No programa das viagens missionárias do Papa Francisco, sempre há espaço para um encontro ecumênico – portanto, com cristãos vinculados a outras denominações religiosas, ou, mesmo, para um encontro inter-religioso, com representantes de religiões não cristãs. Em tais momentos é dado um passo de comunhão entre os participantes – pequeno, mas importante passo.
Os encontros ecumênicos são envolvidos por uma promessa, uma certeza e um presente.
A promessa: “Derramarei o meu espírito sobre todos os viventes… Então estará a salvo todo aquele que invocar o nome do Senhor nosso Deus” (Jl 3,1.5). O profeta Joel anuncia a efusão universal do Espírito Santo. Segundo ele, todos serão beneficiados por esse derramamento. Por ocasião da vinda do Espírito Santo (Pentecostes), em Jerusalém, essa promessa se cumpriu. Deus continua derramando seu Espírito sobre nós. A santidade é obra do Espírito Santo; o mesmo se diga da unidade dos discípulos de Cristo.
Uma certeza: Por Jesus Cristo, num só Espírito, temos acesso junto ao Pai. Por ele, somos membros da família de Deus. Em Cristo, somos chamados a ser habitação de Deus no Espírito (cf. Ef 2,17-22). Ter aceso junto de Deus, ser membro da família divina, ser morada de Deus…: Deus nos dá uma vocação sublime, imensa, grandiosa. E, no entanto, facilmente ficamos presos a nossos pequenos projetos, às nossas próprias ideias, aos nossos pequenos horizontes…
Um presente: “O Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que vos deixei” (cf. Jo 14,25-31). Na Igreja, o Espírito Santo é Mestre e memória – isto é, aquele que nos recorda tudo. Com o Espírito Santo, nos é dada a paz. Onde faltam a paz e a unidade, é sinal de que sua ação não está acontecendo.
Os encontros e as celebrações ecumênicas, que acontecem pelo mundo todo em grande número, desde o Concílio Vaticano II (1962-1965), seriam impensáveis alguns séculos atrás. Se cada uma das Igrejas continua crendo no que acreditava, o que mudou? O que tornou possível os encontros e as celebrações atuais?
Creio que o que mudou foi a nossa capacidade de ver o outro não como um adversário, mas como um irmão. O que mudou foi nossa capacidade de diálogo – e diálogo supõe, antes de tudo, ter a disposição de escutar o outro e de conhecer as razões de sua esperança. O que mudou foi a convicção de que o ecumenismo não é algo acessório, um apêndice em nossas Igrejas, mas uma dimensão que não pode faltar em nossa vida, já que nosso Mestre e Senhor se despediu do mundo rezando pela unidade de seus discípulos.
Há os que dizem que o primeiro milênio foi o da Igreja indivisa; o segundo, o das divisões e da multiplicidade. Esperemos que o terceiro milênio possa ser definido como o da diversidade reconciliada no interior da unidade.
No caminho ecumênico há muitos obstáculos e dificuldades. Isso não nos deve levar ao desânimo, mas nos encorajar e nos incentivar ao diálogo. Um diálogo nesse campo não pode ser caracterizado pelo indiferentismo – como se não houvesse entre nós, cristãos, divergências doutrinais importantes. Também não podemos ser levados pelo relativismo ou, pior, pela superficialidade. Afinal, cabe-nos buscar a verdade, e a verdade não é nossa, é de Deus.
Sim, temos ainda um longo caminho a percorrer, na busca da unidade. Embora reconheçamos que esse caminho é cansativo, sabemos também que é cheio de esperança, uma vez que o Espírito Santo é capaz de surpresas.
Nosso trabalho ecumênico deve fundamentar-se em uma tríplice convicção: 1a) Cristo não está dividido; consequentemente, também a Igreja não pode ser dividida (cf. 1Cor 1,13). Como Corpo de Cristo, a Igreja é indivisível. A realidade das divisões tem sua origem histórica na fragilidade humana. 2a) A unidade não é produzida por nós; ela nos é dada; ela é dom do Espírito Santo. Nosso trabalho consiste em buscar a sua realização. 3a) No caminho da unidade, a oração é fundamental. Unamo-nos, pois, à oração de Jesus: “Pai, que todos sejam um” (Jo 17,21).
Dom Murilo S.R. Krieger, scj
Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil