A paz é fruto da justiça

pomba-da-pazRecentes pesquisas mostram que uma das maiores preocupações das pessoas, em nosso tempo, diz respeito à segurança. Nossas cidades estão-se tornando cada vez mais violentas. A violência gera medo e insegurança. O medo, esse verme que corrói o coração por dentro, toma conta de muitos. Quando o medo domina, a paz desaparece. Em época de eleições, os candidatos, demonstrando conhecer bem quais são os grandes anseios da população, prometem que, uma vez eleitos, tornarão a vida de todos mais segura.

Não se garante uma vida mais segura pelo simples aumento do número de policiais, de armas ou de detenções. A segurança é fruto da paz e “a paz é fruto da justiça”, segundo ensinava o profeta Isaías, uns sete séculos antes de Cristo (Is 32,17).

Podemos colaborar para a construção da paz assumindo os valores que Jesus veio nos trazer. Nosso olhar deve voltar-se, também, para a sociedade, porque a convivência entre as pessoas está ficando cada vez mais difícil. Deus nos dá os seus dons, mas não nos isenta de nossa responsabilidade – em outras palavras, Ele nos dá as sementes; cabe-nos plantá-las em terreno preparado e cultivá-las, para que produzam frutos. A paz é, portanto, dom e cultivo.

A partir dos valores que Jesus nos veio ensinar, somos chamados a mostrar que outra sociedade é possível – isto é, uma sociedade envolvida pela cultura da paz. A Igreja não tem respostas técnicas para os problemas que desafiam nossa sociedade; tem, sim, uma força moral capaz de suscitar uma grande reflexão sobre a segurança pública, envolvendo os meios de comunicação social e as universidades, os grupos bíblicos e as famílias.

O Dia Internacional da Paz deve nos motivar a:

  • Desenvolver nas pessoas a capacidade de reconhecer as consequências da violência em sua vida pessoal e social, para que assumam sua própria responsabilidade.
  • Denunciar as injustiças na vida pública e nas prisões.
  • Demonstrar que uma das causas da violência é a negação dos direitos das pessoas.
  • Trabalhar para transformar o modelo punitivo do sistema penal brasileiro, a fim de que de vingativo se torne educativo.
  • Favorecer a criação e a articulação de redes sociais populares e de políticas públicas, com vistas à superação da violência e de suas causas e à difusão da cultura da paz.
  • Desenvolver ações que visem à superação das causas e dos fatores de insegurança.
  • Multiplicar ações solidárias em favor das vítimas da violência.
  • Apoiar as políticas governamentais valorizadoras dos direitos humanos.

A paz é fruto da justiça. Todo ato de injustiça e desamor é pecado e fonte de violência. A violência sempre aparece quando é negado à pessoa aquilo que lhe é de direito, a partir de sua dignidade, ou quando a convivência humana é direcionada para o mal. A violência nega a ordem querida por Deus.

Deus nos criou por amor e para o amor. Fomos criados à Sua imagem e semelhança. Ora, Deus é amor. Só no amor nos realizaremos. Se este Dia Internacional da Paz conseguir envolver nosso País com essa certeza, certamente atingirá seus objetivos – isto é, estará colaborando decisivamente para a construção de uma paz duradoura.

Dom Murilo S.R. Krieger, scj

Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil