
O Sacerdócio na Sagrada Escritura – Fundamentos para a vida espiritual e pastoral. Este é o título do livro do padre Thierry Bierlaire, pároco de São Tiago, em Santiago do Iguape. Escrito a partir de um artigo publicado na revista francesa La Documentation Catholique, em 2012, o livro sustenta a tese segundo a qual a história da salvação contém uma unidade interior garantida por Cristo.
A equipe da Pastoral da Comunicação (Pascom) entrevistou o padre Thierry. Confira!
Pascom: Por que escrever um livro sobre o sacerdócio?
Padre Thierry: O primeiro motivo: o Documento de Aparecida (2005) considera que a identidade do ministério presbiteral é um desafio importante (DA 192-193). O Documento nos convida tacitamente a esclarecer o significado do ministério presbiteral. Quando falamos do ministério dos presbíteros, aparece logo o vocabulário sacerdotal. O segundo motivo: a Sagrada Escritura é a referência soberana para qualquer reflexão teológica, espiritual ou pastoral. Quem aprofunda a Escritura se fortalece interiormente e não se deixa levar para o erro. Deve-se admitir que o ensinamento da Escritura sobre o sacerdócio não é bastante conhecido. O terceiro motivo: existem muitas confusões e hesitações a respeito do tema do sacerdócio.
Pascom: Qual é a mensagem central que o livro transmite aos leitores?
Padre Thierry: A qualificação sacerdotal não se aplica somente aos presbíteros. Ela concerne a Cristo, sumo sacerdote (Carta aos Hebreus), à Igreja, povo sacerdotal (Primeira Carta de Pedro), aos fiéis (Livro do Apocalipse) assim como aos bispos e aos presbíteros (Primeira Carta de Pedro). A reflexão que encontramos no Novo Testamento desenvolve-se segundo essa lógica que acabamos de apresentar. Cristo é o único sacerdote, no sentido pleno da palavra. A Igreja é uma comunidade sacerdotal. Na Igreja, participam do sacerdócio de Cristo: os fiéis assim como os bispos e os presbíteros. Devemos observar que o Novo Testamento não fala explicitamente do sacerdócio dos bispos e dos presbíteros. Todavia, ele compreende esses ministros numa perspectiva sacerdotal.
Pascom: Como podemos compreender o sacerdócio de Cristo, à luz da Escritura?
Padre Thierry: Somente Cristo exerce a função essencial do sacerdócio, que consiste em estabelecer uma mediação entre os homens e Deus. Cristo é o único mediador. Para entrar numa relação autêntica com Deus, deve-se passar por Cristo e, mais precisamente, pelo seu sacrifício. Com efeito, a Carta aos Hebreus explica que Cristo se ofereceu a Deus. Essa oferenda de Cristo consistiu em obedecer à vontade divina; esta, através de sofrimentos, transformou a natureza humana de Cristo, fez o seu corpo entrar na glória de Deus, tornando Cristo o perfeito mediador. Cristo estabeleceu a mediação de aliança com Deus. Ele conseguiu a salvação em favor dos fiéis que, por meio dele, se aproximam de Deus. Ele exerce o sacerdócio. A sua mediação transforma e introduz os fiéis num movimento de oferenda de si mesmos a Deus. Nenhum ser humano, querendo aproximar-se de Deus, pode privar-se da mediação de Cristo e nenhum pode subtrair-se a Cristo a fim de cumprir essa função para com outras pessoas.
Pascom: Como compreender o sacerdócio dos fiéis e o sacerdócio dos bispos e dos presbíteros?
Padre Thierry: A Primeira Carta de Pedro ensina que a Igreja é um povo sacerdotal: ela é um organismo sacerdotal e ela tem um funcionamento sacerdotal. O Livro do Apocalipse afirma que, na Igreja, os fiéis exercem o sacerdócio. Esse culto sacerdotal significa que, acolhendo a mediação de Cristo, os fiéis entram num movimento de oferta de si mesmos a Deus. A Primeira Carta de Pedro não dá nenhum título sacerdotal explícito aos bispos, nem aos presbíteros, mas ela situa esses ministros na via de uma compreensão sacerdotal. Então, devemos entender que os bispos e os presbíteros manifestam e realizam a presença do Cristo sacerdote e mediador na vida dos fiéis a fim de que estes possam acolher a mediação de Cristo e, graças a ela, oferecer-se a Deus.
Pascom: Qual é a evolução atual do ministério presbiteral?
Padre Thierry: A figura do presbítero, outrora autoridade eclesial e social, está sumindo da vida da sociedade. Atualmente, a sociedade dá menos importância aos presbíteros. Essa situação pode provocar, nos presbíteros, uma “psicologia de marginalizados”, difícil de ser assumida. No entanto, a ausência de uma imagem social não é o único fator determinante. A sociedade não está totalmente oposta aos valores do Evangelho. A sociedade veicula uma cultura do humanismo e da solidariedade, ligada aos valores do Evangelho. Muitas pessoas, que estão na provação, procuram um presbítero. Muitas pessoas guardam a ideia de que os presbíteros são confiáveis e importantes. Hoje, os presbíteros são principalmente seres de relações pessoais que se comprometem onde essas relações possam existir. Os presbíteros atuam com sucesso quando eles favorecem, nos católicos, a experiência de Deus e quando os não-católicos estão cientes dessa experiência.



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