Pe. Rosalvo M. Humildes Junior[1]
Muitas pessoas, quando estão prestes de comemorar aniversário, se organizam para preparar um momento especial, a fim de que a festa seja algo inesquecível, inclusive para os seus convidados. Falando em convidados, pessoas que marcam a nossa vida, normalmente, são as escolhidas para compartilhar a nossa felicidade. Mas nós também celebramos outros aniversários, não somente de pessoas, mas de matrimônio, instituições e, também, de paróquias. O que é uma paróquia?
Paróquia é uma circunscrição territorial ligada a uma (arqui)diocese. Normalmente, para uma paróquia ser criada, alguns fatores são observados, dentre eles o pastoral e a sua estrutura em geral. Uma comunidade paroquial é erigida após uma sensata avaliação do bispo, do clero local e dos fiéis, quando observam que aquele território, se transformando em paróquia, atenderá, da melhor forma possível, o povo de Deus que se encontra naquela região. Logo, a criação de uma paróquia ocorre quando ela é desmembrada de outra paróquia, ganhando uma igreja matriz, clero e pastorais que possam atender os fiéis do local.
Na Ilha de Itaparica, território que corresponde a Forania 10 da Arquidiocese de Salvador, existem 3 paróquias: Sagrado Coração de Jesus (Vera Cruz, com a Matriz em Mar Grande), Santo Amaro de Jiribatuba (também em Vera Cruz, com a sede em Jiribatuba) e Santíssimo Sacramento (no município de Itaparica). A Paróquia Nossa Senhora do Carmo, na cidade de Salinas da Margarida, também faz parte da Forania 10, mas não está no território da Ilha, mas no sul do Recôncavo Baiano. Neste Ano Santo, onde todos nós somos convidados a sermos Peregrinos da Esperança, uma de nossas paróquias está em festa: a Paróquia Santíssimo Sacramento, que comemora seus 210 anos.
Em 1561, foi erigida a 1ª igreja no território da Ilha de Itaparica, dedicada ao Nosso Senhor da Vera Cruz. A primeira missa, no novo templo, foi presidida por Dom Pedro Leitão, 2º bispo de São Salvador da Bahia e do Brasil. Dois anos depois, o próprio Dom Pedro Leitão criou a Paróquia de Nosso Senhor da Vera Cruz, que abrangia as terras de toda a Ilha. Logo, a 1ª igreja da Ilha se tornou a matriz paroquial, sendo a segunda matriz do Brasil. Com o passar dos anos, surgiram as paróquias de Santo Amaro de Catu (hoje Santo Amaro de Jiribatuba), em 1643 e a Paróquia Santíssimo Sacramento, em 1815.
A Igreja Matriz da Paróquia Santíssimo Sacramento foi construída no final do século XVIII e foi aberta, ao culto dos fiéis, no dia 21 de outubro de 1794. A igreja foi construída pelo Padre Manoel de Cerqueira Torres. Em 1814, a igreja recebeu, de Dom João VI, Príncipe Regente de Portugal, o nome de Santíssimo Sacramento. No ano seguinte, a Povoação da Ponta das Baleias (onde se encontra o Centro Histórico de Itaparica), foi elevada a paróquia, por decreto de Dom João VI. Segue a transcrição do documento original:
“Eu, o Príncipe Regente de Portugal, do Mestrado Cavalaria e Ordem de Nosso Senhor Jesus Christo. Faço saber que atendendo ao que por consulta do Meu Tribunal de Mêsa de Consciência e Ordem, sob a Minha Real Presença, hey por bem Erigir em Freguesia a Capella do Santíssimo Sacramento, filial da Matriz de Nosso Senhor da Vera Cruz da Ilha de Itaparica, no arcebispado da Bahia, desmembrando-a desta Matriz, ficando ella limitada pelos rios da Penha e Ingá-Açu a Nova Freguezia que por alvará sou servidor Criar com invocação do Santíssimo Sacramento de Itaparica. Êste se cumprirá como nêlle se contém sendo registrado no Registro da Câmara do Arcebispado da Bahia e nos livros das sobreditas Freguezias e passado pela Chancelaria da ordem e valerá como carta posto que seu efeito haja de durar mais de hum ano, sem embargo da Ordenação em contrário. Rio de Janeiro, 19 de janeiro de 1815. Príncipe.”[2]
Antigamente, quando a Igreja estava ligada ao Estado, cabia ao Príncipe Regente a criação das paróquias. Hoje, cabe ao bispo diocesano a responsabilidade desta missão. Atualmente, a Paróquia Santíssimo Sacramento corresponde todo território do município de Itaparica, com 15 igrejas, incluindo com a Matriz.
No início deste texto, comecei falando sobre aniversário e, em seguida, a definição de paróquia. Agora, eu lanço outro questionamento: por que celebrar o aniversário de uma paróquia? Desde 1815, sem contar com os anos anteriores, onde a Paróquia Santíssimo Sacramento fez parte da Paróquia Nosso Senhor da Vera Cruz, inúmeros sacerdotes, religiosos (as) e catequistas doaram suas vidas, a fim de anunciar o Reino de Deus. Foram pessoas que seguiram, à risca, o Evangelho de Jesus Cristo segundo São Marcos: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16,15). Eles falaram, com tanta fé, do amor de Deus por nós, que as gerações seguintes também se apaixonaram por Jesus Cristo. E assim, este amor, com o passar dos séculos, chegou a cada um de nós. O aniversário de uma paróquia deve ser comemorado sim, pois percebemos que a semente do Evangelho, que foi jogada na terra, produziu muitos frutos. Se nós observarmos, ao longo da história, quantas instituições poderosas, multinacionais, economicamente estabilizadas, surgiram antes e bem depois da nossa paróquia e de tantas outras paróquias e dioceses em todo o mundo e que, tempos depois, não existem mais? Recentemente, tivemos a alegria de testemunhar os cardeais escolhendo um novo pontífice: Leão XIV. Lendo os Atos dos Apóstolos, observamos que a Igreja, no início de sua missão, ela foi super perseguida por reis e imperadores. E hoje, cadê os sucessores destes reis? Cadê os sucessores dos imperadores que perseguiram a Igreja de Cristo? Enquanto isso, pelo poder de Deus, em pleno século XXI, pudemos testemunhar o mais novo sucessor de São Pedro.
Em 210 anos de criação, nossa paróquia nunca interrompeu a sua missão evangelizadora. É verdade que, em algumas oportunidades, a igreja matriz precisou ser fechada, devido as condições estruturais que impediam a realização das celebrações com segurança (a última reforma foi concluída em 2021). No entanto, o templo existente nos corações dos nativos nunca se fechou para a evangelização, fazendo com que itaparicanos e veranistas pudessem experimentar do sabor do alimento que nos salva, que nos conduz ao Reino dos Céus: o Santíssimo Sacramento. Sendo assim, como forma de gratidão, algumas atividades serão realizadas, dentre elas, o Congresso Eucarístico Paroquial, a fim de que os fiéis continuem mais apaixonados por Deus, assim como Ele é por nós. Graças e louvores se deem a todo momento, ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!
[1] Assistente Eclesiástico e Coordenador da Pastoral da Comunicação da Arquidiocese de Salvador/BA. Pároco da Paróquia Santíssimo Sacramento (Itaparica/BA).
[2] Alvará – Câmara do Arcebispado da Bahia.