O cuidado Fraterno da “Casa Comum”

Cardeal Dom Sergio da Rocha

Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil

Está acontecendo no Brasil, desde a Quarta-feira de Cinzas, a Campanha da Fraternidade. Trata-se de uma ocasião privilegiada para a vivência da fraternidade, tão necessária no mundo de hoje, marcado pelas múltiplas formas de violência que atingem pessoas, famílias, povos e a própria “casa comum” onde habitamos. O tema escolhido aborda sempre um problema social que necessita de maior atenção, reflexão e ação, pela sua relevância e gravidade. Neste ano, é “Fraternidade e Ecologia Integral”, cuja escolha foi motivada principalmente pelos 10 anos da Carta Encíclica Laudato Si, de Papa Francisco, sobre “o cuidado da casa comum”, e pelos 800 anos da composição do Cântico das Criaturas, de São Francisco de Assis. A ecologia é justamente o tema mais abordado ao longo destes 61 anos de Campanha da Fraternidade; oito delas já foram dedicadas à temática socioambiental.

Muita gente concorda com a importância das questões relativas ao meio ambiente e a preservação da natureza, mas nem todos admitem a sua urgência. Para muitos, as questões socioambientais podem ser deixadas para depois ou para os outros, sem o devido interesse e engajamento.  Em tempos de grave crise social, ambiental e climática, é urgente a “conversão ecológica” que, segundo o texto-base da Campanha exige “passar da lógica extrativista, que contempla a Terra como um reservatório de recursos sem fim, donde podemos retirar tudo aquilo que quisermos, como quisermos e quanto quisermos, para uma lógica do cuidado”. Nós temos o grave dever de preservar a natureza, de cuidar com responsabilidade da “casa comum” onde habitamos.

A Campanha necessita ser concretizada através de iniciativas pessoais e comunitárias. É muito importante a atuação dos órgãos de governo nos diversos níveis, a participação de organizações da sociedade civil, de escolas e universidades, mas também o empenho das famílias e de cada pessoa. Dentre as várias ações que podem ser realizadas, destacam-se: as políticas públicas para o enfrentamento da poluição do ar, das matas e das águas; a educação ecológica; a reciclagem de resíduos sólidos; o combate ao desperdício de alimentos e ao descarte inadequado de lixo.

O lema, sempre extraído da Bíblia, ilumina e orienta a reflexão e o agir, pois se trata de uma iniciativa inspirada pela fé. Neste ano, é “Deus viu que tudo era muito bom”, do relato bíblico da Criação, que se encontra no início do Livro do Gênesis. Este lema ressalta a bondade e a beleza da obra do Criador, motivando-nos a contemplar e a cuidar dela com responsabilidade. A missão confiada por Deus pode ser resumida nos verbos “cultivar e guardar”. Assim fazendo, colaboramos para um mundo mais fraterno, sem violências na “casa comum” em que habitamos.

*Artigo publicado no jornal A Tarde, em 9 de março de 2025.