal, comunitário e social, é dirigida a todos para que se convertam, se salvem e vivam em comunhão e comunidade. Em especial, é Boa Notícia de vida e amor aos pobres, marginalizados e excluídos”, destaca um trecho do documento conclusivo. “A Igreja é misericordiosa na medida em que vive uma profunda conversão pastoral, sai ao encontro dos mais afastados e fomenta caminhos de reconciliação em todos os âmbitos da vida”. A missão não é somente para especialistas, mas é “tarefa de todos os batizados”, complementa o documento.
Sobre a formação do discípulo missionário, o Simpósio reforçou a necessidade de “retomar a centralidade da Palavra de Deus, impulsionar a conversão pessoal, comunitária e pastoral, para o anúncio da alegria do Ressuscitado”. O missionário é, em primeiro lugar, “um discípulo alegre que encontrou com Jesus. Enviado aos povos, deve ser testemunho de vida e esperança, pessoa de reconciliação, misericórdia e comunhão; inserir-se na realidade, ser pessoa de oração, e livre para denunciar as escravidões e injustiças”.
Desafios
Entre os desafios apontados estão a urgência de transmitir a alegria da Boa Notícia em diferentes ambientes (seminários, juventudes, religiosidade popular, famílias, cultura digital, política, economia, etc.), superar o medo da complexidade do mundo, pois temos a alegria do Evangelho; aprofundar a preparação e a formação dos missionários; impulsionar a conversão pastoral da Igreja; intensificar a unidade da Igreja num caminho de reconciliação; defender a criação e cuidar da casa comum.
Em sintonia com a reflexão missiológica da Igreja e os documentos das conferências do CELAM, os participantes do Simpósio reforçaram a necessidade de o Continente americano assumir “a Missão Ad Gentes como um compromisso de todos os batizados, a começar pelos bispos, presbíteros, religiosos e religiosas, leigos e leigas que são parte do processo de planejamento, programação, formação, missão e avaliação”.
Insistiram ainda, para que a formação ad gentes seja parte da catequese, da teologia nos seminários e em outras instâncias formativas. Nessa tarefa, destacaram o papel do CELAM e a importância de tornar as POM mais conhecidas trabalhando em sintonia com as comissões missionárias nas Conferências Episcopais e o Departamento de Missão do CELAM.
A réplica da Cruz Missionária, um dos símbolos do Congresso na Bolívia em 2018, deve peregrinar pelos países do continente. A cruz traz as relíquias da primeira boliviana Bem-aventurada, a religiosa Nazaria Ignacia. Entre outras iniciativas estão previstos também Congressos Missionários Nacionais.
O Simpósio encerrou com missa, na paróquia São José, no centro de Aibonito, seguida de um momento cultural com música, danças e comidas típicas da região. Presidiu a celebração o bispo da diocese de Caguas, dom Rubén Antonio González Medina. “Com Cristo sempre nasce e renasce a vida. Os missionários e missionárias que têm no coração o fogo do Espírito de Deus devem sair à frente. O Evangelho é fonte de alegria e nós somos portadores dessa alegria”, afirmou dom Ruben em sua homilia na festa de Santa Teresinha, Padroeira das Missões.
No processo de preparação para o CAM 5 está previsto um segundo Simpósio de Missiologia, em fevereiro de 2016, no Uruguai.
Por Jaime C. Patias, via POM