Dom Murilo S.R. Krieger, scj
Arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil
Recebi, no último dia 17, a Comenda Dois de Julho, outorgada pela Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, por proposta do Deputado Alex da Piatã. Gostaria de repartir com os leitores de A TARDE as palavras que pronunciei naquela ocasião. Só terei condições, contudo, de apresentar umas poucas observações. Ei-las:
Tais honrarias servem como demonstração de reconhecimento e incentivo. De reconhecimento pelo trabalho desenvolvido aqui pela Comunidade Católica. De incentivo para eu continuar me doando ao maravilhoso povo deste Estado.
Em novembro de 2010 eu soube que o Santo Padre Bento XVI me havia nomeado para esta Arquidiocese. Nunca alguém me havia dito que isso poderia acontecer; nem me havia imaginado como Arcebispo na capital da Bahia. Nosso Deus gosta de nos fazer surpresas.
Da cidade de Salvador eu conhecia muito pouco. Uns dois anos antes de minha posse vim participar de um Congresso e, numa tarde, visitei rapidamente a cidade. No final, pensei: Um dia voltarei para cá, para conhecer melhor tanta beleza. Jesus levou a sério esse meu desejo.
Diante da nomeação papal, eu me perguntei: Como vou trabalhar numa região tão diferente da minha? Como serei recebido? O que tenho para levar para os baianos? Lembrei-me, então, de meu lema episcopal “Deus é amor” (1Jo 4,16). E concluí: Trabalhando, um dia, na Bahia, terei um único compromisso: amar aquele povo. E foi o que procurei e procuro fazer, dia por dia.
O que encontrei ao chegar a esta terra? Encontrei belezas naturais sem par. Encontrei uma Igreja que tem uma rica história. Encontrei um povo acolhedor.
Se alguém me perguntasse: O que julga ter sido mais importante em seus trabalhos, nesses seis anos de episcopado em Salvador? Poderia falar de inúmeras iniciativas que tomei, dentro e fora da Igreja. Não quero, contudo, que minha atuação à frente desta Arquidiocese seja contabilizada. Seria muito pobre a vida de uma pessoa que fosse apresentada como um elenco de iniciativas, trabalhos e realizações. Mais importante, para mim, são os desejos que alimentam a vida de uma pessoa. À luz do que lemos no profeta Daniel (12,12), podemos dizer: Bem-aventurados os que têm grandes desejos! Confesso: desejo ver uma Bahia mais justa e solidária. Uma Bahia de todos.
No meu primeiro artigo dominical no jornal A TARDE, logo após a minha chegada, fiz uma pergunta aos baianos: “Posso entrar?” A partir de então, portas foram sendo abertas, corações acolhedores se apresentaram e eu fico confundido com tanta bondade. Por isso, tenho consciência de que esta homenagem não me torna melhor. Mas estou tendo a possibilidade, sim, de fazer uma inesperada experiência: a de descobrir que meu coração “abaianou-se”.



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