Olhar para a cruz e saber o que comunicar

A missão do pasconeiro na pandemia

Marcus Tullius[1]

A celebração anual da Páscoa, ápice do ano litúrgico e da vida dos crentes, é um convite a mergulhar no dom mais precioso do Pai à humanidade: seu Filho. A contemplação da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo é a consumação da comunicação perfeita de Deus. A Palavra que se fez carne agora se faz silêncio na cruz, no sepulcro e no coração dos discípulos e discípulas, mas não um silêncio vazio. Um silêncio de esperança que ganha fôlego com a luz da Ressurreição.

Olhar para a cruz e saber o que comunicar deve ser premissa para a missão do pasconeiro nestes tempos de pandemia. Olha para a ressurreição e encontrar a força necessária para anunciar a vitória da vida. A missão do comunicador cristão em todo o tempo é a de ser um mantenedor da esperança. Se os noticiários ou as telas de nossos smartphones, ou se simplesmente abrimos as janelas de nossas casas, os ventos não são favoráveis. Estamos diante de um colapso da saúde, terríveis recordes de infectados e mortos pela covid-19, uma ineficiência do poder público ao não tomar medidas eficazes para o combate ao coronavírus. No âmbito eclesial, nossas igrejas-templo fechadas, ou com restrições, se abrem ao digital para chegar às igrejas-casa.

Neste visível caos, o agente da Pastoral da Comunicação tem o desafio de ser comunhão. Para cumprir sua missão, ele não pode ver seu trabalho apenas como um apertar de botões, conexão de fios, interações… mas o que faz é transmitir uma experiência de fé. Se esta não acontece verdadeiramente, o seu trabalho é em vão. Por isso, a espiritualidade é o eixo que sustenta todos os outros. Uma espiritualidade vazia, não produz, não forma e não articula. Aí reside o segredo para servir bem!

Ao servir, procure sempre ter a consciência de sua pequenez diante do grande mistério do qual é colaborador e que ali está não por privilégio. No apóstolo Paulo encontramos uma motivação para tal: “é antes uma necessidade que me é imposta. Ai de mim, se eu não anuncio o Evangelho!” (Cf. 1 Cor 9,16) E este anúncio é sempre novo, sempre presente, sempre radicado na realidade eclesial local. Cada comunidade, paróquia ou diocese se torna um amplo campo para missão, para a mesma missão à qual fomos chamados. Essa bela diversidade é a riqueza daqueles que se deixam conduzir pelo Espírito e não querem simplesmente reproduzir práticas ou conteúdos. A comunicação é dinâmica e viva.

Retomando a primeira afirmação de que a missão do comunicador é ser mantenedor da esperança, encontramos nas palavras do Papa Francisco uma feliz motivação para este exercício. Mesmo depois de um ano de pandemia, ainda tentamos desvendar os mistérios deste vírus invisível que já ceifou tantas, vidas, que mudou tantas rotinas e que, acima de tudo, deve nos ensinar a ser mais humanos. “Quem, com fé, se deixa guiar pelo Espírito Santo, torna-se capaz de discernir em cada evento o que acontece entre Deus e a humanidade, reconhecendo como Ele mesmo, no cenário dramático deste mundo, esteja compondo a trama duma história de salvação. O fio, com que se tece esta história sagrada, é a esperança, e o seu tecedor só pode ser o Espírito Consolador. A esperança é a mais humilde das virtudes, porque permanece escondida nas pregas da vida, mas é semelhante ao fermento que faz levedar toda a massa.” (Papa Francisco, Mensagem para o 51º Dia Mundial das Comunicações Sociais, 2017)

O pasconeiro é um artesão que tem nas mãos o fio da esperança. Ele não pode fiar sozinho a história, mas deve estar possuído pela Palavra, pelo Espírito e aí será capaz de contar belas histórias e encontrar as pessoas onde estão e como são. Da ponta dos dedos aos corações, “do like ao amém!”

[1] Filósofo e publicitário. Coordenador geral da Pascom Brasil, membro do Grupo de Reflexão em Comunicação da CNBB e coordenador de conteúdos da Tv Pai Eterno.