Cardeal Dom Sergio da Rocha
Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil
A festa tão querida do Senhor do Bonfim, em Salvador, neste ano, insere-se nas comemorações dos 270 anos da Igreja do Bonfim, símbolo extraordinário da cultura e da fé do povo baiano. A festa genuinamente baiana, com a tradicional novena e a caminhada no dia da tradicional lavagem do adro da Basílica Santuário, tem conservado o seu significado cultural e religioso em meio às mudanças profundas no cenário sociocultural brasileiro, levando multidões às ruas em direção à colina sagrada.
A venerada imagem do Senhor Bom Jesus do Bonfim, réplica da existente em Setúbal, Portugal, foi trazida em 18 de abril de 1745, um domingo de Páscoa, e abrigada na igreja da Penha até o final da construção da igreja do Senhor do Bonfim. No dia 24 de junho de 1754, portanto, há 270 anos, com a finalização das obras internas da igreja, as imagens do Senhor do Bonfim e de Nossa Senhora da Guia foram transferidas da igreja da Penha à colina do Bonfim, numa festiva procissão com grande participação popular. As obras foram concluídas em 1772, com o término da construção das torres. A partir de 1773, a festa litúrgica do Bonfim passou a ser celebrada no segundo domingo de janeiro, com a autorização do arcebispo Dom Sebastião Monteiro da Vide. Em 1927, a igreja do Bonfim foi elevada à Basílica pelo Papa Pio XI. Foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e Cultural (IPHAN) em 17 de junho de 1938. A festa do Senhor do Bonfim, pela sua extraordinária importância cultural, foi reconhecida como Patrimônio Imaterial do Brasil, pelo IPHAN, tendo sido entregue este título em 15 de janeiro de 2014.
Os 270 anos da igreja do Senhor do Bonfim tornam-se uma ocasião privilegiada para fazer memória da sua rica e bela história, para valorizar sempre mais o belo santuário e a festa do Bonfim e fortalecer a devoção tão querida entre os baianos e propagada em todo o Brasil. Para tanto, tem sido de especial importância o dedicado empenho da Devoção ao Senhor Bom Jesus do Bonfim e do reitor da Basílica Santuário, contando com a participação incansável de inúmeros devotos.
“Desta sagrada colina, mansão da misericórdia” cantam os devotos do Senhor Bom Jesus do Bonfim, conforme a letra do seu hino mais popular, reconhecendo a Basílica Santuário como a “mansão da misericórdia”. A misericórdia se manifesta na solidariedade com os sofredores, na partilha com os pobres, no serviço aos doentes, no perdão e na reconciliação. Num mundo marcado por tanta agressividade e violência, a misericórdia torna-se ainda mais necessária como caminho de paz. A sagrada colina é lugar para se elevar as mãos em oração e estendê-las fraternalmente aos irmãos. Conforme o tema da festa deste ano 2024, “com Jesus, o amado Senhor do Bonfim, aprendemos a caminhar juntos como irmãos”.
*Artigo publicado no jornal A Tarde, em 14 de janeiro de 2024.



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