Entrevista: “A pandemia nos ajuda a repensar a relação que temos com a Eucaristia”, reflete padre Lázaro Muniz

Com a aproximação de um ano de convivência em um cenário pandêmico, onde foi necessário aprender a viver com o novo coronavírus (Covid-19), o padre Lázaro Muniz, pároco na Paróquia Santa Cruz, no Engenho Velho da Federação, convida os fiéis a refletirem sobre a relação com a Eucaristia e destaca que os cristãos precisam compreender a dimensão do amor de Deus sem procurá-lO tão longe. Na entrevista abaixo, padre Lázaro também traz a passagem do Evangelho de São João, em que Jesus diz: “Tendes fé em Deus, tende fé em mim” e pede para que homens e mulheres se manteham na fé e aproveitem esse tempo de quarentena para fazer crescer o amor, pois é um tempo da Graça de Deus.

Pastoral da Comunicação (Pascom) – Com a pandemia ocasionada pelo novo coronavírus, as famílias passaram a participar das Celebrações Eucarísticas através de transmissões ao vivo, uma modalidade fora do que é tradicionalmente realizado nas Igrejas. Como o fiel pode se manter conectado com o momento de comunhão, sem necessariamente estar no templo?

Padre Lázaro Muniz – A pandemia nos trouxe muitos elementos que nos ajudam a repensar o caminho da nossa fé, um deles é a nossa própria relação com a Eucaristia. A Igreja sempre nos orienta, e agora mais ainda, de que nós podemos fazer a Sagrada Comunhão espiritual e celebrar a Eucaristia mesmo à distância, de forma remota. E não é sobre assistir a Missa, é sobre celebrar. Por causa da pandemia, muitas paróquias e centros de evangelização passaram a transmitir as Missas para que o fiel possa celebrar junto daquele momento e ali fazer a Sagrada Comunhão e acolher Jesus. Essa Sagrada Comunhão é tão válida quanto a Comunhão Sacramental porque Jesus está  dentro de nós, segundo o seu desígnio de amor e não só porque você comeu o pão dentro da Igreja. É preciso que o fiel compreenda a dimensão do amor misericordioso de Deus e da presença real de Jesus em nossos corações e em nossas vidas. Às vezes procuramos Ele tão distante e Deus está tão próximo e tão perto.

Às vezes procuramos Ele tão distante e Deus está tão próximo e tão perto”, afirma padre Lázaro.

Pastoral da Comunicação (Pascom) – A quarentena surge como um período de recolhimento forçado, onde as pessoas naturalmente diminuíram o seu ritmo do dia a dia. Como esse tempo silencioso, que obriga a cada um estar consigo, pode ser utilizado pelo cristão?

Padre Lázaro Muniz – Esse momento de quarentena é um momento de silêncio que nos faz olhar, perceber, avaliar, discutir, pensar nas relações e nos afetos que temos com os outros, além de rever sobre como tratamos essas pessoas. Podemos aproveitar esse período da pandemia como um tempo da Graça de Deus, um “tempo favorável” como diz São Paulo, quando ele fala que o tempo da Graça de Deus deve ser aproveitado para fazer crescer o amor.

Pastoral da Comunicação (Pascom) – De que forma as pessoas podem manter a fé em meio às angústias, dificuldades, medos, incertezas e ansiedade ocasionados pelo atual cenário de saúde do país?

Padre Lázaro Muniz – Quando nós escutamos Jesus no Evangelho de São João dizer “Tendes fé em Deus, tende fé em mim”, Ele vai dizer não se perturbe o coração. Nós precisamos ser homens e mulheres de fé. Estamos vendo o quanto esse vírus causou um desastre na saúde, em nosso Brasil e no mundo. Já perdemos muitas pessoas, outras seguem sendo infectadas, e mesmo com as dificuldades, medos, angústias e fraquezas nós precisamos parar e escutar o que disse Jesus. Em São Paulo, ele vai recordar “Esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé”, nós precisamos crer no Deus que nos chamou à vida, não por aquilo que Ele possa fazer para nós, mas por aquilo que Ele é. É através da sua essência que Ele nos mostra qual é o caminho.

Pastoral da Comunicação (Pascom) – Além da profunda reflexão por pensar na fé em relação ao que atualmente estamos vivendo, que outras lições podemos tirar desse acontecimento pandêmico?

Padre Lázaro Muniz – A pandemia nos traz um legado. O Cardeal José Tolentino disse [em texto da meditação apresentado aos bispos do Brasil] que a pandemia nos pegou de improviso e nós temos que saber lidar com essas mudanças. No texto, ele diz que temos que lutar na perspectiva da precariedade, do que esta ruim, mal colocado, em relação com aquilo que é excelente, do que é claro. Precisamos refletir sobre como é que estamos lidando com o caos e com a ordem; com o desastre e êxito; com a morte e a experiência da vida.

Pastoral da Comunicação (Pascom) – O que a pandemia vem a nos ensinar como católicos?

Padre Lázaro Muniz – Precisamos tirar lições que nos ajudem a dar passos concretos em nossa vida. É preciso comunhão, diálogo, respeito, cuidado e atenção para com os outros e com nós mesmos. É necessário viver e manifestar a fé; mostrar que de fato o substrato católico nos ajuda a manter a firmeza da nossa profissão de fé; saber que nós cremos; e anunciar Jesus como o Senhor e Salvador, não como alguns têm mostrado que Jesus vai vencer o vírus e a peste, ele até pode, mas a perspectiva da ação de Jesus, no momento, não é um simples livramento da peste, é um redirecionamento da nossa caminhada para uma vida mais fiel, responsável, digna e plena de amor. A pandemia nos tomou, nos impediu, nos atrapalhou, nos causou dor e nos colocou na precariedade, mas nós precisamos dizer: “Eu creio!”. É nosso dever confirmar esse Deus de amor, de paz, harmonia e salvação para todos nós.