A Igreja vivencia, até o dia 23 de dezembro, o período litúrgico do Advento – a espera do nascimento do Menino Jesus. Para melhor compreender este momento, a Pastoral da Comunicação entrevistou o pároco da Catedral Basílica, padre Lázaro Muniz. Acompanhe este bate-papo!

Pastoral da Comunicação (Pascom) – O que é o Advento?

Padre Lázaro Muniz – O Advento é um caminho de preparação. É uma etapa que antecede justamente o período do natal para ajudar os cristãos, os fiéis, a uma preparação mais imediata. O Advento traz duas características muito profundas: uma é já como Igreja clamar pela volta do Senhor. Por isso, os primeiros dias do Advento é a súplica da Igreja pela segunda volta de Jesus. Então é quando nós clamamos até o dia 16 de dezembro mais ou menos; a outra característica é que do dia 17 em diante é a preparação imediata para celebrar o evento que já aconteceu. Então, nós celebramos o mistério de Cristo já encarnado. Jesus já está encarnado, e nós clamamos que Ele volte logo para completar a salvação que Ele anunciou com a Sua Paixão e Morte. Então o Advento tem essas duas características de clamar a vinda de Jesus e agradecer porque Jesus já se encarnou no meio de nós, já é o Emanuel, o Deus conosco.

Pascom – E como as pessoas podem se preparar para esse momento, para a chegada de Jesus?

Padre Lázaro – A preparação acima de tudo exige uma disposição de coração, uma abertura de coração, uma simplicidade, o presépio aí é um exemplo dessa simplicidade, um despojamento. A figura de João Batista vai dizer isso com muita força: arrependei-vos, mudai de vida, deixai a arrogância, a prepotência, o Senhor está para chegar, e é esse Senhor que está para chegar que nos quer livres de todas as amarras, de todas as misérias, de todas as dores, para encontrar uma manjedoura em qualquer lugarzinho no recanto do nosso coração. Ele quer habitar, Ele quer ser o Deus com o Seu povo, que o considera o Emanuel. A nossa preparação tem que ser essa: a busca constante de viver o amor, de respeito, de alegria e também de celebrar. Celebrar o mistério de Cristo já encarnado. O evento Cristo deve ser celebrado com muita alegria, com sinais, com símbolos, com festa, com a ceia natalina, com tantas coisas que o povo é capaz de preparar, com tanta alegria para poder dizer: bem-vindo, Senhor! Vem Senhor, salvar o Teu povo! Obrigado porque o Senhor já está encarnado no meio de nós.

Pascom – O Natal é tempo de perdão. Seria também o momento ideal para o Sacramento da Confissão?

Padre Lázaro – É sempre bom, é um caminho de preparação, de preparar o coração, de preparar a vida. Claro que o Advento não tem a característica penitencial como a Quaresma. Quaresma tem a experiência mais profunda porque ela nos associa à Paixão de Jesus. O Advento também é tempo de reconciliação, porque quando o Senhor diz ‘preparai os caminhos, abri, endireitai as estradas, aplainai os montes para dizer: tira do seu coração, tira da sua vida aquilo que atrapalha a chegada de Jesus, aquilo que atrapalha a vinda de Jesus’. Isso faz também a necessidade de um caminho de reconciliação, de perdão, de busca. Fazer o Sacramento da Confissão é importantíssimo também porque sempre devemos fazer, nunca devemos deixar o pecado tomar conta das nossas vidas.

Pascom – Como se caracteriza a liturgia no período do Advento?

Padre Lázaro – A liturgia do Advento vai mudando alguns aspectos. Mudamos a cor para um roxo e um rosáceo, não é aquele roxo mais encorpado como no tempo da Quaresma porque a Quaresma é mais penitencial, mas é um tempo também de preparação. E para preparar precisamos também purificar, transformar, mudar as atitudes, mudar o ambiente e renovar esse ambiente que é o coração de cada homem com sinais e com atitudes concretas de amor, com a busca de uma perseverança maior. Então, mudam-se as cores, os cânticos também têm outro significado, vai-se criando dentro das comunidades e igrejas toda uma simbologia que ajuda a vivenciar cada etapa desse período do Advento e a preparação para o Natal.

Pascom – O que as velas significam?

Padre Lázaro – Nós quando falamos de Advento, falamos de expectativa, falamos de espera. É como aquelas virgens prudentes que estavam com a lâmpada acesa. É a Igreja que está com a lâmpada acesa na expectativa na chegada do Seu Senhor, a chegada do Messias. Então, a Igreja vai ao longo dessas quatro semanas do Advento na expectativa da chegada do Seu Senhor. A cada semana se acende uma luz para conter a luz da expectativa para a chegada do Messias, e aí a cada semana se faz uma solenidade para, de fato, traduzir na liturgia aquilo que o coração está desejando, que é a chegada do Messias.

Pascom – Qual o significado dos ramos verdes e do sino?

Padre Lázaro – Os ramos com a cor verde, os paramentos, é esse sinal de esperança. O Natal traz características muito próprias de outro lugar, no hemisfério Norte, com neve. Então, encontrar um ramo vivo era esse sinal de que mesmo embaixo de todas as dificuldades, de todas as dores, de toda a neve havia vida, e é essa vida que depois brota com todo a intensidade, com toda a força, é essa vida que nós celebramos. Por isso, os ramos verdes, por isso as velas para manifestar a luz; as velas deveriam ser de uma cor única porque é um círculo de expectativa. Agora quando tem as cores é para nos ajudar a entender em cada tempo o que é válido. O verde é a esperança; o branco é para manifestar a dimensão da paz; o vermelho é para lembrar a fé, a vida; o rosa é para lembrar essa alegria. Aliás, o rosa vai aparecer duas vezes na liturgia: no Advento e na Quaresma, para celebrar um domingo dentro desse ciclo toda a manifestação dessa alegria da chegada do Messias. Então, estamos celebrando, vibrando, sabendo que Ele já está no meio de nós, mas que nós queremos que Ele volte logo para finalizar em nós esse processo de salvação, para que a salvação aconteça para que assim sejamos todos livres em Jesus Cristo.

O sino, o som sempre foi para anunciar a vida, anunciar que os homens estão vibrando, estão com disposição para viver. O sino no Natal é para anunciar que esse dia festivo chegou e que Jesus está no meio de nós, que o Messias está encarnado, a estrela de Belém não foi uma quimera, mas foi uma verdade. O menino nasceu e está conosco, então no Natal a gente vai tocar os sinos para dizer que Ele vive, que está ressuscitado, Ele está no meio de nós, Ele é o Emanuel, o Deus conosco.

Pascom – O que o presépio representa?

Padre Lázaro – O presépio nasceu com uma intuição de São Francisco de Assis de ser um instrumento catequético, de aproveitar das peças que são da narrativa bíblica, criando as peças que são da forma de explicação catequética, de ajudar os fiéis a compreenderem melhor como foi mesmo aquele dia do nascimento de Jesus, qual foi o mistério de estar ali. Por isso no presépio tem animais, no presépio tem palhas, no presépio tem José e Maria, tem o Menino Jesus, tem os reis magos que vão chegando depois, nesse sentido de ser um instrumento catequético, de ir formando as pessoas de que o nascimento de Jesus é um mistério especial e profundo para a nossa vida, para a nossa caminhada. Então, o  Natal vai se revestir desse mistério profundo e o presépio será um instrumento para isso.