Cardeal Dom Sergio da Rocha
Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil
No dia 27 de novembro teve início uma viagem muito especial do Papa Leão XIV, amplamente divulgada pela imprensa mundial. A sua primeira viagem internacional, denominada viagem apostólica, teve a primeira etapa na Turquia, com a tão esperada visita a Iznik, para celebrar os 1700 anos do Concílio de Nicéia, lá realizado no ano 325. A viagem tão desejada pelo saudoso Papa Francisco e por ele programada para maio deste ano, reveste-se de extraordinária importância e desperta muito interesse, pelo significado de Nicéia para o Cristianismo e não somente para a Igreja Católica. O momento culminante da visita à Turquia ocorreu em Iznik, nos sítios arqueológicos da antiga basílica de São Neófito, onde foi realizado aquele Concílio. O Papa, juntamente com o Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I, rezou com líderes religiosos e representantes de Igrejas cristãs. Essa oração conjunta expressa bem o caráter ecumênico da celebração dos 1700 anos de Nicéia, testemunhando a importância da busca da unidade e do diálogo na construção da paz. Na sua mensagem, ao desembarcar em Ancara, o Papa ressaltou a importância de uma “fraternidade que reconheça e valorize as diferenças”, pois “hoje em dia as comunidades humanas estão cada vez mais polarizadas e dilaceradas por posições extremas, que as fragmentam”.
O mundo de hoje, marcado por guerras, conflitos e intolerância, necessita reaprender o caminho da unidade e da paz, a ser percorrido com passos de respeito, diálogo, escuta e misericórdia. A busca da verdade deve acontecer sempre na caridade. A disposição para respeitar e escutar atentamente é indispensável para o diálogo. No entanto, a postura de abertura e respeito ao outro não implica na dissolução da própria identidade. A fidelidade à própria identidade permite oferecer a própria contribuição no diálogo e avançar no conhecimento da verdade.
O Concílio de Nicéia representa um marco fundamental para o Cristianismo, sendo fonte perene para a identidade eclesial, para o desenvolvimento da doutrina e da teologia. Dele resulta a profissão de fé denominada Símbolo Niceno, completado no Concílio de Constantinopla, e por isso conhecido como Símbolo Niceno-Constantinopolitano. A celebração dos 1700 anos de Niceia tem sido uma ocasião privilegiada para fazer memória, para conhecer os seus aspectos históricos e culturais e, sobretudo, o seu extraordinário alcance teológico.
A primeira viagem apostólica de Leão XIV expressa bem a importância do encontro, tão enfatizada pelo Papa Francisco, a necessidade da construção de pontes e não de muros. “Devemos rejeitar veementemente o uso da religião para justificar a guerra, a violência ou qualquer forma de fundamentalismo ou fanatismo”, afirmou Leão. A visita do Papa a Iznik, acompanhado de lideranças de outras Igrejas, serve de estímulo para caminhar juntos como peregrinos de esperança e construtores da paz.
*Artigo publicado no jornal Correio, em 01 de dezembro de 2025.



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