Uma noite memorável

IMG_7102O fiel que participa das celebrações do Tríduo Pascal percebe que há um movimento presente nelas que tende a envolvê-lo de diversos modos, destacando o valor do apelo aos sentidos.

Através dos ritos, os olhos, os ouvidos, o olfato, o paladar, à luz da fé, colocam o fiel diante do fato decisivo da história: o mistério da Páscoa do Senhor. De modo privilegiado isso acontece na celebração do Sábado Santo, durante a Vigília Pascal. Santo Agostinho a chamava de mãe de todas as Vigílias, seja pela sua solenidade, como também pelo fato de ser ela o sentido de toda a expectativa que acompanha a existência cristã.

De fato, ela foi a primeira Vigília a ser organizada pela comunidade cristã, como uma noite de vigília, de oração e de escuta da Palavra, concluindo com a celebração eucarística. Os cristãos do início lhe deram um valor escatológico; tinham a convicção de que Cristo retornaria numa noite de vigília pascal, também por isso estendiam a celebração até o raiar do domingo da Páscoa.

A celebração do mistério pascal, ao mesmo tempo que evoca os últimos passos da vida de Cristo sobre a terra, revive e atualiza a participação dos batizados na passagem das trevas para a luz. A liturgia desse dia assume uma extraordinária riqueza de sentido através da abundância de símbolos: a) o rito do fogo e da luz, recordando a coluna de fogo que guiou Israel pelo deserto, coloca-nos diante da verdadeira luz que iluminou a humanidade inteira, Cristo, que ao ressuscitar venceu as trevas que rondam a história;este rito culmina com uma explosão de louvor e de alegria no canto do Exultet; b) a liturgia da Palavra, uma espécie de síntese de toda a história da salvação, pois esta noite é memorável, uma vez que não se pode esquecer a ação do braço forte de Deus em favor do seu povo, desde a criação até à sua manifestação definitiva na vitória do Cristo ressuscitado; c) a liturgia da Iniciação cristã, atualiza o fato da ressurreição de Cristo na vida dos novos cristãos, que recebem nos sacramentos a vida nova do Ressuscitado para viverem de acordo com a Lei nova do Espírito; aqui também os cristãos tomam consciência nova de sua pertença a Cristo, fazendo memória do próprio batismo ao renovarem as promessas do batismo e receberem a aspersão da água abençoada na noite santa; d) a celebração se encaminha para o seu ápice na celebração eucarística que não é apenas a última parte da Vigília, mas o seu sentido, uma vez que tudo procede de Cristo e se encaminha para Ele. Aqui se proclama a ressurreição do Senhor e se espera a sua última vinda (cf. 1Cor 11, 26; 16, 22; Ap 22, 17.20).

A liturgia do Sábado Santo não é um espetáculo, mas uma porta que nos permite ser visitados pelo Mistério central da nossa fé, e fazermos, como os primeiros discípulos, a experiência do encontro com o Ressuscitado que se deixa tocar nos sinais que garantem a sua presença no meio de nós, os sacramentos.

A frutuosa celebração da Páscoa garante não apenas a renovação pessoal na busca da santidade, mas o necessário impulso missionário daqueles que fizeram a experiência do encontro com Cristo.   Que ao sairmos da celebração possamos dizer com Maria Madalena às pessoas que encontramos no caminho: “Eu vi o Senhor” (Jo 20, 18).

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Dom Gilson Andrade da Silva

Bispo auxiliar da Arquidiocese de São Salvador da Bahia

 

Fotos: André Machado