A vela, a espiritualidade e o catequista

Por Matheus Galdino e Crisley Galdino

Catequistas

 

Quantas vezes já observamos com cuidado uma vela? Basicamente um pedaço maciço de parafina onde se encontra um pavio de algodão. Mas a vela não tem serviço (enquanto vela) se não chega a ser acesa. Apenas exerce o seu papel no momento que, em contato com uma fonte de calor, tem acesa sua chama. E o que é preciso para que uma vela seja acesa?

Recordando as aulas primárias de ciências três coisas são necessárias: um combustível, um comburente e uma fonte de calor. A parafina (e seu pavio) será o combustível; o oxigênio será o comburente e a chama que utilizamos para acendê-la será a fonte de calor. A ausência de qualquer um desses elementos não permitirá que haja o fogo.

A espiritualidade: um eu, um Deus e um outro

Um eu

Todos somos como velas. Alguns são velas apagadas, outros têm chamas pequenas (por um “pavio curto” ou embebido na própria parafina) e outros, por fim, têm chamas fortes e brilhantes. Essa chama, esse fogo, é o que entendemos por espiritualidade.

A espiritualidade é como uma chama que nos permite ver o mundo à nossa volta, ver detalhes, outras perspectivas, sair da escuridão. É ainda uma chama que nos protege, nos aquece e nos permite exercer o papel para o qual fomos criados.

Um Deus

Enquanto velas, para que nos acendamos não basta a nossa parafina e nosso pavio. Precisamos de uma fonte de calor: o próprio Deus. Sem um verdadeiro encontro com Deus não é possível falar na verdadeira espiritualidade cristã. A espiritualidade pressupõe um encontro, quem está distante da fonte de calor não pode ter sua chama acesa.

Um outro

Mas ainda faltará outro elemento. O que na vela foi o oxigênio à sua volta, em nosso caso são os outros irmãos. É um erro pensar na espiritualidade como uma relação apenas entre um Eu e um Deus, sem a presença de um Outro. Esse risco é muito presente em nossos dias.

Quem nos alerta nesse sentido é o Papa Francisco: “Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem” (Francisco, Exort. Ap. Evangelii Gaudium, 2).

Assim, também sem o outro, não há espiritualidade; do mesmo modo que sem o oxigênio não há chama.

O catequista: possuir a vela acesa, manter-se com a vela acesa e acender a vela do outro

Um possuir a vela acesa

A pessoa do catequista necessariamente deve possuir sua vela acesa, não é possível acender a vela alheia se a própria vela se encontra apagada. Se um catequista não cultiva sua espiritualidade pode ser tudo menos catequista. No ser do catequista é pressuposta uma vela acesa.

Manter-se com a vela acesa durante o caminho

Mas o catequista, no caminho constante entre Jesus e o catequizando, se submete a uma maior exigência em sua relação com Deus. Novamente com o Papa Francisco nos diz: “O coração do catequista vive sempre esse movimento de ‘sístole – diástole’: união com Jesus, encontro com o outro. Sístole – diástole”. (Francisco, Discurso aos catequistas. 27/09/2013).

Assim, o catequista precisa manter-se com a vela acesa nesse caminho e para isso é preciso estar cotidianamente em intimidade com Deus. No contrário corre-se o risco de apagar sua chama e acabar sua missão.

Um consumir-se para aceder a vela do outro

Como uma vela que se acende, um catequista só encontra sua razão de ser no transmitir a espiritualidade e a própria fé. Essa transmissão exigirá: uma vela acesa, um contato permanente com Deus e um consumir-se para transmitir o maior dom que possui.