Padre Elton Santana
Coordenador da Pastoral Vocacional Arquidiocesana e formador da etapa Propedêutica
O Dia Mundial de Oração pelas Vocações (DMOV) foi instituído no ano de 1964, no contexto da realização do Concílio Vaticano II, pelo beato Papa Paulo VI. A leitura das mensagens publicadas pelos papas ao longo das cinquenta e três edições desta jornada mundial de oração, revela que esta iniciativa, bem como a criação da própria Pastoral Vocacional, nasce como uma resposta da Igreja à crise das vocações.
A crise vocacional, a qual muitos se referem nos dias atuais, não é uma realidade nova. Na primeira mensagem escrita pelo Papa Paulo VI, por ocasião deste dia, o já mencionado pontífice descreve os elementos desta crise numérica das vocações com palavras que parecem se referir a nossa situação hodierna:
Sim, hoje como naquele tempo, a messe é abundante, mas os operários, pouco numerosos: poucos em comparação com as aumentadas necessidades do cuidado pastoral; poucos perante as exigências do mundo moderno, aos seus clamores de inquietação, às suas necessidades de clareza e de luz, que requerem mestres e pais compreensivos, abertos e atualizados; poucos ainda, com respeito aqueles que, embora distantes, indiferentes ou contrários, contudo querem ver no sacerdote um modelo vivo e irrepreensível da doutrina que professa [1].
Uma reflexão mais profunda sobre o tema da crise das vocações, ainda que este não seja o escopo deste texto, revela que o aspecto numérico da referida crise é apenas uma face da mesma, mas não a sua origem. O problema do insuficiente número das vocações sacerdotais e religiosas lança suas raízes numa crise mais séria e fundamental que atingiu não apenas a sociedade, mas também os cristãos, a saber: a da fé.
No Motu Proprio de convocação do Ano da Fé, o Papa Bento XVI, assim expressou-se sobre esta crise de fé:
Sucede não poucas vezes que os cristãos sintam maior preocupação com as consequências sociais, culturais e políticas da fé do que com a própria fé, considerando esta como um pressuposto óbvio da sua vida diária. Ora um tal pressuposto não só deixou de existir, mas frequentemente acaba até negado. Enquanto, no passado, era possível reconhecer um tecido cultural unitário, amplamente compartilhado no seu apelo aos conteúdos da fé e aos valores por ela inspirados, hoje parece que já não é assim em grandes setores da sociedade devido a uma profunda crise de fé que atingiu muitas pessoas [2].
Este contexto no qual nascem as primeiras ações de promoção das vocações bem como a própria PV, definem a sua ação. Inicialmente, o trabalho da Pastoral Vocacional está orientado para sanar este problemático quadro de indigência das vocações. Isto faz com que a recém nascida PV seja compreendida como uma espécie de ação emergencial da Igreja e não como “expressão estável e coerente da maternidade da Igreja, aberta ao Plano irrefreável de Deus, que sempre nela gera vida”.[3]
A compreensão mais aprofundada do quadro da crise, o desenvolvimento da chamada teologia da vocação e a evolução da experiência pastoral da Igreja faz com que esta acepção negativa da PV ceda, gradativamente, espaço a uma concepção mais positiva: a referida pastoral não pode mais ser entendida “como fruto pouco improvisado da emergência, mas como expressão da identidade profunda da Igreja e de seu modo de ser normal, como comunidade de chamados e chamadores.”[4]
O Dia Mundial de Oração pelas Vocações, por fim, que neste ano será celebrado no dia 17 de abril, é uma resposta de fé da Igreja frente ao contexto acima mencionado. Não se trata, apenas, de uma das atividades do calendário vocacional, mas de um ato de fé e de obediência a Cristo que mandou-nos rogar ao Senhor da Messe que envie novos operários.
[1] PAULO VI, Papa. Mensagem do Dia Mundial de Oração pelas Vocações, n.2, 1964.
[2] BENTO XVI, Papa. Porta Fidei. N.2, 2012.
[3] Pontifícia Obras para as Vocações Eclesiásticas, Novas Vocações para uma Europa, Roma, 1977.
[4] CENCINI, Amadeo. Construir Cultura Vocacional, 7, Brasil, 2013.



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