Ágata Esmeralda

Dom Murilo S.R. Krieger, scj

Arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil

“Vossa Excelência chegou hoje e deverá ir embora ainda hoje. Saiba, contudo, que a Itália há muito tempo está presente aqui em Salvador. Seu país encontra-se presente através de doações generosas de várias gerações. Sim, os italianos adotaram, à distância, muitas de nossas crianças necessitadas, assumiram nossos adolescentes machucados e possibilitaram a nossos jovens ter uma formação humana, cristã e profissional. Através do “Projeto Ágata Esmeralda”,  a esperança nasceu no coração de muitos.

Sou grato ao seu país; sou grato aos italianos por terem adotado, nesta terra, quem mais precisa de afeto, de braços amigos e de amor. Leve à sua Pátria, Excelência, a certeza de que aqui, em Salvador da Bahia, há corações agradecidos!”

Com essas palavras, dirigi-me, no dia 3 de agosto, quarta-feira passada, ao excelentíssimo Senhor Presidente do Conselho de Ministros da Itália, Matteo Renzi. A caminho do Rio de Janeiro, ele aceitou o convite do Prof. Mauro Barsi, Presidente do Projeto Ágata Esmeralda, para conhecer o trabalho dessa instituição em nosso estado. O ambiente e os participantes daquele encontro sensibilizaram o Primeiro Ministro: estávamos na sede da Acopamec (Associação das Comunidades Paroquiais de Mata Escura e Calabetão); crianças, adolescentes e jovens o receberam com cantos, discursos e festa. Fizeram mais: usaram sua criatividade para lhe expressar a alegria e a gratidão que sentiam por tudo o que haviam recebido e continuam recebendo dos benfeitores italianos.

O nome do Projeto – “Ágata Esmeralda” – deve-se à primeira criança acolhida no Hospital dos Inocentes, em Florença, no longínquo 5 de fevereiro de 1445. Foi nessa cidade que, cerca de vinte e cinco anos atrás, o Cardeal Dom Lucas Moreira Neves encontrou-se com o Prof. Mauro Barsi. Dom Lucas lhe apresentou a dramática situação vivida por muitas crianças, adolescentes e jovens de sua arquidiocese – isto é, de Salvador. Desse encontro nasceu uma obra social que hoje atinge na Bahia mais de 7 mil crianças, acolhidas em 120 centros diferentes.

O Projeto Ágata Esmeralda tem como filosofia apoiar instituições que respeitam a dignidade humana, da concepção à morte natural. Graças à adoção à distância, as crianças que contam com esse apoio recebem diariamente alimentação sadia, assistência médica e instrução. Entre elas, muitas são portadoras de deficiência, inclusive cerebral.

A experiência adquirida aqui na Bahia foi tão importante que, ouvindo os clamores de outros povos, o Projeto Ágata Esmeralda hoje está presente em dez países. Uma das particularidades dessa instituição é que ela “não faz”- isto é, não assume diretamente alguma obra -, mas ajuda quem faz, pois trabalha em colaboração com a Igreja local e com missionários (religiosas, sacerdotes e leigos) provenientes de vários países do mundo.

Para demonstrar a transparência de suas atividades, Ágata Esmeralda recebe frequentemente benfeitores italianos, que visitam os centros de acolhimento e tomam contato direto com as obras assistidas. Tais visitas têm sido úteis, porque possibilitam aos adotantes tomar consciência da importância do apoio financeiro que oferecem.

Ágata Esmeralda não é somente uma instituição que recolhe fundos e promove a adoção à distância, mas é, também, uma associação que trabalha para difundir a cultura da vida. Promove, para isso, uma sensibilização contra a pedofilia e o turismo sexual, e busca difundir uma cultura de paz. Mais: valoriza e defende a dignidade das mulheres e procurar criar, nas novas gerações, um espírito de fraternidade, de dedicação e gratuidade, antídoto para a mentalidade consumista de nossa sociedade.

A Arquidiocese de São Salvador da Bahia tem uma imensa dívida de gratidão para com esta benemérita instituição!