Tema da CF 2016 é debatido em audiência pública na Câmara Municipal

 o arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, participou da audiência pública sobre o tema da CF 2016, no Centro de Cultura da Câmara Municipal
O arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, participou da audiência pública sobre o tema da CF 2016, no Centro de Cultura da Câmara Municipal

Em Cotegipe, no oeste baiano, 280 famílias consomem água contaminada, o que pode causar doenças como hepatite A e febre tifóide. A situação levou o Ministério Público do Estado da Bahia a intervir e cobrar providências da Prefeitura, responsável pelo fornecimento nesta cidade.

Na capital baiana, ainda há aproximadamente 30 mil pessoas sem acesso a rede de esgoto, número correspondente a 1% da população soteropolitana, segundo as últimas informações do IBGE sobre o assunto, referentes ao ano de 2010.

Este cenário preocupante mobiliza a Igreja no ano de 2016, através da Campanha da Fraternidade, cujo tema é “Casa comum, nossa responsabilidade” e o lema: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5, 24).

A preocupação da Igreja com o saneamento básico no país tem gerado debates no plano político, por isso, nesta quinta-feira, uma audiência pública reuniu pesquisadores, representantes da prefeitura, o arcebispo de Salvador e primaz do Brasil Dom Murilo Krieger e integrantes de grupos e movimentos da Arquidiocese no Centro de Cultura da Câmara Municipal.

A iniciativa do vereador Joceval Rodrigues (PPS) teve como objetivo debater o tema da CF 2016. Na abertura do evento, o edil lembrou o que determina a lei federal nº 11.445/2007, que institui as regras para os serviços de abastecimento público de água potável; coleta, tratamento e disposição final adequada dos esgotos sanitários; drenagem e manejo das águas pluviais urbanas, além da limpeza urbana e o manejo dos resíduos sólidos.

Apesar da legislação específica, “mais de 400 mil crianças no Brasil procuram a rede pública por diarréia em virtude de não terem água de qualidade. 18% da população infantil que não tem acesso a um saneamento básico adequado têm baixa qualidade de aprendizado”, afirmou Joceval Rodrigues.

Para Dom Murilo, o bem comum exige cuidado e responsabilidade comuns. “A Igreja não tem soluções técnicas para este problema, mas há pessoas qualificadas que estudam isso. O que cabe à Igreja é formar as pessoas para promover uma mudança de comportamento”, explicou.

Cidade desigual

população debateu problemas relacionados ao saneamento básico em Salvador
A população debateu problemas relacionados ao saneamento básico em Salvador

O geólogo Ronaldo Lírio sinalizou que Salvador possui diferentes tipos de habitação. “Enquanto existe uma área da cidade em que as pessoas têm acesso a bens que proporcionam conforto, como TV e ar condicionado, há casas construídas em encostas, de madeirite, com padrão habitacional precaríssimo, então, existem duas cidades e isso tem implicações fortes sobre nossa casa comum”, afirmou.

De acordo com o especialista, há locais onde a coleta de lixo não chega e a vulnerabilidade deixa as pessoas sem opção de onde descartar os dejetos. “Em áreas como Canabrava, não adianta fazer contenção de encostas, é importante haver uma política de urbanização”, defende. Os desníveis na formação da cidade resultam no fato de que os detritos gerados nas áreas de encostas, localizadas em locais mais altos, chegam à praia pelo esgoto contaminado.

A presidente da Fundação Mário Leal Ferreira, Tânia Scofield, representou em números a desigualdade social em Salvador. “O nosso IDH [Índice de Desenvolvimento Humano, medida usada pela ONU para classificar as cidades segundo a qualidade de vida das pessoas] é de 0,68 e considerando que o máximo é 1, estamos na média, mas temos áreas de IDH de 0,57 (Subúrbio, Nova Constituinte) e áreas com 0,98 (Vitória), numa variação que vai do Haiti a cidades do norte da Europa, se fizermos uma comparação”, afirmou.

O coordenador da ASA (Ação Social Arquidiocesana), padre José Carlos lembrou a importância de resgatar e colocar em prática projetos de coleta seletiva do lixo, o plano municipal de saneamento básico, que não existe em Salvador, além de medidas como a atenção redobrada ao funcionamento da rede de esgoto e uma campanha de conscientização da população. “Se a população não compra a ideia, não há como o governo executar a política”, alertou.

Fotos: Luana Assiz