Gratidão às mães

Cardeal Dom Sergio da Rocha

Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil

O Dia das Mães tem sido marcado por manifestações de carinho e gratidão às mães, por abraços, orações e presentes. Apesar do forte apelo comercial que tem marcado o dia dedicado às mães, é importante aproveitar a ocasião para a oração, a reflexão e os gestos concretos de afeto filial. É justo oferecer-lhes os presentes mais preciosos que brotam do coração dos filhos, como o carinhoso abraço. Entretanto, não se pode esquecer ou menosprezar as situações de sofrimento vividas por inúmeras mães.

No Dia das Mães e na vida cotidiana, é preciso recordar-se das mães que mais sofrem, das mães que sofrem com os seus filhos ou por causa deles, das mães que amam sem serem amadas, daquelas que vivem na extrema pobreza ou que padecem por problemas sociais que se abatem sobre suas famílias. Um dos mais graves problemas que trazem sofrimento às mães é a violência. Dentre as múltiplas formas de violência, têm sido noticiados com frequência assustadora os casos de violência contra a mulher, nem sempre denunciados por vergonha, medo ou dificuldade de acesso à justiça, mas que chegam muitas vezes ao feminicídio.  A violência doméstica traumatiza mães e filhos, gerando sofrimento e morte. Não pode ser considerada “coisa de marido e mulher”. É preciso erradicar a violência contra a mulher, a começar do ambiente familiar, combatendo as suas causas e cultivando relações de respeito e fraternidade. Além do que possa ser feito por familiares, amigos e comunidade eclesial, a ação dos poderes públicos é necessária para assegurar o respeito à vida e a dignidade das mulheres.

A violência contra a mulher perdura no cotidiano das famílias e da sociedade brasileira, apesar dos esforços para combatê-la. A situação continua grave conforme as estatísticas que revelam casos de ofensa verbal, agressão física e homicídio. A Lei 11.340, denominada Lei Maria da Penha, sancionada no dia 07 de agosto de 2006, tem se revelado um valioso instrumento para a superação do quadro de violência e morte que tem vitimado as mulheres. É preciso garantir a efetivação dos mecanismos nela previstos, de modo a favorecer a superação deste grave problema social e familiar, realizar a justiça e assegurar a devida assistência às vítimas.

O amor de mãe é doação, gratuidade e ternura, sinal do amor divino. Antes que o filho possa manifestar amor ou gratidão, é a mãe quem dele cuida com gestos cotidianos de doação da própria vida. Amor de mãe é vida doada no dia a dia. A pandemia exigiu ainda mais das mães. Devemos reconhecer, com especial gratidão, a dedicação incansável das mães que têm doado as suas vidas nos hospitais e nas casas, para cuidar generosamente dos enfermos e fragilizados. O testemunho delas reaviva a nossa esperança e a certeza de que o amor é mais forte do que a morte.

*Artigo publicado no jornal Correio no dia 08 de maio de 2022.