Por Emanuel de Souza Amaral Souto
Fundador da Rede Missionária de Caridade
Advogado, Catequista e membro do Movimento Pró-Vida
O que fundamenta o chamado missionário, do ponto de vista cristão católico, é o dia do Batismo. Imersos no Espírito Santo simbolizado pelas águas batismais, na infância ou na idade adulta, homens e mulheres são consagrados a Deus, recebem os sete dons e, desde já, são enviados em missão – sobretudo, para amar a Deus sobre todas as coisas e, ao próximo, como a si mesmos.
Nesta perspectiva, tenho em meu coração o entendimento de que ser um missionário é algo extremamente simples, pois Jesus Cristo, o verdadeiro e único Missionário, cultivava estratégias simples. Reconheço, porém, que os seus três anos de vida pública vieram após uma longa preparação – os dezoito anos de vida oculta (desde o desaparecimento no templo) – em cujo período Jesus viveu o silêncio, a oração e o trabalho.
Com efeito, o kayrós (tempo de Deus) determina precisamente a manifestação da graça na vida de uma pessoa, o que pode ser rápido ou demorado, do ponto de vista cronológico. No caso da baiana Santa Dulce, foi desde criança, quando já se sentia impelida ao cuidado com os pobres. Com Santo Agostinho, a conversão ocorreu na casa dos trinta. Porém, ambos alcançaram níveis excelentes de santidade.
Quero dizer, com isto, que para amar e servir a Deus, mais importa a disposição do coração de cada um, do que a própria história de vida. Mais relevante é o cego impulso de amor, do que a quantidade de experiência acumulada ou o tempo de preparação.
A doutrina da infância espiritual, apregoada pela mestra e padroeira dos missionários – Santa Teresinha – trata do cultivo da confiança e do abandono nas mãos do Pai. Por esta doutrina, uma alma madura se faz pequena para viver o desapego, como criança.
É necessário, contudo, sair do berçário da vida espiritual – evitando-se um “espiritualismo” de bebê, totalmente focado no “eu” – cuja tentação torna o missionário incapaz para o sacrifício. Esta não é a infância espiritual teresiana. Antes, assemelha-se a uma visão deturpada da vida espiritual.
O ato de sacrificar-se pressupõe maturidade e é um dos requisitos para ser um missionário, conforme as exigências do Batismo. Porém, quem faz a missão é o próprio Deus, por meio de nós, seus frágeis instrumentos. Para ser instrumento, é preciso sair do “berçário”.
A atividade missionária, quando desprendida de si mesma para amar a Deus e ao próximo, certamente servirá para virar esta chave, dando acesso a uma vida menos autocentrada e, por isto, mais feliz e madura.
Certamente, havendo intenção reta, uma boa dose de entusiasmo e docilidade ao Espírito Santo, já é possível operar verdadeiros milagres. Repito: porque viver o plano de Deus – fazer missão – é algo verdadeiramente simples. Resume-se a um transbordamento da vida interior.


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