Confira o Evangelho do 30º Domingo do Tempo Comum (27 de outubro) e a homilia preparada pelo reitor da Basílica Santuário Nossa Senhora da Conceição da Praia, doutor em Mariologia, padre Adilton Pinto Lopes:
Evangelho (Mc 10,46-52)
— Aleluia, Aleluia, Aleluia.
— Jesus Cristo, Salvador, destruiu o mal e a morte; fez brilhar, pelo Evangelho, a luz e a vida imperecíveis.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Marcos
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 46 Jesus saiu de Jericó, junto com seus discípulos e uma grande multidão. O filho de Timeu, Bartimeu, cego e mendigo, estava sentado à beira do caminho. 47 Quando ouviu dizer que Jesus, o Nazareno, estava passando, começou a gritar: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!” 48 Muitos o repreendiam para que se calasse. Mas ele gritava mais ainda: “Filho de Davi, tem piedade de mim!” 49 Então Jesus parou e disse: “Chamai-o”. Eles o chamaram e disseram: “Coragem, levanta-te, Jesus te chama!” 50 O cego jogou o manto, deu um pulo e foi até Jesus. 51 Então Jesus lhe perguntou: “O que queres que eu te faça?” O cego respondeu: “Mestre, que eu veja!” 52 Jesus disse: “Vai, a tua fé te curou”. No mesmo instante, ele recuperou a vista e seguia Jesus pelo caminho.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
Reflexão:

Caríssimos irmãos e irmãs em Cristo, cada domingo somos chamados a vivenciar a Páscoa e no fim do mês de outubro recordarmos a índole missionária da Igreja. Todo batizado (a), todo crismado (a) é um discípulo-missionário, é um evangelizador. Mas, também outubro é o mês do Rosário, redescobrindo todos que a oração do Rosário é uma oração tipicamente cristocêntrica, chamados a contemplar o rosto de Cristo sob o olhar da Virgem Maria. A oração do Rosário sempre esteve associada à construção da paz com justiça e o rezar para que a Igreja, cada um de nós sejamos missionários. São mais de cinco bilhões e meio de seres humanos que ainda não conhecem Jesus e não tiveram a graça de escutar o seu Evangelho, a Boa Nova da salvação.
A Liturgia deste domingo propõe retomar um caminho novo, um caminho que significa abandonar o caminho do sofrimento, da opressão, da tristeza a partir do encontro com Deus.
Na primeira leitura, a profecia de Jeremias, profeta do Reino de Judá, que também experimentou o exílio babilônico na época do Rei Nabucodonosor, onde em meio à derrota de Israel e o seu domínio, Deus anuncia pelo profeta uma palavra de esperança para o resto de Israel, onde afirma que os pobres, seus preferidos, não serão deixados de fora. Apesar da grandeza da Babilônia, um nada são os prepotentes diante do projeto amoroso de Deus que vem libertar e que nunca esquece o clamor do seu povo.
“Exultai de alegria por Jacó, aclamai a primeira das nações…Eis que eu os trarei do País do Norte e os reunirei desde as extremidades da terra. Entre eles há cegos e aleijados, mulheres grávidas e parturientes: são uma grande multidão que retorna… eu os conduzirei por torrentes de água, por um caminho reto onde não tropeçarão, pois tornei-me um Pai para Israel”.
Como esta profecia é tão atual! Quanto sofrimento! Quanta opressão! Quanto ódio entre os povos! Pensemos hoje no Oriente Médio: quantas crianças, idosos, famílias destruídas, vidas ceifadas, fome, doenças. Deus ajuda os seres humanos a serem partícipes da sua alegria, Deus continua convidando os povos e as nações a se reunirem, a se deixarem conduzir por um caminho reto, onde se revela em Cristo, não apenas Pai para Israel, mas Pai para todas as nações, já que em Cristo não existe nem judeu, nem pagão, nem escravo, nem livre, onde o muro da separação será derrubado, pois Jesus Cristo é a nossa Paz. E a paz caminha de mãos dadas com o diálogo, o perdão, a reconciliação e a justiça. Deus é nosso Pai, e nós somos irmãos e irmãs, e no reinado de Deus há espaço para todos, desde as parturientes, aos moradores de rua, cegos, aleijados, idosos, doentes, desempregados. Senhor Deus, ouvi o clamor dos que oram, reconstrói a paz, a verdadeira paz, nunca alcançada com as guerras ou opressão.
No Evangelho aparece também um destes indefesos recordados, na primeira leitura, um cego. Jesus estava passando por Jericó, cidade mais antiga do mundo, no vale do Jordão, cidade bem organizada economicamente, cidade fértil, rica em palmeiras, uma cidade oásis ao lado do Rio Jordão. Jesus com os discípulos descera pelo vale do Jordão para chegar em Jerusalém, onde daria sua vida para nossa redenção. Jesus em Jericó faz recordar que quando os hebreus saíram da terra santa conduzidos por Josué entram em Israel para Jerusalém passam por Jericó. Também em Jericó no encontro com Jesus, Zaqueu, cobrador de impostos se converteu.
Apareceu aqui um cego, que o evangelista Marcos recorda seu nome Bartimeu, ou seja o filho de Timeu. Era cego e mendigo. Como cego era considerado impuro, amaldiçoado, não podia estudar a Torá, a Lei de Deus. Como mendigo era considerado um nada, um descartável, sentado à beira do caminho, certamente esmolava já que por ali passavam muitos peregrinos que iam para Jerusalém. Sem ver, vivia na escuridão e experimentava em sua vida a exclusão e marginalização. Tinha apenas uma capa que lhe servia de apoio como travesseiro, colocava entre as pernas para pedir. Estava ali perdido, sem esperança, sem sonhos.
A esperança do Bartimeu renasce quando ouviu falar que Jesus estava ali, que estava passando. Ele não pensa duas vezes e grita: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim”. Chama Jesus, Deus salva, com um título messiânico, Filho de Davi. Título messiânico, aquele cego outrora imóvel e desiludido vê em Jesus, o Messias que poderia o libertar de toda humilhação.
Diz o Evangelho que muitos judeus ali o repreendiam para que ele se calasse. Não queriam que ele gritasse e chamasse Jesus de Filho de Davi. Muitas vozes se uniram para calar sua voz, sua sede de cura, de salvação, sua fome de esperança. Todavia, o cego grita mais forte.
Será que também nós muitas vezes em nossas vidas não deveríamos clamar para Jesus com toda esta energia. “Jesus, Filho de Davi tem piedade de mim, de nós, da Igreja, da humanidade?
Jesus escutou o grito de esperança e manda chamá-lo.
Por três vezes aparece o verbo chamar.
Jesus parou e disse: Chamai-o.
Eles o chamaram e disseram: “Coragem, levanta-te, Jesus te chama!
Que profundo, irmãs e irmãs! Além de o chamarem, eles convidam ao cego a ter coragem.+
Jesus o chama e o chamado de Jesus se concretiza na pessoa daqueles que foram chamar o cego. Ainda hoje é assim. Jesus continua, chamando a cada ser humano para segui-lo e amá-lo, e sua voz chega aos corações por meio da comunidade, por meio de cada irmão e irmã que sabe que é missionária do Reino, que busca evangelizar, que busca ser Igreja em saída, que busca sair das sacristias e ir a ao encontro do outro, sobretudo dos mais pobres.
Diante do chamado de Jesus, aquele cego recobra o entusiasmo, ele dá um pulo como se ressuscitasse, revigora suas forças, joga o manto, sinal de apoio e segurança, deixa tudo e vai encontrar Jesus.
Agora vem a pergunta fundamental que Jesus fez ao cego Bartimeu e faz a mim e a você: “O que queres que eu faça?”.
O Cego usa um outro título importante na caminhada de Jesus, que realça a sua autoridade: “Mestre, que eu veja!”.
Jesus disse: “Vai, a tua fé te curou”.
No mesmo instante, ele recuperou a vista e seguia Jesus pelo caminho”.
Irmãs e irmãos em Cristo.
No nosso cotidiano, nas nossas lutas, labutas, angústias, ansiedades, doenças, quando tudo parece sem saída, sem esperança, tudo parece desmoronar. Jesus também nos pergunta: O que queres que eu faça? Jesus dialoga conosco e quer que participemos do processo de mudança e conversão e que a nossa resposta seja esta: “Que eu veja”. Que eu ame, que eu seja bom, que eu ore, que acolha mais os pobres e os últimos do Reino. Que eu consiga sair das minhas trevas interiores: vícios, ódio, maldade, impureza, falsidade. E a cura acontece sempre por meio da fé em Jesus Cristo, morto e ressuscitado.
Jesus disse ao cego. Vai, a tua fé te salvou.
Como vai a nossa fé? A nossa confiança em Cristo? O nosso abandono?
Jesus de Nazaré realiza este sinal de poder, o milagre como consequência da fé de Bartimeu, que recuperou a vista, onde se sentiu perdoado onde se sentiu amado e começou a seguir Jesus pelo caminho estreito do Reino de Deus, tornando-se também ele um seguidor, um discípulo de Jesus. Todavia não mais mergulhado nas trevas interiores, mas alcançado pela luz verdadeira que é o próprio Cristo.
A pior cegueira não é a cegueira física, ou a pior doença não é o câncer. A pior cegueira é viver à margem do caminho longe de Jesus e do seu Evangelho, a maior doença não é a física, mesmo que grave, mas nos tornarmos escravos do ódio e se viver como ímpio nas trevas do pecado. Como comunidade cristã podemos pedir a Jesus hoje nesta Missa: “Senhor Jesus que eu veja de novo, que eu caminhe contigo, que eu seja curado, que como comunidade cristã realmente o sigamos, o amemos, o adoremos, o proclamemos não somente Filho de Davi, mas Filho do Deus vivo, nosso salvador e caminhemos como irmãos conduzindo outros e outras a encontrarem Jesus Caminho, verdade e vida e nunca deixarmos o verdadeiro caminho unidos a Cristo e à Igreja, nossa Mãe. Querer ver Jesus ainda hoje não só na Palavra ou na Divina Eucaristia, mas também vê-lo por meio da oração e vê-lo nos pobres, viúvas, cegos, doentes, encarcerados, sacizeiros, desempregados. Em cada ser humano devemos ver Jesus. Que a nossa fé em Jesus Cristo nos faça livres da nossa cegueira interior e sigamos Jesus pelo caminho rumo ao Reino definitivo.
 
								 
													 
								 
								 
								 
								
 
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