Confira o Evangelho do 26º Domingo do Tempo Comum (29 de setembro) e a homilia preparada pelo padre Elísio Serpa Pereira, sacerdote do clero da Arquidiocese de São Salvador da Bahia, com residência no Pontifício Colégio Pio Brasileiro (estudos de pós-graduação):
Evangelho (Mc 9,38-43.45.47-48)
— Aleluia, Aleluia, Aleluia.
— Vossa palavra é verdade, orienta e dá vigor; na verdade santifica vosso povo, ó Senhor!
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Marcos
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 38 João disse a Jesus: “Mestre, vimos um homem expulsar demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele não nos segue”. 39 Jesus disse: “Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim. 40 Quem não é contra nós é a nosso favor. 41 Em verdade eu vos digo: quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa. 42 E, se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço. 43 Se tua mão te leva a pecar, corta-a! É melhor entrar na Vida sem uma das mãos, do que, tendo as duas, ir para o inferno, para o fogo que nunca se apaga. 45 Se teu pé te leva a pecar, corta-o! É melhor entrar na Vida sem um dos pés, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno. 47 Se teu olho te leva a pecar, arranca-o! É melhor entrar no Reino de Deus com um olho só, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno, 48 ‘onde o verme deles não morre, e o fogo não se apaga'”.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.

Reflexão
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! Para sempre seja louvado e a nossa Mãe, Maria Santíssima.
Durante todo o mês de setembro, enquanto Igreja no Brasil, tivemos a oportunidade de meditar e refletir sobre o livro do Profeta Ezequiel e o seu atual convite à mudança das posturas e do coração, buscando estar sempre abertos à ação do Santo Espírito de Deus, pois o Senhor nos oferta a Sua palavra “porei em vós meu espírito, e vivereis […]” (cf. Ez 37,14)”. Neste último domingo do mês, somos convidados a deixar-nos guiar pela Palavra do Senhor, assumindo um compromisso comunitário de conversão e fraternidade, no auxílio mútuo na luta contra o pecado, testemunhando a Misericórdia infinita de Deus.
Na primeira leitura, ouvimos o Senhor que fala a Moisés e partilha dos seus dons; aqueles que recebem o dom – o Espírito – se põem a profetizar, ou seja, anunciar as maravilhas de Deus e denunciar as injustiças presentes. A leitura é concluída com o desejo de Moisés de que todos assumissem uma atitude profética acolhendo o “espírito do Senhor”. Deus continua a falar também a nós; o Senhor se dirige a cada um de modo especial e nós, a partir da experiência pessoal com Deus, podemos assumir uma nova postura, sendo sinal de esperança para toda a comunidade, não nos fechando, mas, nos abrindo, sempre mais, ao novo de Deus. Sobre a necessidade de sermos profetas na vida da comunidade, o Papa Francisco nos recorda:
“A Igreja tem necessidade de que todos nós sejamos profetas”, isto é, “homens de esperança”, sempre “diretos” e nunca “tíbios” […] não é um anunciador de “desventuras” nem “um juiz crítico”, nem sequer “um recriminador de profissão” […] um cristão que “repreende quando é necessário”, sempre “abrindo as portas de par em par” e pondo em risco pessoalmente inclusive “a pele” pela “verdade” e para “restabelecer as raízes e a pertença ao povo de Deus”[1].
Iluminados pela palavra do Santo Padre, somos colocados diante de uma bonita dimensão da profecia: o cuidado com a vida e com o caminho do outro; cuidado este que ganha maior destaque na leitura do quinto e último capítulo da carta de São Tiago. O apóstolo nos faz um necessário alerta sobre a injustiça que, também nós, podemos cometer e, para a injustiça cometida, a justa recompensa. O apóstolo não questiona o fato do “possuir os bens”, e sim o modo de fazer uso deles, reclamando, deste modo, a desonestidade de alguns que se apoiam no acúmulo das riquezas.
Somos convidados, então, a fazer um bom uso dos dons/bens que recebemos da bondade de Deus; por primeiro, reconhecendo-os – aqui vale a pergunta: quais os dons/bens o Senhor me concedeu? –; depois, colocando-os à serviço, na promoção da caridade fraterna, lutando contra tudo o que favorece a ferida das injustiças sociais. Deus nos criou para a vida e para a vida feliz, os problemas e as desigualdades sociais, que tantas vezes experimentamos, são consequência do pecado que se manifesta em nossas escolhas diárias; por isso, o salmista nos convida a proclamar: “a Lei do Senhor Deus é perfeita, alegria ao coração – coragem, perseverança e confiança no Senhor que cuida de nós e, aos que n’Ele confiam, não deixa faltar nada” (cf. Sl18).
A partir das leituras, que nos convidam a uma reavaliação e conversão de vida, somos colocados diante das Palavras do Evangelho, quando escutamos a narrativa segundo São Marcos. Nos versículos que ouvimos, Jesus ensina aos discípulos, e a nós hoje, a universalidade e a importância que tem a mensagem da salvação. Na comunidade, que é sempre composta pela riqueza da ação do Espírito, temos a feliz oportunidade de experimentar a fecundidade dos dons, de modo visível, nos diversos grupos, pastorais, movimentos, serviços e Novas Comunidades; e cada um, com a sua espiritualidade e dinâmica própria, pode colaborar com o anúncio do Reino, comprometido com a vida eclesial. Para tanto, é necessário que vençamos, em nós, o perigo e o pecado do fechamento individualista, que julga e exclui, gerando dor ao corpo de Cristo que é a Igreja. Meditando sobre esta realidade, nos diz Bento XVI: “também no interior da própria Igreja, às vezes pode acontecer que haja dificuldade de valorizar e apreciar, num espírito de profunda comunhão, as coisas boas realizadas pelas várias realidades eclesiais. No entanto, todos nós devemos ser sempre capazes de nos apreciarmos e estimarmos reciprocamente […]”[2].
Assim, para que Jesus seja ainda mais amado e conhecido, é preciso que todos nós estejamos comprometidos, fazendo o esforço para ofertar o nosso melhor a cada dia, conscientes das nossas próprias limitações e das renúncias que somos chamados a realizar, pois o nosso objetivo é único: “entrar no Reino de Deus”. Que a Virgem Maria, porta do céu, nos ensine a caminhar como discípulos. E, neste dia, peçamos juntos que o Arcanjo São Miguel nos ajude a escolher o essencial e a viver na presença de Deus. São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate. Cobri-nos com o vosso escudo contra os embustes e ciladas do demônio. Subjugue-o Deus, instantemente, o pedimos; e vós, príncipe da milícia celeste, pelo divino poder, precipitai no inferno Satanás e os outros espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas. Amém!
[1] Cf. https://www.vatican.va/content/francesco/pt/cotidie/2018/documents/papa-francesco-cotidie_20180417_profetas-igreja.html.
[2] Cf. https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/angelus/2012/documents/hf_ben-xvi_ang_20120930.html.



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