O valor do Matrimônio

Cardeal Dom Sergio da Rocha

Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil

 

A realidade do matrimônio e da família está marcada por luzes e sombras, isto é, por grandes valores, mas também por problemas e desafios.  Num contexto sociocultural marcado por transformações rápidas e profundas e por um acentuado pluralismo, é importante recordar o sentido do matrimônio, reafirmar o seu valor permanente e a sua beleza singular. As dificuldades encontradas não podem negar ou obscurecer a dignidade do matrimônio e a alegria do amor conjugal.

A maneira de se viver a moral conjugal e familiar depende muito do modo como são entendidos o matrimônio e a família. À luz da fé cristã católica, o casamento não é visto como um mero contrato entre um homem e uma mulher, mas, como um sacramento. Afirmar que o matrimônio é sacramento significa reconhecer que o amor conjugal  tem o seu sentido mais profundo em Deus, no âmbito da fé eclesial, não podendo ser reduzido a um simples fato natural ou a um acontecimento social. O matrimônio, enquanto sacramento, é sinal visível do próprio amor de Deus, da Aliança de amor fiel, perene e fecundo, entre Deus e seu Povo, da união inseparável  entre Cristo e a Igreja. Ao assumir a sacramentalidade do matrimônio, o casal assume o compromisso de amar “como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela (Ef 5,25).

Deus ama sempre e para sempre, de modo fiel, “na alegria, na tristeza, na saúde e na doença, em todos os dias da vida”. Ama gerando a  vida e educando; seu amor é criador, é fecundo. Quem se casa, assumindo o matrimônio como sacramento, é chamado a amar como Deus ama. Feliz é o casal que, mesmo no meio dos desafios e adversidades, faz tudo para permanecer fiel ao compromisso matrimonial, concretizando na vida do dia a dia o amor perene, fiel e fecundo, reflexo do amor divino. A fidelidade deve ser vivida com o sincero empenho de ambos os cônjuges, num mundo em que a cultura do descartável tende a se difundir, favorecendo a quebra de compromisso e as infidelidades na vida cotidiana.

O amor conjugal não se fecha sobre si, mas se abre para a geração e a educação dos filhos, constituindo a família, a ser defendida e promovida, sempre mais, no mundo de hoje. A convivência familiar deve ser marcada pelo amor fraterno, pelo diálogo respeitoso e, sempre que necessário, pelo perdão. A capacidade de amar se expressa pela capacidade de perdoar. Na transmissão da vida pelos esposos, é fundamental a fecundidade responsável, que pressupõe não só gerar, mas acima de tudo, acolher e cuidar dos filhos com amor e educá-los. O amor conjugal tem a sua fonte e sustento em Deus, que é Amor. O amor de Deus sustenta o compromisso de amor e fidelidade, em meio a tantos desafios na vida familiar e social, permitindo fazer a experiência da verdadeira felicidade.

 *Artigo publicado no jornal A Tarde, em 11 de junho de 2023.