No dia em que a Igreja celebra a festa de Santa Teresinha do Menino de Jesus, a equipe do Setor de Comunicação da Arquidiocese de Salvador entrevistou o pároco da Paróquia Santa Teresinha Doutora da Igreja, padre Thiago Kern, sobre esta que é conhecida como a Santa das Rosas. Confira:

Setor de Comunicação – Quem é Santa Teresinha do Menino Jesus e porque ela se tornou Doutora da Igreja?

Padre Thiago Kern – Santa Teresinha era francesa, cujo nome completo era Maria Francisca Tereza Martins. Nascida em uma família de ótimas condições financeiras e temente a Deus, seus pais (Luís e Zélia) tiveram nove filhos e Santa Teresinha era a caçula. Antes da menina Teresa nascer, quatro irmãos dela morreram com pouca idade, restando em vida quatro irmãs, que também se tornaram freiras (Maria, Paulina, Leônia e Celina).

Com a autorização do Papa Leão XIII, Teresinha pôde entrar no Mosteiro das Carmelitas, em Lisieux, com apenas 15 anos de idade. Teve uma infância muito feliz e, ao mesmo tempo, triste, pois ainda muito criança – aos 4 anos – perdeu a mãe, vítima de câncer. Diz a história que ela chorava muito por conta disso. Mas uma coisa interessante é que nunca lhe faltou amor da parte da família: seu pai a chamava de “minha rainha” e suas irmãs tinham muito cuidado para com ela.

O fato dela ser declarada pelo Papa João Paulo II como Doutora da Igreja, é pelo reconhecimento de sua espiritualidade. Cada santo que é declarado “Doutor da Igreja”, na verdade recebe um título acadêmico, de reconhecimento. Santa Teresa de Lisieux não pôde frequentar uma universidade e nem sequer os estudos sistemáticos. Morreu jovem. Entretanto, com este título ela é honrada pela Igreja com um qualificado reconhecimento que a eleva na consideração da comunidade cristã inteira.

Na Igreja temos quatro mulheres doutoras da Igreja: a primeira foi Santa Teresa D’Ávila, Santa Catarina de Sena, Santa Teresinha do Menino Jesus e, por último, Santa Hildegarda de Bingen.

Setor de Comunicação – Santa Teresinha morreu com a idade de 24 anos e passou uma parte do tempo de vida enclausurada no Carmelo. Assim, como podemos definir a contribuição desta Santa para a humanidade?

Padre Thiago Kern – A vida de Santa Teresinha encanta muito quando a conhecemos, e vale salientar que em 2022 estaremos comemorando o Jubileu de 125 anos de sua páscoa, então será um ano de graça para a nossa paróquia. Mas, voltando um pouco na história, depois da morte de sua mãe, Teresinha, com uma grande sensibilidade, aos 10 anos, fez uma experiência com Nossa Senhora que ficou em sua vida: ela relata em sua autobiografia como foi essa experiência:

“No dia 13 de maio de 1883, festa de Pentecostes, do meu leito, virei meu olhar para a imagem de Maria, e de repente a imagem pareceu-me bonita, tão bonita que nunca tinha visto nada semelhante. Seu rosto exalava uma bondade e ternura inefáveis, mas o que calou fundo em minha alma foi o sorriso encantador da Santíssima Virgem. Todas as minhas penas se foram naquele momento, e lágrimas escorreram de meus olhos, de pura alegria. Pensei, a Santíssima Virgem sorriu para mim, foi por causa das orações que eu tive a graça do sorriso da Rainha do Céu” (História de uma alma).

Teresinha também fez uma experiência profunda com o natal, tendo o menino Jesus como doador de uma “conversão total”, aos 13 anos, em 1883. Depois disso, sua vida foi transformada e ela começou a dar grandes passos na caminhada espiritual. Esse fato foi tão importante a ponto de levá-la a assumir o nome de Teresinha do Menino Jesus. Ao entrar no Carmelo, dedicou-se a rezar pela conversão das almas e pelos sacerdotes. Porém, trazia em seu coração o grande desejo de ser missionária, queria anunciar o evangelho aos cinco continentes do mundo. Até que descobriu no amor um caminho de perfeição: “no coração da Igreja, serei o amor. Assim, serei tudo, e nada impossibilitará meu sonho de tornar-se realidade ”. Diante de tudo isso podemos identificar que a contribuição que esta grande santa traz para a humanidade é justamente a entrega total a Deus.

Setor de Comunicação – Como surgiu a novena das rosas e qual a importância desta oração?

Padre Thiago Kern – Embora não haja uma divulgação tão grande, esta novena é muito conhecida na Europa e aqui no Brasil ela é mais divulgada nos lugares onde Santa Teresinha é padroeira. Já são quase 100 anos de devoção e a história conta que, em 1925, o padre jesuíta, Antônio Putingan, começou a rezar uma novena em honra a Santa Teresinha do Menino Jesus. Ele rezava 24 glórias ao Pai em homenagem aos 24 anos que a Santa viveu na terra. Pediu uma graça e uma prova de que seria atendido: que recebesse uma rosa. No terceiro dia da novena, uma jovem entrega-lhe uma rosa vermelha. O interessante é que não era época de flores, era inverno, nevava e fazia dez graus abaixo de zero. Numa segunda novena ele pediu uma rosa branca, que lhe foi entregue no quarto dia, pela Irmã Vitalis, que disse: “Padre, este presente é de Santa Teresinha”. A partir de então, Pe. Putingan organizou a novena, para ser rezada entre os dias 9 e 17 de cada mês. E quem a reza com fé, pedindo uma graça, se for da vontade de Deus concedê-la, recebe uma rosa de Santa Teresinha como confirmação. Foi desta forma que nasceu esta bela e tão popular devoção entre os devotos.

Setor de Comunicação – O senhor atualmente é o pároco de uma das paróquias dedicadas a esta Santa. São comuns relatos de graças alcançadas por intercessão dela? O senhor pode nos relatar algumas?

Padre Thiago Kern – Depois de alguns anos como sacerdote, tenho a alegria de hoje ser pároco desta paróquia que tem Santa Teresinha Doutora da Igreja como padroeira. É muito bonito o povo dando testemunhos de graças alcançadas por intermédio de Santa Terezinha. Neste tempo em que estou aqui, tive a graça de conhecer famílias que foram curadas de suas enfermidades por ter recorrido ao auxílio desta grande Santa, a nossa querida Santa Teresinha.

Setor de Comunicação – Que mensagem o senhor pode deixar para os devotos da “Santa das rosas”?

Padre Thiago Kern – Vivemos um momento difícil não só no Brasil, mas em todo o mundo. Com esta pandemia, famílias estão sendo destruídas, empregos e vidas estão sendo perdidos por conta deste vírus. Santa Teresinha é uma das santas protetoras contra as epidemias e pandemias. O exemplo que ela nos dá é que, mesmo diante de tanto sofrimento e de angústias, devemos ter confiança em Deus e nos entregar totalmente à Sua Divina Misericórdia. Ela nos traz um grande testemunho de humildade; que possamos ver no seu exemplo uma via para vencermos as dificuldades e abrirmos o nosso coração à solidariedade e ao compromisso para com os que mais sofrem.