“Viva a Mãe de Deus e nossa, sem pecado concebida! Viva a Virgem Imaculada, a Senhora Aparecida!” Quantas vezes, cada dia, esse canto eleva-se aos céus, em grandes igrejas, em pequenas grutas e em humildes casas de nosso povo, num testemunho de filial confiança na Mãe de Deus? Em nenhum outro lugar ele tem tanta força e sentido como na Basílica de Aparecida. Quando o romeiro entra naquela casa de Maria, ouve esse canto e passa a cantá-lo também, esquece a longa viagem e o cansaço, e diz para si mesmo: “Que bom que eu vim! Valeu!”

Poucos santuários marianos têm uma história tão simples como o de Aparecida. Em 1717, três pescadores lançavam as redes nas águas do Rio Paraíba. De repente, encontraram um corpo e, depois, a cabeça de uma pequena imagem de cerâmica enegrecida pelo lodo. Seguiu-se uma pesca abundante e, mais importante: começou, naquela região, um culto popular a Nossa Senhora da Conceição. No início, os encontros de oração eram nas próprias casas dos pescadores; depois, em pequenas capelinhas; com o tempo foram sendo construídas igrejas cada vez maiores. Multiplicaram-se as graças, aumentou sempre mais o número de romarias e a imagem passou a ser chamada carinhosamente de “Aparecida”.

Milhões de pessoas se dirigem, cada ano, a Aparecida. Em 1980, a Basílica recebeu um peregrino especial: João Paulo II. Esse Papa fez ali duas perguntas: “O que buscavam os antigos romeiros? O que buscam os peregrinos de hoje?” Ele mesmo respondeu: “Aquilo mesmo que buscavam no dia do Batismo: a fé e os meios de alimentá-la. Buscam os sacramentos da Igreja, sobretudo a reconciliação com Deus e o alimento eucarístico. E voltam revigorados e agradecidos à Senhora, Mãe de Deus e nossa”.

Quem melhor pode testemunhar o que é Aparecida são os romeiros. Mas é preciso estar atento, sobretudo, a seus gestos. Normalmente, quem visita Aparecida não sabe externar, em palavras, sua alegria e seus sentimentos. É necessário, pois, estarmos atentos ao seu olhar e à sua oração, que testemunham um mistério: o mistério de um coração que se volta para Cristo, sob a orientação de Maria. Em Aparecida, portanto, não perca de vista os sinais. Foi por eles que Deus começou falando; é através deles que continua revelando o que só os olhos da fé são capazes de ver.

Em Aparecida, Maria é invocada como padroeira e mãe. Sua função maternal em relação aos homens de modo algum ofusca ou diminui a única mediação de Cristo; antes, manifesta sua eficácia. Se o sacerdócio de Cristo pode ser participado pelos batizados e, de modo especial, pelos que recebem o sacramento da Ordem, por que alguém não poderia participar de sua mediação?

Em Aparecida, o povo se une a Maria através de muitas expressões de fé: celebrações, novenas, rosário… Depois, levam para suas comunidades o que ali aprendem. Levam o apelo para, em família, lerem diariamente a Palavra de Deus e rezarem o Terço; para participarem intensamente da vida de sua paróquia e se dedicarem aos mais necessitados. Descobrem que, dessa maneira, Maria Santíssima pode, com mais facilidade, conduzir cada família pelos caminhos de Jesus.

Aparecida é fonte de compromisso com Deus e com os irmãos. O peregrino, tendo passado algumas horas na Casa de Maria, volta para sua cidade com uma orientação clara, dada pela Mãe de Jesus: “Fazei tudo o que ele vos disser!” (Jo 2,5). Ali, como em Caná, Maria está atenta às necessidades de seus filhos e quer que eles, por sua vez, prestem atenção às palavras de Jesus. Ela sabe que esse é o primeiro passo que deve ser dado pelos que quiserem ser discípulos missionários do seu Filho.

A imagem de Aparecida nos lembra aquela que, desde toda a eternidade, ocupa um lugar especial no Coração do Pai e, tendo sido envolvida pela sombra do Espírito Santo (cf. Lc 1,35), tornou-se Mãe de Jesus. Essa mãe tem uma multidão de filhos que, alegres, ao longo desse imenso Brasil, não se cansam de cantar: “Viva a Mãe de Deus e nossa, sem pecado concebida! Viva a Virgem Imaculada, a Senhora Aparecida!”

Dom Murilo S.R. Krieger, scj

Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil