Confira o Evangelho do 32º Domingo do Tempo Comum (10 de novembro) e a homilia preparada pelo padre Márcio Augusto Silva de Souza, do clero da Arquidiocese de São Salvador da Bahia – atualmente residente em Roma:
Evangelho (Mc 12,38-44)
— Aleluia, Aleluia, Aleluia.
— Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Marcos
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 38 Jesus dizia, no seu ensinamento a uma grande multidão: “Tomai cuidado com os doutores da Lei! Eles gostam de andar com roupas vistosas, de ser cumprimentados nas praças públicas; 39 gostam das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos melhores lugares nos banquetes. 40 Eles devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Por isso eles receberão a pior condenação”. 41 Jesus estava sentado no Templo, diante do cofre das esmolas, e observava como a multidão depositava suas moedas no cofre. Muitos ricos depositavam grandes quantias. 42 Então chegou uma pobre viúva que deu duas pequenas moedas, que não valiam quase nada. 43 Jesus chamou os discípulos e disse: “Em verdade vos digo, esta pobre viúva deu mais do que todos os outros que ofereceram esmolas. 44 Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver”.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
Reflexão:

Celebramos o trigésimo segundo domingo do tempo comum e a Igreja nos propõe a famosa notícia da viúva que ofereceu suas duas moedas, tudo o que tinha para viver. Esta cena é introduzida pela exortação: Cuidado com os doutores da Lei, que gostam de exibições e que se permitem extorquir os mais vulneráveis. Trata-se, portanto, de mais uma passagem bíblica que desvela nossos corações e, ao mesmo tempo, nos propõe um exame de consciência que nos impulsiona à mudança de vida.
Deste Evangelho, gostaria de sublinhar o seguinte aspecto: quando Jesus descreve o lugar preferencial dos doutores da lei, diz: praças públicas, sinagogas e banquetes. Quanto à viúva, Jesus apresenta uma palavra “abstrata”, dizendo: “Enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver” (v. 44). Os lugares favoritos dos escribas expunham seus corações corrompidos e revelavam uma busca incessante por reconhecimento e poder, desvirtuando a verdadeira essência da missão que exerciam.
No que diz respeito à pobreza, Papa Francisco, comentando as Bem-Aventuranças na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate (n. 70) recorda-nos que no texto de São Lucas (6,20) está escrito apenas “Felizes os pobres” e afirma que o evangelista está “convidando-nos assim a uma vida também austera e essencial. Desta forma, chama-nos a compartilhar a vida dos mais necessitados, a vida que levaram os Apóstolos e, em última análise, a configurar-nos a Jesus, que, «sendo rico, Se fez pobre» (2 Cor 8, 9).
Por isso, entendo que a circunstância em que a viúva se encontrava é sublinhada para que nós, leitores, compreendamos a tensão existente na cena entre os que depositavam grandes quantias, os ricos, e aquela viúva que, no seu estado de pobreza, doou tudo, oferecendo mais do que aqueles que tinham de sobra (cf. v. 44). Aqui, então, folheando as próximas páginas do texto sagrado, podemos nos recordar daquele que doou tudo para (fazer-nos) viver: o próprio Senhor Jesus Cristo.
A incoerência de vida sempre foi alvo da condenação de Jesus. Hoje, portanto, com a proclamação desta Boa Nova, toda a Igreja é convidada a revisar sua consciência, avaliando seu modo de viver para que possa (re)assumir seu propósito de cuidar dos que mais necessitam. Enfim, chamada a se distanciar da ganância, das vaidades e outras hipocrisias, a comunidade cristã possa doar-se inteiramente, de maneira livre, fiel e generosa, à causa do Evangelho.



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